Cada um desses produtos possui particularidades sobre as tecnologias utilizadas, o mecanismo de ação e o tempo de intervalo entre as doses
André Biernath - Da BBC News Brasil em São Paulo
Até o momento, cerca de 22 milhões de brasileiros receberam
as duas doses de alguma vacina que protege contra a covid-19Getty Images
Na noite da última sexta-feira (4/6), a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) deu sinal positivo para o uso de mais duas
vacinas contra a covid-19 no Brasil: a russa Sputnik V e a indiana Covaxin.
Embora a entidade tenha liberado apenas a importação de
alguns lotes desses dois imunizantes, que deverão obedecer a critérios bastante
restritos, o fato é que a partir das próximas semanas o país poderá contar com
seis produtos diferentes em seu programa nacional de vacinação.
- Brasil
e outros 51 países encomendaram vacinas antes da aprovação de 'Anvisas'
- O
que muda na vacinação do Brasil com decisão da Anvisa sobre Covaxin e
Sputnik
Além dos dois mencionados, os brasileiros já recebem desde
janeiro de 2021 as doses da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e da AZD1222
(AstraZeneca/Universidade de Oxford/FioCruz).
Em fevereiro, foi a vez da Cominarty (Pfizer/BioNTech) ganhar a aprovação da Anvisa. Mas as primeiras remessas dela só foram chegar ao Brasil no final de abril, após semanas de discussão entre as farmacêuticas e o Governo Federal sobre as cláusulas do contrato de venda e compra.
Outra vacina que já pode ser aplicada no país é a
Ad26.COV2.S, da Janssen. A entrega das primeiras 3 milhões de doses está
agendada para acontecer ainda em junho, segundo uma informação divulgada
recentemente pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
É curioso notar que cada um desses produtos possui
particularidades sobre as tecnologias utilizadas, o mecanismo de ação e o tempo
de intervalo entre as doses.
A BBC News Brasil resumiu essas características e apresenta
a seguir as principais diferenças entre os imunizantes que já são usados e
aqueles que devem desembarcar por aqui nas próximas semanas:
CoronaVac
Getty ImagesA CoronaVac foi a primeira vacina contra a
covid-19 a ser usada no Brasil
Fabricantes: Sinovac (China) e Instituto
Butantan (Brasil).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado.
Essa é uma das técnicas mais antigas e conhecidas na
produção de vacinas: os cientistas usaram o próprio Sars-CoV-2, o coronavírus
responsável pela pandemia atual, para desenvolver a CoronaVac.
O agente infeccioso passa por uma série de processos
químicos e físicos em laboratório para ser inativado. Isso significa que não há
chance alguma de ele provocar a doença quando introduzido no nosso corpo.
Após a aplicação, o sistema imune reconhece as partículas
virais e gera anticorpos contra elas.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de
2021.
Tipo de aprovação: Emergencial.
Isso significa que novos estudos e documentos precisarão ser
enviados à Anvisa para comprovarem que o imunizante funciona em longo prazo e o
pedido de registro definitivo seja aprovado futuramente.
Quantidade de doses necessárias: Duas.
Intervalo entre as doses: de 14 a 28 dias.
Armazenamento: Refrigeração normal em geladeira.
Taxa de eficácia: 50%.
Dados divulgados na última semana pelo Governo do Estado de
São Paulo revelaram que a efetividade da CoronaVac no mundo real é bem maior
que a porcentagem de eficácia obtida nos testes clínicos: após imunizar 95% da
população adulta da cidade de Serrana, no interior paulista, os cientistas
observaram uma redução de 95% das mortes, 86% das internações e 80% dos casos
de covid-19 no município.
Lugares em que está aprovada ou há previsão de uso: China,
Indonésia, Turquia, Chile e outros 22 países/territórios/blocos econômicos.
Há mais de 897 milhões de doses da CoronaVac encomendadas
pelo mundo para os próximos meses.
Recentemente, a
Organização Mundial da Saúde também deu aprovação emergencial ao
produto da farmacêutica Sinovac.
AZD1222
Getty ImagesA AZD1222 é uma das vacinas mais utilizadas na
União Europeia, no Reino Unido e no Brasil
Fabricantes: AstraZeneca (Inglaterra/Suécia),
Universidade de Oxford (Inglaterra) e Fundação Oswaldo Cruz (Brasil).
Essa vacina também é conhecida como Vaxzevria e CoviShield.
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante.
Os desenvolvedores selecionaram um adenovírus, que não
provoca nenhum tipo de doença em seres humanos. Daí eles colocaram dentro dele
algumas informações genéticas do coronavírus.
Nosso corpo reconhece esses pedacinhos do genoma viral e,
após uma série de processos, consegue criar uma resposta imune.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de
2021.
Tipo de aprovação: Definitiva.
Após liberação emergencial em janeiro, a Anvisa concedeu o registro
definitivo para a AZD1222 em 12 de março de 2021.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: Três meses.
Armazenamento: Refrigeração normal em geladeira.
Taxa de eficácia: 76%.
Lugares em que está aprovada ou há previsão de uso: União
Europeia, Reino Unido, Japão, Canadá e outros 42 países/territórios/blocos
econômicos.
Há mais de 2,6 bilhões de doses da AZD1222 encomendadas pelo
mundo para os próximos meses.
Cominarty
Getty ImagesO produto desenvolvido por Pfizer e BioNTech
utiliza a tecnologia de mRNA, uma das mais modernas
Fabricantes: Pfizer (Estados Unidos) e BioNTech
(Alemanha).
Tipo de tecnologia: mRNA.
Essa é uma das plataformas mais modernas e inovadoras. As
vacinas de Pfizer/BioNTech trazem um pequeno código genético que instrui as
células de nosso próprio corpo a produzirem moléculas parecidas com o
coronavírus.
O sistema imune então reconhece essas partículas e
desenvolve os anticorpos necessários.
Data de aprovação pela Anvisa: 23 de fevereiro
de 2021.
Tipo de aprovação: Definitiva.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 21 dias.
O Brasil adotou um esquema diferente em relação ao que é
recomendado pelas fabricantes. Pfizer e BioNTech entendem que a segunda dose da
Cominarty deve ser aplicada três semanas após a primeira.
O Ministério da Saúde, porém, preconiza um intervalo de três
meses. Os representantes do Governo Federal justificam a decisão com base nas
políticas públicas de outros países, como o Reino Unido.
Armazenamento: Freezer na temperatura de -25 °C
a -15 °C. Após a abertura da embalagem, as doses podem permanecer na geladeira
comum por algum tempo.
Taxa de eficácia: 91%.
Lugares em que está aprovada ou há previsão de uso: Estados
Unidos, Austrália, Israel e outros 48 países/territórios/blocos econômicos.
Há mais de 3,1 bilhões de doses da Cominarty encomendadas
pelo mundo para os próximos meses.
Ad26.COV2-S
Getty ImagesO imunizante da Janssen foi aprovado em caráter
emergencial há três meses, mas até agora não chegou ao país
Fabricante: Janssen (Estados Unidos)
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante.
Data de aprovação pela Anvisa: 31 de março de
2021.
Tipo de aprovação: Emergencial.
Quantidade de doses: Uma.
Esse é um ponto de destaque do produto da farmacêutica
Janssen: ao contrário de todas as outras vacinas disponíveis, ela precisa de
apenas uma dose para surtir efeito.
Num cenário em que há escassez de matéria-prima e muita
gente que ainda não foi vacinada, essa é uma vantagem importante.
Apesar de o imunizante estar liberado no país desde março,
ele ainda não é usado na campanha brasileira: as primeiras 3 milhões de doses
devem ser entregues ainda em junho, segundo o ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga.
Armazenamento: Pode ficar em geladeira comum por
até três meses.
Taxa de eficácia: Nos estudos, variou entre 64%
e 72%.
Lugares em que está aprovada ou há previsão de uso: União
Europeia, Reino Unido, Nova Zelândia e outros 14 países/territórios/blocos
econômicos.
Há mais de 850 milhões de doses da Ad26.COV2-S encomendadas
pelo mundo para os próximos meses.
Sputnik V
Getty ImagesA vacina do Instituto Gamaleya de Pesquisa, da
Rússia, havia sido reprovada pela Anvisa numa análise feita há pouco mais de um
mês
Fabricante: Instituto Gamaleya de Pesquisa
(Rússia).
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante.
A tecnologia é a mesma da AZD1222 e da Ad26.COV2-S, mas há
uma diferença importante: a Sputnik V é feita a partir de dois adenovírus
diferentes. A primeira e a segunda dose da vacina, portanto, têm formulações
distintas.
E isso, por sua vez, exige um cuidado extra na hora da
aplicação: para garantir o bom resultado, é importante que as orientações sobre
a ordem e diferença entre as duas doses sejam seguidas à risca.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de
2021.
Tipo de aprovação: Importação de lotes com
restrições.
A decisão da Anvisa sobre a Sputnik atendeu os pedidos de
seis Estados (Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí e Sergipe) e permitiu
trazer quantias suficientes para 1% da população desses locais (algo ao redor
de 928 mil doses).
As vacinas precisarão vir necessariamente de laboratórios da
Rússia vistoriados e certificados pela agência brasileira e passarão por novas
análises em território nacional antes de serem distribuídas.
O produto não será indicado para quem tem hipersensibilidade
a qualquer um dos componentes da fórmula, grávidas, lactantes, menores de 18
anos, mulheres em idade fértil que desejam engravidar nos próximos 12 meses,
portadores de enfermidades graves ou não controladas e antecedentes de
anafilaxia (reação alérgica grave).
Ela também não poderá ser aplicada em indivíduos que tenham
recebido outras vacinas contra a covid-19, portadores de HIV, hepatite B ou C,
indivíduos que tenham se vacinado no mês anteriores ou que tenham recebido
tratamentos com imunoglobulinas, hemoderivados, imunossupressores, citotóxicos,
quimioterapia e radioterapia nos últimos 36 meses.
A Anvisa ainda exigiu que a Sputnik V só seja aplicada em
locais onde reações adversas possam ser monitoradas e tratadas. A agência
também pediu que os fabricantes conduzam um estudo de efetividade do imunizante
no Brasil.
Quantidade de doses: Duas.
Como dito anteriormente, os locais de aplicação precisarão
ter atenção redobrada, pois o conteúdo da primeira e da segunda dose da Sputnik
são diferentes.
Intervalo entre as doses: 21 dias, mas há
discussões para que esse tempo também seja ampliado para três meses.
Armazenamento: Freezer na temperatura de -18 °C.
Taxa de eficácia: 91%.
Lugares em que está aprovada ou há previsão de uso: Rússia,
Argentina, México e outros 46 países/territórios/blocos econômicos.
Há mais de 442 milhões de doses da Ad26.COV2-S encomendadas
pelo mundo para os próximos meses.
Covaxin
Getty ImagesGoverno Federal têm acordo de compra de 20
milhões de doses da Covaxin, da Bharat Biotech
Fabricante: Bharat BioTech (Índia).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de
2021
Tipo de aprovação: Importação de lotes com
restrições.
As orientações da Anvisa para a Covaxin seguiram os mesmos
moldes da Sputnik V: ela não poderá ser usada por pessoas que apresentam
qualquer fator de risco de eventos adversos ou que se encaixam naquela longa
lista de critérios, condições e tratamentos.
O pedido para liberação veio do próprio Ministério da Saúde,
que já havia assinado em março um contrato com a Bharat BioTech para a compra
de 20 milhões de doses.
A decisão da agência regulatória brasileira permitiu, por
enquanto, o uso de 4 milhões de unidades desse imunizante.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: Quatro semanas.
Armazenamento: Temperatura ambiente por pelo
menos uma semana.
Taxa de eficácia: 78%.
Uso em outros países: Além de Brasil, Índia,
Filipinas, Irã e Estados Unidos possuem acordos e encomendas da Covaxin, que
totalizam mais de 88 milhões de doses.
Vacina boa é vacina no braço
Apesar de todas as diferenças entre os produtos aprovados
para uso no Brasil, uma coisa é consenso entre os especialistas da área: não há
motivos para preferir um tipo ou outro de imunizante, uma vez que todos
receberam o aval da Anvisa.
A frase "vacina boa é vacina no braço" virou
praticamente um mantra entre epidemiologistas, enfermeiros, médicos e demais
especialistas em saúde pública.
Isso porque precisamos levar em conta os ganhos coletivos de
uma campanha massiva de imunização: mais que proteger uma pessoa de forma
individual, as doses têm um efeito mais amplo, diminuindo a circulação do
coronavírus por toda a comunidade.
Essa menor circulação viral, por sua vez, desemboca numa
diminuição dos casos, das internações e das mortes por covid-19.
Será através da vacinação de uma boa parcela da população
que alcançaremos a tão desejada imunidade de rebanho, para que a pandemia fique
mais controlada e deixe de ser um problema enorme.
E, para que isso aconteça, é importante que todo mundo tome
o imunizante quando chegar a vez: se você faz parte de algum público-alvo da
campanha, vá ao posto de saúde mais próximo de sua casa assim que possível.
Até o momento, 22 milhões de brasileiros já tomaram as duas
doses da vacina contra covid-19, o que representa pouco menos de 11% da
população.
Tomado de correio brasiliense
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