domingo, 16 de noviembre de 2014

LAMA (BARRO) EN LA PLAYA DE CASINO RGS BR la razón geográfica


 Razão geográfica da lama na praia do Cassino
Google Earth  Imagem de satélite Eurípedes Falcão Vieira*Ao longo de todo o litoral do Rio Grande do Sul – Torres/Chuí – a Barra do Rio Grande é o maior evento físico da dialética geográfica sedimentar. A Barra do Rio Grande desencadeia grande potencial energético na interação entre dois ambientes naturais: estuário da laguna dos Patos e oceano contíguo. O acontecimento natural entre os dois ambientes produz movimentos de energia recorrente. “Pode-se tomar a energia seminal do acontecimento como causa e ter energias em sequência nos efeitos. A condição de causa e efeito é reversível em todos os acontecimentos geográficos, porém a cada transformação uma nova fonte de energia se desencadeia, mudando, permanentemente, o modelado das paisagens naturais”, em Vieira (2014:7). Na presente atualidade, a extensão litorânea do Rio Grande do Sul tem uma conformação sedimentar configurada em extensas praias, segmentadas, em vários trechos, por alinhamentos de acumulados arenosos tipo dunas. Há algumas interrupções na continuidade praial, mas de pequeno porte, por onde se processa o escoamento de correntes fluviais ou de arroios. Mesmo assim, lançam no oceano, permanentemente, um volume hídrico-sedimentar compatível com suas escalas de grandeza. Na evolução das barreiras-restingas do litoral sul brasileiro, configura-se um complexo lagunar e lacustre no qual são destaques pelo dimensionamento a laguna dos Patos e a lagoa Mirim. Essas duas grandes lâminas d’água, interconectadas, formam uma área estuarina. “O estuário da laguna dos Patos se define a partir do canal de acesso da corrente hidrossedimentar de origem continental (corrente de vazante) no oceano e, na reversão, de entrada da corrente de maré salina atlântica. A realidade geográfica do estuário da laguna dos Patos é uma interação entre a dinâmica de sedimentação, o sistema de forças que se estabelece nos formatos hidrográficos envolvidos e o campo energético oceânico costeiro”, em Vieira (2013:113-114). O potencial de descarga hidrossedimentar do estuário para o oceano Atlântico via Barra do Rio Grande depende do volume de precipitações pluviométricas nas bacias hidrográficas que se direcionam para leste – inclinação da base do relevo - cerca de 75% de toda rede hidrográfica do Rio Grande do Sul. Na imagem de satélite abaixo (Fig. 1) tem-se o delineamento do estuário da laguna dos Patos, suas feições emersas, entornos de vasa e corrente de vazante para o oceano.      Fig. 1. Imagem de satélite. Google Earth.  Pela imagem acima se pode ter nítida percepção da complexidade da composição da corrente de vazante no trânsito pelo estuário da laguna dos Patos e saída na embocadura com o oceano Atlântico. Os molhes projetam o fluxo hidrossedimentar a pouco mais de 4 km, mudando a distribuição dos sedimentos em função do redirecionamento das correntes mais próximas à costa e inclinação no movimento das ondas. Nesse sentido, tem fundamental importância o anticiclone do Atlântico situado pouco acima da latitude da Barra, gerador de correntes de ar de nordeste, principalmente. Há, portanto, um sistema de eventos  na geografia física local, tomando uma área de ocorrência, no caso a interconexão estuário/oceano. A partir do molhe oeste forma-se uma zona de decantação de sedimentos mais acentuada, influindo, inclusive na deriva litorânea para o sul. A periodicidade da presença de lama na praia do Cassino, acentuadamente do molhe oeste até cerca de 10/15 km para o sul, é resultante da conformação estuarina no compartimento final do maior sistema lagunar/lacustre do litoral brasileiro. A recorrência das deposições de vasa passou a ter escala crescente após a conclusão dos molhes em 1914 e o aprofundamento do canal da Barra de 10m inicialmente, para 12 e 14 m. Com maior profundidade, o canal passou a escoar um volume hidrossedimentar maior. Uma carta náutica de 1775 (Biblioteca Rio-Grandense) mostra um grande e alongado banco de areia na embocadura. As antigas caravelas o contornavam e por um estreito canal, junto à praia do Cassino, entravam num canal de pouco mais de 4 metros.  Na década de 1950, já há registros na imprensa local de leves camadas de barro depositadas na praia do Cassino. Em 1984, no livro Geografia Física e Vegetação do RS, escrevi: “Periodicamente, quando ondas de maior envergadura se tornam dissimétricas ao contato com o fundo, acabam por provocar correntes de levantamento das vasas, lançando-as sobre a praia. O fenômeno é conhecido como “barro da praia” ou depósitos lamíticos”.  Em outro livro Planície Costeia do Rio Grande do Sul (1988), também estudei e analisei a ocorrência de lama na praia do Cassino.  Os grandes volumes pluviométricos nas bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul e Uruguai, acumulados superiores a 1.300 mm anuais, chegando a picos de mais de 1.700 mm, provocam vazões excepcionais (22.0000 m3/s), vazões normais a máximas entre 8.000/14.000 m3/s). Assim, nessa condição sistêmica do acontecimento sedimentar costeiro - erosão continental, pluviosidade, transporte da carga hidrossedimentar, sedimentação e energia oceânica – o estuário e o canal da Barra do Rio Grande têm a primazia sobre o evento natural que tanto preocupa a comunidade rio-grandina. A imagem abaixo (Fig.2), complemento, mostra a colossal massa hidrossedimentar se aproximando da saída do estuário da Prata no oceano Atlântico. São 50 milhões de m3/ano de sedimentos (argilas e outros) originários de várias estruturas geológicas da América do Sul, destacando-se, em particular o Pantanal do Mato Grosso. Os dois estuários são, portanto, as principais fontes atuais no processo de acumulação sedimentar (sedimentos finos e lama) na plataforma continental ao longo do litoral do Rio Grande do Sul, particularmente, em áreas delimitadas da estrutura de base da plataforma continental até uma extensão de 200 km. 
 *Doutor em Geografia e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Livros do autor referenciados: 1. Geografia Física do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Sagra, 1984. 2. Planície Costeira do Rio Grande do Sul (coautoria: Susana Salum Rangel). Porto Alegre, Sagra, 1988. 3. Geografia da Bacia Sedimentar Atlântica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Edigal, 2013. 4. Dialética do Acontecimento Geográfico. Curitiba, CRV, 2014. Tomado de agora de rgs br 

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