Proibições à venda de
animais domésticos acendem debate sobre indústria dos pets
Ativistas vêm bolando projetos de lei e recolhendo
assinaturas para tentar proibir o comércio de animais nas pet shops por
Demétrio Rocha Pereira
Lojas se defendem dizendo que o problema é a fiscalização, e
não a venda Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS Em outubro do ano passado,
ativistas invadiram o Instituto Royal, em São Roque (SP), para salvar beagles
de um cenário de “pesadelo”, segundo se relatou. Foi lenha no debate cada vez
mais aceso sobre o bem-estar dos bichos, que agora, em Miami, se volta ao
comércio de animais domésticos. Na semana passada, comissários aprovaram uma
moratória de seis meses para decidir se a venda deve ser banida, o que somaria
Miami a outras mais de 30 cidades americanas com legislação semelhante. Países
como a Áustria e a Suíça também cortaram as asas das lojas. Em junho, o governo
espanhol ensaiou resolução nesse sentido, e os vereadores de Fortaleza, aqui
mesmo, no Brasil, seguem avaliando a proibição do comércio de cães, gatos e
outros animais domésticos em pet shops. ONGs brasileiras vêm bolando projetos
de lei e recolhendo assinaturas para atacar o que as entidades veem como um
problema. A proibição do comércio é encarada como um primeiro passo em uma
perspectiva mais ampla, integrada também à Declaração de Cambridge, assinada em
2012 por diversos cientistas que atestaram que os animais têm consciência. — Os
animais não existem para o proveito do ser humano, eles têm os seus próprios
propósitos. Não são propriedade nem mercadoria. A questão tem menos a ver com o
animal ser bem tratado. As discussões costumam ficar em torno disso, mas o
principal é que o animal não existe para o uso — diz Lydvar Schulz, coordenador
do grupo de libertação animal Onca.
Por outro lado, o cão só virou o que é hoje porque deixou de
ser lobo ao se associar com o homem e descobrir um laço favorável que o
protegia dos perigos e urgências da cadeia alimentar. A solução, então, não
seria abandonar os animais a uma natureza idealizada:
— Estamos contra a domesticação porque ela é uma violência,
um eufemismo para subjugação. Mas não somos contra a pessoa manter em casa um
cachorro, um gato, desde que tenha consciência de que eles não estão ao serviço
do homem. A adoção consciente ajuda a mitigar o prejuízo. Não precisa comprar.
Sempre vai ter como adotar — completa Schulz. Ao contrário do que se poderia
pensar, as lojas não se opõem à adoção.
— A pet shop lucra tanto com a venda quanto com a adoção. O
cachorro adotado consome ração, toma banho. Boa base do orçamento, é claro, vem
da venda, mas a pet shop, em principio, é a favor da adoção — diz Glaziete
Pinto, vice-presidente da Associação Gaúcha de Pet Shops (Agapet).
Glaziete ressalta que as lojas não são responsáveis por
quaisquer maus tratos que os animais sofram:
— A pet shop tem veterinário, tem vistoria. O problema é o
canil. A proibição não adianta nada. É preciso fiscalizar. Não estamos nos anos
1970, mas em 2014. Proibição é ditadura, sou completamente contra. Se isso
acontecer, vão fazer venda clandestina dentro de casa fechada, em box de
banheiro. Tem que ter venda correta, com fiscalização pelo Conselho de Medicina
Veterinária — defende Glaziete, acrescentando que, assim, o animal será bem
cuidado do canil até o consumidor final. Os ativistas alegam que a prática de
obrigar que cachorras passem os dias confinadas e sejam submetidas a cruzas
forçadas e a manipulação genética das espécies – geradora, por vezes, de bichos
adoentados, com problemas respiratórios e tumores sempre prontos para aparecer
– seria a consequência de tratar o bicho como mercadoria, o que supõe um modo
de produção industrial.
— Por trás do comércio existe a fabricação de raças. E os
mesmos laboratórios que manipulam a genética vendem os remédios. A pet shop não
ganha apenas com a venda do animal ou o banho e tosa, mas também com os
remédios — afirma Schulz. Apesar de ser a favor da manutenção da venda pelas
lojas, Glaziete concorda que a experimentação genética merece passar por
debate. E, sobre a garantia de que não haverá maus tratos, acrescenta:
— Às vezes nem a pet shop sabe o que acontece com os animais
no canil. Se o consumidor fiscalizasse, ele seria o melhor fiscal do mundo.
TOMADOD E ZERO HORA DE RGS BR
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