sábado, 21 de diciembre de 2019

COM NOVO ESTUDO, CIENTISTAS AVANÇAM EM VACINA CONTRA O ZIKA VÍRUS


  Aplicada em macacos fêmeas, fórmula reduz a quantidade do micro-organismo nas cobaias infectadas e impede que ele seja transmitido aos fetos. A abordagem poderá evitar complicações gestacionais em humanos, como a microcefalia
VS Vilhena Soares
 (foto: AFP / YE AUNG THU)
Um dos maiores problemas desencadeados pelo zika é a microcefalia — a má-formação do cérebro em bebês. Para evitar que ela ocorra, pesquisadores dos Estados Unidos desenvolvem uma vacina destinada a gestantes. A fórmula foi testada em macacos e mostrou resultados extremamente positivos: reduziu a quantidade de vírus no organismo das cobaias. Os dados foram apresentados na última edição da revista
Science Translational Medicine.
O estudo americano é um desdobramento de pesquisas em que os investigadores testaram a mesma vacina também em primatas. Os resultados positivos serviram como incentivo para analisar o efeito da fórmula durante a gravidez. “A infecção pelo vírus zika em mulheres grávidas está associada a um alto risco de efeitos fetais adversos, incluindo morte fetal, microcefalia e outras anormalidades, coletivamente denominados síndrome congênita do zika. Nenhuma vacina aprovada ainda está disponível”, detalha Koen K. Van Rompay, pesquisador da Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo.
A vacina VRC5283 foi aplicada em 18 macacos fêmeas, que foram imunizadas até um ano antes de engravidar. “O novo estudo foi projetado para imitar um cenário do mundo real, em que as mulheres poderiam ser vacinadas meses ou anos antes de ficarem grávidas”, frisa Van Rompay. Na segunda etapa do experimento, os cientistas administraram cepas de zika nas cobaias durante o primeiro e o segundo trimestres da gravidez, assim como em animais não vacinados (do grupo de controle).
Os resultados mostraram que os macacos vacinados apresentaram menores quantidades de vírus e respostas mais fortes de anticorpos, quando comparados às cobaias do outro grupo. As fêmeas vacinadas tinham menos vírus no sangue e o micro-organismo persistiu nelas por um período mais curto após a exposição. Dois animais que não receberam a VRC5283 perderam o feto no início da gravidez devido à infecção pelo vírus, mas não houve perda precoce do feto no grupo imunizado.
“Nosso estudo mostrou que a vacinação de animais antes da gravidez foi capaz de induzir respostas imunes. Quando os animais engravidavam subsequentemente e foram expostos ao vírus zika, a vacina reduziu a viremia nos macacos adultos e também melhorou os resultados fetais, reduzindo a transmissão transplacentária do vírus”, detalha o autor do estudo.
No fim da gravidez, os pesquisadores também procuraram o vírus zika nos tecidos das mães e dos fetos. Não foi detectado RNA do patógeno em nenhum dos animais do grupo vacinado, sugerindo que a vacina impede a transmissão do vírus ao feto. “Nosso estudo foi o primeiro a mostrar isso em um modelo de primata não humano e, portanto, nossos achados apoiam o desenvolvimento clínico dessa vacina”, completa Van Rompay.
Testes clínicos
Com base nos resultados positivos, os pesquisadores acreditam que a vacina pode impedir a transmissão também em humanos. Os testes clínicos, com voluntários, começaram a ser feitos em oito países. “Estamos analisando a segurança, a tolerabilidade e a imunogenicidade dessa e de outras duas candidatas a vacinas”, conta Van Rompay. A equipe ressalta que outras etapas científicas precisam ser vencidas até que a fórmula possa ser comercializada.
Outra etapa em andamento é a análise da capacidade de uso de um anticorpo passivo contra o zika para proteger grávidas em menos tempo. Isso porque se leva algumas semanas para o desenvolvimento de células de defesa após a vacinação. Segundo os pesquisadores, uma transferência passiva de anticorpos poderá ser usada para tratar imediatamente uma  grávida que corre o risco de se infectar ou que apresente sintomas de infecção pelo vírus zika.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia também estão analisando como esse micro-organismo afeta o desenvolvimento de jovens macacos. Os especialistas explicam que os macacos rhesus não desenvolvem a mesma má-formação do crânio observada em bebês humanos. Existem deficits de desenvolvimento menos evidentes nos primatas, que, ao serem bem compreendidos, podem ser usados para contribuir na área de pesquisa. “Acreditamos que possam ter muitos bebês expostos ao vírus zika antes do nascimento que apresentam deficits de desenvolvimento mais sutis, assim como esses animais”, diz Van Rompay.
Promissor
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, destaca que o estudo americano mostra dados muito positivos. “Temos um começo bastante promissor, que dá foco a uma das maiores preocupações em relação ao zika vírus. É uma ótima ideia encontrar uma estratégia de prevenção para ser usada principalmente em mulheres grávidas”, diz o médico.
Para Júnior, o surgimento de uma vacina contra o zika se torna cada vez mais próximo. “Há projetos que estão chegando perto do sucesso total. Porém, temos que destacar que a vacina ideal precisar ser feita sem o vírus vivo. Caso contrário, muitas pessoas com problemas imunes teriam reações. Uma fórmula sem riscos é necessária para atingir um público mais amplo e, dessa forma, proteger mais gente”, enfatiza o infectologista.
Tomado de correio brasiliense

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