Estudo desvenda como ambiente influencia a microbiota de
animais
Pela primeira vez, pesquisadores utilizam DNA para estudar
como as alterações no meio ambiente impactam nas comunidades de bactérias em
animais. Eles acreditam que resultados podem fornecer ferramentas para o manejo
de espécies, especialmente as ameaçadas
PO Paloma Oliveto
Girafa em um parque natural protegido do Quênia: microbiomas
alterados podem afetar teias alimentares e ecossistemas, determinando quem
sobrevive e quem é extinto (foto: AFP / TONY KARUMBA )
Girafa em um parque natural protegido do Quênia: microbiomas
alterados podem afetar
Nos últimos anos, o campo da pesquisa de microbiomas cresceu
rapidamente, o que trouxe novos conhecimentos — e questões adicionais — sobre
os micro-organismos que habitam os corpos de humanos e outros animais. Agora,
um estudo da Universidade de Princeton usou a análise genética para examinar a
relação entre dieta, meio ambiente e a microflora. De acordo com os
pesquisadores, a abordagem pode apontar novos caminhos para se estudar e
compreender esse elemento tão importante ao funcionamento do corpo e que,
quando em desequilíbrio, está por trás de uma ampla gama de doenças.
“A mudança ambiental pode influenciar o que os animais comem
e, como consequência, ter um efeito em seu microbioma e na saúde de várias maneiras
que só podem ser entendidas em ambientes naturais”, diz o principal autor do
estudo, Tyler Kartzinel, professor-assistente de ecologia e biologia evolutiva
na Universidade de Brown e ex-pesquisador de pós-doutorado na Universidade de
Princeton. Para isso, a equipe de cientistas foi a campo e estudou a relação de
dieta/meio ambiente/microbiota em animais. Foram coletadas e analisadas mais de
1 mil amostras de material fecal de 33 espécies de herbívoros — que variaram de
antílopes diminutos a gigantescas girafas e elefantes — em uma savana africana.
Grande parte do trabalho de campo foi realizado no Centro de
Pesquisa Mpala, no Quênia, administrado pela Universidade de Princeton. “Uma
amostra fecal abre uma incrível janela para a biologia de um animal selvagem,
revelando desde o que ele come até as bactérias que vivem em seu intestino e os
tipos de parasitas que possui”, explica Robert Pringle, professor-associado de
ecologia e biologia evolutiva em Princeton e autor sênior do estudo. “Estamos
apenas começando a explorar o potencial das abordagens forenses baseadas em DNA
para estudar a ecologia da vida selvagem. Isso pode nos ensinar muito sobre
questões que, historicamente, têm sido muito difíceis, se não impossíveis, de
investigar”, complementa Kartzniel.
Semelhanças
Depois de analisar o DNA nas amostras para inferir as dietas
e os microbiomas dos animais, os pesquisadores chegaram a três conclusões
principais. Consistente com o que esperavam, eles descobriram que espécies
estreitamente relacionadas tinham microbiomas semelhantes e, em menor grau,
dietas semelhantes. A segunda descoberta foi que as espécies (e animais
individuais de uma espécie) que consumiam dietas diferentes tendiam a ter
microbiomas diferentes.
Por fim, o estudo descobriu que os animais cujas dietas
sofrem mudanças sazonais significativas também tendem a experimentar grandes
alterações em seus microbiomas. Mas a equipe ficou surpresa ao constatar que a
flora de espécies domesticadas, como gado, ovelhas, cabras, burros e camelos,
tende a mudar mais com as estações do que a dos animais selvagens.
Sazonalidade
Segundo Kartzinel, uma variedade de perguntas adicionais
surge da pesquisa. “Por exemplo, a sensibilidade sazonal no microbioma é um
sinal de saúde ou um problema? Você pode imaginar animais mudando suas dietas e
microbiomas porque são bons em se adaptar às mudanças no ambiente. Mas também
pode imaginá-los fazendo isso porque estão estressados e apenas tentando
sobreviver à medida que o ambiente muda”, diz.
Os pesquisadores também esperam determinar qual fator —
dieta ou microbioma — tende a ser mais sensível ao ambiente do animal. “A mesma
planta pode fornecer frutas suculentas para os animais comerem em uma estação e
oferecer apenas galhos mastigáveis na próxima. Se ele comê-la nas duas
estações, nossos métodos não registrariam uma mudança na dieta dele, mas o
microbioma intestinal seria afetado”, explica Kartzinel. O cientista conta que
pretende fazer mais pesquisas para determinar a importância da mudança de dieta
e da microbioma na saúde dos animais selvagens.
"Estamos apenas começando a explorar o potencial das
abordagens forenses baseadas em DNA para estudar a ecologia da vida
selvagem" Tyler Kartzinel, professor da Universidade de Brown
(foto: Brown University/Divulgação )
“A sensibilidade do microbioma de um herbívoro ajudará a
manter uma dieta saudável em um mundo em mudança?”, questiona. “Ou outros
ajustes têm precedentes quando o animal toma decisões sobre como sobreviver?
Talvez seja um pouco de ambos. Estamos falando de várias espécies ameaçadas de
extinção, e as pessoas dependem do gado, por isso é importante considerar as
possibilidades.” Se o microbioma influenciar significativamente a saúde e o
comportamento dos animais, diz Kartzinel, isso poderá “afetar teias
alimentares, comunidades e ecossistemas inteiros, porque determinaria quem
sobrevive e quem é extinto.”
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