Teste da Teoria da
Relatividade mostra, de novo, que Einstein acertou
No teste mais completo da teoria da relatividade geral,
pesquisadores norte-americanos comprovam, mais uma vez, as ideias do gênio
alemão. Porém, também alertam: buracos negros exigem novas explicações sobre a
gravidade
PO Paloma Oliveto
Lasers dos telescópios do Observatório Keck, no Havaí,
propagados na direção do buraco negro: quatro noites de medições(foto: Ethan
Tweedie/Divulgação)
Lasers dos telescópios do Observatório Keck, no Havaí,
propagados na direção do buraco negro: quatro noites de medições
(foto: Ethan Tweedie/Divulgação)
Há mais de 100 anos, o astrofísico Albert Einstein desbancou
o postulado de Isaac Newton de que a gravidade era uma força instantânea.
Desprezada pelos pares no início, a teoria da relatividade geral tem sido
testada e aprovada em experimentos cada vez mais precisos, baseados em
fenômenos observados no espaço. Porém, embora continuem válidos, os conceitos do
cientista poderão se desgastar, afirma um estudo da Universidade da Califórnia
em Los Angeles (Ucla), publicado na revista Science. O problema é que os
buracos negros começam a colocar em prova parte das equações do gênio alemão.
Fascinantes objetos do espaço, buracos negros foram
previstos por Einstein e comprovados pela ciência nas últimas décadas — há
poucos meses, inclusive, foi divulgada a primeira imagem de um. Eles ficam no
centro das galáxias e têm uma atração gravitacional tão forte que nada consegue
escapar de dentro deles, nem mesmo a luz. Agora, a equipe da astrofísica Andrea
Ghez, da Ucla, afirma ter realizado o teste mais abrangente da relatividade
geral nas imediações do monstruoso buraco negro que fica na Via Láctea.
“Nossas observações são consistentes com a teoria da
relatividade geral de Einstein. No entanto, essa teoria está, definitivamente,
demonstrando vulnerabilidade”, afirma Ghez. A cientista diz que, dentro de um
buraco negro, as ideias do alemão não se aplicam. “As leis da física, incluindo
a gravidade, devem ser válidas em todo o universo. Então, em algum momento,
precisaremos nos mover para além da teoria de Einstein, em busca de uma mais
abrangente, que se aplique também aos buracos negros.”
Distorção
Em 1915, Albert Einstein publicou, sem alardes, sua teoria
da relatividade geral, sustentando que a gravidade é um efeito da distorção do
espaço e do tempo. Segundo o cientista, então odiado pelos newtonianos, objetos
como planetas e estrelas massivas alteram o que se chama de “tecido”
espaço-tempo (uma dimensão do Universo), provocando uma curvatura. A detecção
de ondas gravitacionais no fim de 2015 por um observatório criado somente para
isso provou que, mais uma vez, ele estava correto. A equipe de Andrea Ghez,
agora, fez medições diretas do fenômeno perto do buraco negro supermassivo que
habita a Via Láctea.
Os cientistas observaram uma estrela, a S0-2, em uma órbita
completa em torno do buraco negro, que tem cerca de 4 milhões de vezes a massa
do Sol. Esse movimento leva 16 anos em escalas de tempo da Terra. “Esse é o
estudo mais detalhado já realizado sobre o buraco negro supermassivo e a teoria
da relatividade geral de Einstein”, diz Ghez. Os dados principais da pesquisa
foram os espectros — representações da intensidade das ondas — analisados entre
abril e setembro do ano passado, quando a S0-2 fez a maior aproximação do
objeto gigante.
Além de oferecer informações sobre a estrela da qual viaja a
luz, os espectros mostram a composição dela.
“O que há de tão especial sobre a S0-2 é que temos sua órbita completa
em três dimensões. Isso é o que nos permite fazer os testes da relatividade
geral”, afirma a cientista. “Perguntamos como a gravidade se comporta perto de
um buraco negro supermassivo e se a teoria de Einstein está nos contando a
história completa. Ver estrelas atravessar sua órbita completa fornece a
primeira oportunidade para testar a física usando os movimentos dessas
estrelas.”
Fótons
As medições foram feitas durante quatro noites no Observatório
Keck, que fica no topo do vulcão Mauna Kea, no Havaí, e abriga um dos maiores e
mais importantes telescópios óticos e infravermelhos do mundo. O telescópio
ótico infravermelho do Observatório Gemini e o Telescópio Subaru, também no
Havaí, completaram a coleta de dados. A equipe conseguiu ver o espaço-tempo
misturados perto do buraco negro supermassivo. “Na versão de gravidade de
Newton, o espaço e o tempo são separados e não se misturam; sob Einstein, eles
ficam completamente misturados perto de um buraco negro”, conta a cientista.
Os pesquisadores estudaram os fótons — partículas de luz —
enquanto eles viajavam da S0-2 para a Terra. A S0-2 se move em torno do buraco
negro em velocidades de mais de 16 milhões de quilômetros por hora em sua aproximação
mais próxima. Einstein havia relatado que, na região perto do buraco negro, os
fótons precisam fazer um trabalho extra. O comprimento de onda depende não
apenas de quão rápido a estrela está se movendo, mas também da quantidade de
energia que os fótons gastam para escapar. A viagem das partículas desde a
estrela até a Terra demora 26 mil anos. “Para nós, o que vimos parece ser
agora. Mas é algo que aconteceu 26 mil anos atrás!”, impressiona-se
Ghez.Continua depois da publicidade
“Fazer uma medição dessa importância fundamental exigiu anos
de observação, possibilitada pela tecnologia de ponta”, disse, em nota, Richard
Green, diretor da Divisão de Ciências Astronômicas da National Science
Foundation. “Por meio de seus esforços rigorosos, Ghez e os colaboradores
produziram uma validação de alta significância da ideia de Einstein sobre a
força da gravidade.” Para o diretor do Observatório Keck, a pesquisa publicada
nesta quarta-feira (25/7) “é a culminação de um compromisso inabalável nas
últimas duas décadas para desvendar os mistérios do buraco negro supermassivo
no centro de nossa galáxia”. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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