Covid-19: Empresa americana anuncia avanço em estudos que
testam vacinas
Criada por americanos, imunização que usa DNA desencadeia
resposta imunológica em 94% dos participantes. Indianos começarão, neste mês,
ensaios clínicos de fórmula com vírus inativo e bons resultados quando aplicada
em roedores
VS Vilhena Soares
A OMS tem registrados 149 projetos de desenvolvimento de
vacinas contra a covid-19 em andamento(foto: AFP / POOL / KAROLY ARVAI)
Seguem os avanços nos projetos científicos que buscam criar
uma vacina capaz de conter o novo coronavírus. A empresa americana Inovio
relatou ter obtido resultados preliminares animadores na primeira fase dos
ensaios clínicos. Também ontem, cientistas indianos anunciaram ter recebido
autorização para iniciar os testes com humanos usando a primeira fórmula contra
o Sars-CoV-2 desenvolvida no país.
A vacina da
Inovio, chamada INO-4800, utiliza DNA projetado em laboratório e tem objetivo
de estimular as células-T, que compõem o sistema imune. Ativadas, elas
entrariam em ação diante da invasão do novo coronavírus. Os cientistas
utilizaram como base pesquisas feitas com patógenos semelhantes ao da covid-19.
“Aproveitamos nossa experiência em Mers (síndrome respiratório do Oriente
Médio) com a vacina INO-4700, quando demonstramos respostas celulares e de
anticorpos significativas”, relata, em comunicado, Kate Broderick,
vice-presidente sênior de pesquisa e desenvolvimento da Inovio e uma dos
responsáveis pelo trabalho.
A fórmula foi testada em 40 voluntários, com idade entre 18 e 50 anos,
que receberam duas injeções, sendo a segunda sendo aplicada com quatro semanas
de intervalo da primeira. De acordo com os responsáveis pela pesquisa, a vacina
desencadeou uma resposta do sistema imunológico em 94% dos
participantes. “A amplitude e o perfil das respostas observados até o momento
com o uso da INO-4800 fornecem uma leitura promissora para as etapas de análise
futuras”, enfatiza Broderick.
Segundo o presidente da empresa, J. Joseph Kim, o
plano é acelerar os testes da fórmula de imunização, principalmente porque ela
tem uma grande vantagem: pode ser mantida estável em temperatura ambiente. A
maioria das fórmulas do tipo necessita ser conservada em temperaturas
extremamente baixas. “Essa é a única vacina à base de DNA estável à temperatura
ambiente por mais de um ano. Não precisa ser congelada no transporte ou durante
anos de armazenamento, esses são fatores importantes na implementação de
imunizações em massa para combater a atual pandemia”, frisa. “Estamos muito
encorajados pela segurança provisória positiva e pela segurança celular
preliminar.”
A pesquisa da Inovio é financiada pelo Departamento de
Defesa dos Estados Unidos e faz parte do plano Operação Warp Speed, um programa
anunciado pelo presidente Donald Trump que visa fornecer quantidades
substanciais de vacina para os americanos até janeiro. A Inovio também expandiu
o estudo de fase um para incluir indivíduos mais velhos. Nos próximos meses,
deve ser iniciado um estudo de eficácia de fase dois, com mais participantes.
Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do
Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia (ASBAI), destaca que a vacina americana tem características que
podem contribuir significativamente ao combate à covid-19, caso seja aprovada
nas etapas finais dos testes. “Essa nova tecnologia de DNA é muito positiva
porque estimula o sistema imune em diversas partes, várias células que o
compõem são ativadas por meio dessa plataforma. E a possibilidade de
armazenamento em temperatura ambiente também é uma grande vantagem, pois pode
contribuir na hora de distribuir essa fórmula, facilitando a administração”,
detalha. “Mas claro que isso ocorre apenas se essa eficácia inicial for
confirmada em outras análises futuras”.
Segurança
No caso do projeto indiano, a vacina é feita com base
em uma parte do vírus atenuado, ou seja, sem capacidade de infecção.“Uma vez
que a vacina é injetada em um humano, ela não tem potencial para infectar ou
replicar, pois é um vírus morto. Ele serve apenas ao sistema imunológico para
montar uma resposta de anticorpos”, explica, em comunicado, a empresa indiana
Bharat Biotech, que recebeu autorização para iniciar os testes com humanos.
O aval foi dado pelo órgão regulador da país, o
Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO, em inglês), depois que a
empresa apresentou resultados de estudos pré-clínicos que demonstraram
segurança e resposta imune testes pré-clínicos, ela foi testada em
porquinhos-da-índia e camundongos, onde foram comprovadas sua segurança e
eficácia. Os testes terão início ainda neste mês.
Para Ana Karolina Barreto Marinho, o surgimento de
vacinas em países diversos é uma das medidas mais importantes de combater à
pandemia. “Precisamos que cada uma dessas nações tenha uma fórmula para ser
usada contra essa doença, porque isso pode ajudar bastante na hora de
aplicá-las, reduzirá tempo de espera, por exemplo. Isso pode ajudar também a
definir qual a melhor forma para cada grupo, como crianças, idosos e até
pessoas com problemas autoimunes e que, por isso, precisam de fórmula de
imunização que seja eficaz para as características delas”, explica.
“Precisaremos de vacinas para imunizar cerca de 7 bilhões de pessoas. Quanto
mais opções tivermos, mais rápido poderemos realizar essa tarefa.” De acordo
com a Organização Mundial da Saúde, (OMS) há 149 candidatas a vacinas no mundo,
sendo que 17 estão sendo testadas em humanos.
Tomado de correio brasiliense
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