Agência reguladora americana (FDA) concede registro final para a aplicação do imunizante em pessoas com mais de 16 anos, o que deve, segundo especialistas, atrair público reticente e reforçar a campanha de enfrentamento à covid-19
Vilhena Soares
(crédito: Brendan
Smialowski/AFP - 30/12/20)
Autoridades americanas concederam, ontem, o registro
definitivo de uso à vacina contra a covid-19, desenvolvida pela empresa
americana Pfizer em parceria com o grupo alemão BioNTech. A
autorização, emitida pela Agência de Medicamentos e Alimentos (FDA), permite
que o fármaco possa ser usado em regime de duas doses, em pessoas com mais de
16 anos, e não mais em caráter emergencial.
Os responsáveis pela aprovação e especialistas da área
médica acreditam que a medida servirá como um estímulo, fazendo com que aqueles
ainda inseguros se decidam pela imunização. Outra expectativa é de que a
decisão impulsione a exigência do comprovante de vacinação para a entrada em
locais com aglomerações, restaurantes, empresas e faculdades.
A autorização definitiva da vacina da Pfizer, que poderá ser
comercializada com o nome Comirnaty, foi dada com base em dados atualizados de
testes clínicos, que incluem um tempo maior de acompanhamento dos 40 mil participantes,
o que garante segurança e eficácia. O fármaco permanece disponível com a
autorização de uso emergencial para adolescentes de 12 a 15 anos, mas, como
agora há o aval permanente, os médicos podem prescrevê-lo para crianças com
menos de 12 anos, caso a caso.
Os especialistas da FDA, porém, recomendam que isso não
ocorra por enquanto. “Precisamos obter informações e dados sobre o uso em
crianças, elas não são apenas adultos pequenos”, frisou, em nota, a comissária
interina da agência, Janet Woodcock.
A aprovação foi a mais rápida da história da agência,
ocorrendo menos de quatro meses após a Pfizer ter apresentado o pedido de
licenciamento, em 7 de maio. Os responsáveis pelo imunizante declararam que a
decisão veio em um momento em que a autorização “é urgentemente necessária”.
“Tenho esperança de que ajude a aumentar a confiança em nossa vacina”,
ressaltou, em um comunicado, o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla.
Confiança popular
Os responsáveis pela aprovação do imunizante também apostam
em um número maior de vacinados como um desdobramento da medida. “Embora
milhões de pessoas tenham recebido com segurança as vacinas contra a covid-19,
reconhecemos que, para alguns, a aprovação de uma vacina pela FDA pode
representar uma confiança adicional para que sejam vacinados”, disse Woodcock.
“Essa aprovação pela FDA deve dar a confiança extra de que essa vacina é segura
e eficaz. Se você ainda não se vacinou, essa é a hora”, tuitou o presidente dos
EUA, Joe Biden.
Em pesquisa recente, a ONG americana Kaiser Family
Foundation mostrou que 30% dos adultos do país declararam que o registro final
os deixaria mais propensos a se vacinar. “A notícia da FDA eliminou um
dos argumentos do movimento antivacinas, que alegava se tratar
de uma ‘vacina experimental’”, explicou à agência de notícias France-Presse
(AFP) Amesh Adalja, pesquisador do Centro de Segurança Sanitária da
Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. “Esperamos que, agora, as
pessoas que diziam estar aguardando a aprovação total para se vacinar o façam”,
complementou.
Essa também é a expectativa de Gisele Zuvanov Casado, membro
do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (Asbai), para quem a decisão da FDA pode contribuir para um aumento
de vacinados até mesmo no Brasil.
“A maioria das desculpas de quem se nega a se vacinar é que
não quer ser cobaia e que não vai ser o primeiro a se arriscar. Quando temos um
órgão importante, como esse dos Estados Unidos, dando esse aval final, as
pessoas perdem esses argumentos, e acreditam que não é mais um risco”, ressaltou,
acrescentando: “Esse é um benefício que pode ser registrado até aqui, apesar de
já termos uma autorização emergencial da Anvisa, muita gente ainda não confia
no nosso órgão.”
Logo após o anúncio da FDA, a cidade de Nova York divulgou
que exigirá de todos os funcionários do Departamento de Educação a comprovação
de ao menos uma dose da vacina até 27 de setembro, sem a opção de fazer testes
de PCR. O Pentágono confirmou que todas as suas tropas da ativa e da reserva
terão de se vacinar contra a covid-19. “Agora que a vacina da Pfizer foi
aprovada, o Departamento de Defesa está preparado para emitir uma diretriz
atualizada que requer que todos os membros do serviço sejam vacinados”,
declarou o porta-voz John Kirby.
Palavra de especialista
Marco histórico
“Essa aprovação é a mais rápida já concedida em toda a nossa
história, vai entrar para o grande hall de conquistas médicas e é fruto do
avanço das nossas tecnologias e da eficiência desses especialistas, que
conseguiram avaliar essa grande quantidade de dados em um tempo tão curto.
Esse imunizante apresenta uma eficácia extremamente alta. Algo
notável, principalmente se levarmos em consideração que foi feito em tão pouco
tempo, mas de forma responsável e segura. Isso é algo muito bacana e que põe
abaixo qualquer dúvida dos indivíduos antivacina. Podemos comemorar essa medida
e esperar por um aumento de pessoas que concordem em se proteger com esse
fármaco, algo essencial em um momento tão difícil em que precisamos nos
proteger desse vírus.”
Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da Emergência do
Hospital Santa Lúcia, de Brasília
Marco histórico
“Essa aprovação é a mais rápida já concedida em toda a nossa
história, vai entrar para o grande hall de conquistas médicas e é fruto do
avanço das nossas tecnologias e da eficiência desses especialistas, que
conseguiram avaliar essa grande quantidade de dados em um tempo tão curto. Esse
imunizante apresenta uma eficácia extremamente alta. Algo notável,
principalmente se levarmos em consideração que foi feito em tão pouco tempo,
mas de forma responsável e segura. Isso é algo muito bacana e que põe abaixo
qualquer dúvida dos indivíduos antivacina. Podemos comemorar essa medida e
esperar por um aumento de pessoas que concordem em se proteger com esse
fármaco, algo essencial em um momento tão difícil em que precisamos nos
proteger desse vírus.”
Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da
Emergência do Hospital Santa Lúcia, de Brasília
Ameaça real de novas pandemias
crédito: Hector Retamal/AFP - 3/2/21
Crises sanitárias preocupantes, a exemplo da pandemia de
covid-19, podem acontecer com mais frequência do que se imaginava, conforme
reforça uma pesquisa feita por cientistas britânicos. Essa probabilidade
inquietante é resultado de uma ampla análise estatística feita com base em
registros de surtos anteriores.
No estudo, publicado na última edição da revista Proceedings
of the National Academy of Sciences (Pnas), os cientistas usaram uma série de
métodos estatísticos para medir a escala e a frequência de epidemias de doenças
para as quais não houve intervenção médica imediata nos últimos quatro séculos,
como varíola, cólera, tifo e uma variedade de vírus influenza.
Por meio dos cálculos, os pesquisadores constataram que a
probabilidade de uma pandemia com impacto semelhante à do Sars-CoV-2 acontecer
é de cerca de 2% em qualquer ano. “Parece um número baixo, mas é uma taxa maior
do que a grande parte dos especialistas imaginava. Vimos que a propagação
intensa de enfermidades preocupantes não é tão rara como apostávamos”,
declarou, em nota, William Pan, professor da Universidade de Duke, no Reino
Unido, e um dos autores do artigo.
Em uma outra avaliação, feita com patógenos que apareceram
nos últimos 50 anos, incluindo o novo coronavírus, os cientistas estimaram que
a taxa anual de novos surtos de doenças, provavelmente triplicará nas próximas
décadas. Os especialistas também estimam que uma pandemia semelhante à atual
poderá acontecer daqui a 59 anos. O novo coronavírus surgiu no fim de 2019, na
China, e sua origem até hoje é alvo de investigações pela Organização Mundial
da Saúde (OMS).
“As razões pelas quais os surtos de enfermidades estão se
tornando mais frequentes são diversas: o crescimento populacional, mudanças nos
sistemas alimentares, degradação ambiental e contato mais frequente entre
humanos e animais que carregam doenças terríveis para nós. Precisamos lutar
contra isso e retardar essa previsão”, destacou Pan.
Tomado de correio braziliense
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