jueves, 27 de marzo de 2014

PETROBRAS SE AGRANDARÍA


Astra ofereceu Pasadena à Petrobras um mês depois de comprar refinaria
Belgas propuseram a Nestor Cerveró parceria na unidade em 2005
DANIELLE NOGUEIRA, NICE DE PAULA, HENRIQUE GOMES BATISTA, RAMONA ORDOÑEZ E BRUNO ROSA )
Centro da polêmica: a refinaria Pasadena, da Petrobras, nos EUA Agência Petrobras
RIO E BRASÍLIA - Um mês após comprar a refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), da americana Crown Central Petroleum Corporation, a empresa belga Astra Oil ofereceu à Petrobras uma parceria no negócio, num indício de que pretendia passá-lo adiante. Carta assinada pelo então vice-presidente da Astra Oil, Alberto Feilhaber, propunha uma parceria com a estatal na refinaria.
A carta, à qual o GLOBO teve acesso – de 23 de fevereiro de 2005 – é endereçada a Nestor Cerveró, então diretor da Área Internacional da Petrobras. A Astra Oil comprou a refinaria de Pasadena em janeiro de 2005 por US$ 42,5 milhões. Ela investiu outros US$ 84 milhões no empreendimento.
Na carta, Feilhaber diz que, “após cuidadosa análise do Plano Estratégico da Petrobras para 2015 e considerando a forte e longa presença da Astra nos mercados americanos de petróleo, acrescida da compra de Pasadena (...), identificamos oportunidades de negócios que nossas companhias poderiam explorar e desenvolver em base conjunta”.
O executivo sugere que a parceria poderia ajudar a Petrobras a atingir metas definidas no plano estratégico, como expandir e diversificar a presença da estatal no refino; adicionar valor ao petróleo pesado de Marlim (campo da Bacia de Campos) e introduzir a Petrobras no mercado internacional de derivados. No fim, pede para que uma reunião seja marcada com Cerveró.
Feilhaber tinha livre trânsito na Petrobras, onde trabalhou por 12 anos (de 1983 a 1995), chegando a ocupar o cargo de chefe do Departamento Comercial. Engenheiro pela PUC-Rio, ainda trabalha na sede da Astra Transcor Energy nos EUA, em Huntington Beach, na Califórnia. Ontem, O GLOBO deixou recado na caixa postal de seu telefone na sede da empresa, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
A carta de Feilhaber foi o pontapé das negociações. Segundo documento interno da Petrobras anexado a um processo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que investigou a compra da Pasadena, a intenção inicial da Petrobras era comprar 100% da refinaria. A oferta foi feita em agosto de 2005. Mas a Astra fez uma contraproposta em setembro daquele ano, oferecendo a venda de apenas 70% da refinaria.
“Face à dificuldade de conciliar a participação minoritária da Astra com sua exigência de participação igualitária na governança das empresas, ficou acordado que reduziríamos a participação da Petrobras para 50%”, diz o documento. As empresas em questão eram a PSRI, detentora dos ativos de Pasadena, e a PRSI Trading Company, que ainda seria criada e que deteria os direitos de comercialização dos produtos processados na refinaria.
Em novembro de 2005, a Petrobras e a Astra assinaram o memorando de entendimentos para a compra de Pasadena, que culminou com a aquisição de 50% da empresa em fevereiro de 2006 por US$ 190 milhões. A Petrobras ainda pagou outros US$ 170 milhões por parte do estoque da refinaria.
Comissão vai apurar envolvimento de executivo
Em 2008, após o desentendimento entre os sócios, a Petrobras teve de comprar os 50% restantes, elevando o preço da aquisição a US$ 1,2 bilhão, depois de levar a discussão a uma câmara de arbitragem. Documentos internos da Petrobras, elaborados pela área jurídica em 2008, mostram forte descontentamento com a Astra.
O texto diz que a empresa visava “basicamente a alavancar suas atividades comerciais, sempre voltadas para os objetivos de curto prazo”, e que estaria distante dos valores e diretrizes da Petrobras. “Os problemas da sociedade também ficaram evidentes no âmbito da governança corporativa, devido aos constantes atrasos pela Astra na transferência de gestão financeira”, diz a nota.
“No lado operacional, o foco da Astra em confiabilidade das instalações revelou-se voltado à manutenção reativa a problemas observados, minimizando custos de curto prazo e sem plano organizado de otimização de resultados das instalações a médio e longo prazos”, diz o documento, lembrando que Pasadena exibia baixo fator operacional e resultados de segurança piores que os das refinarias da Petrobras e da média do setor nos EUA.
O envolvimento de Feilhaber é um dos assuntos que serão avaliados pela comissão interna, criada na segunda-feira pela Petrobras. Em entrevista ao GLOBO, Graça Foster disse não conhecer o executivo.
Analistas lembram que o projeto de internacionalização da estatal começou nos anos 2000. David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), lembra que foi nessa época que a companhia começou a comprar ativos no exterior, como na América Latina e África.
Cerveró é apontado como o autor do resumo executivo apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras em 2006, que embasou a aprovação do negócio. Ele foi exonerado do cargo que ocupava da diretoria da BR Distribuidora na semana passada, após a presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho da Petrobras à época, ter dito que desconhecia cláusulas polêmicas do contrato.
O relacionamento da Astra com o Brasil não se limita ao negócio com a Petrobras. O bilionário dono da empresa, o barão Albert Frére, é vice-presidente do conselho da francesa GDF Suez, que em 2011 se associou à Tractebel Energia – com atuação em vários ativos do setor elétrico no país. A GDF Suez também controla a usina de Jirau, em construção no Rio Madeira.
Em 2010, a empresa apoiou a candidatura da presidente Dilma Rousseff com R$ 1 milhão e ofereceu R$ 550 mil ao PT. A Tractebel também apoiou a campanha de José Serra pelo PSDB com R$ 500 mil.
* Colaborou Danilo Fariello
Tomado de o glo de br 

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