Apesar da boa notícia, um achado do estudo acende um alerta
para uma eventual consequência da infecção pelo vírus: a redução da fertilidade
masculina
Agência Estado Apu
Gomes/APF
Novos testes deverão ser feitos para verificar se o zika
apresenta comportamento semelhante nos testículos de outros animais
Estudo conduzido pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) do Pará
em conjunto com a Universidade do Texas mostra que a vacina contra zika
desenvolvida pelas duas instituições protege camundongos e macacos contra o
vírus. Publicado pela Revista Nature Communications, o trabalho constatou que a
aplicação de uma dose da vacina nos animais foi suficiente para prevenir a
transmissão do vírus da mãe para o filhote durante a gestação, além de proteger
machos. Com a conclusão desta etapa, é dado sinal verde para preparativos em
testes em humanos.
Apesar da boa notícia, um achado do estudo acende um alerta
para uma eventual consequência da infecção pelo vírus: a redução da fertilidade
masculina. Testes realizados em camundongos mostram que a infecção pode alterar
a reprodução nesses animais. Machos não vacinados expostos ao zika tiveram uma
redução significativa de espermatozoides. E os que foram produzidos perderam
velocidade, o que dificulta a fecundação. Para completar, testículos dos
camundongos atrofiaram.
"Sabemos da propensão do zika em infectar células do
cérebro. O estudo agora indica que o vírus também age no testículo",
relata o diretor do IEC, Pedro Vasconcelos."Não era esperado que isso
ocorresse. Foi um achado ocasional", completa o diretor, em entrevista ao
jornal O Estado de S. Paulo.
Não há ainda pistas sobre as causas que levam o vírus a
atacar também a gônada masculina. Um dos caminhos a ser pesquisados, avalia, é
a possibilidade de semelhanças entre receptores.
O diretor afirma que novos testes deverão ser feitos para
verificar se o zika apresenta comportamento semelhante nos testículos de outros
animais. Caso novos estudos indiquem resultados similares, Vasconcelos
considera importante partir para uma investigação epidemiológica em regiões
onde o vírus provocou epidemia, como cidades do Nordeste. "A epidemia pode
ter provocado outras consequências, que serão sentidas numa outra fase, como a
redução dos bebês nascidos em regiões afetadas. Isso precisa ser investigado."
A pesquisa não testou a capacidade de os camundongos
engravidarem fêmeas após os danos constatados nos testículos. Isso impede
afirmar neste momento que animais se tornaram estéreis. Um novo experimento
agora será realizado. "O que se sabe é que há uma grande quantidade de
vírus na excreção do esperma, que significa que o vírus tem bastante capacidade
de se replicar, causando a destruição das células que resulta em diminuição dos
testículos e, consequentemente, a esterilidade", concluiu.
Este foi o quarto estudo publicado sobre a vacina
desenvolvida em parceria pelo IEC e a Universidade do Texas. "Comprovada a
eficácia da vacina em macacos e camundongos, terminamos nossa contribuição,
abrindo caminho agora, para as pesquisas clínicas", afirma Vasconcelos.
Todos os testes realizados mostraram até o momento o efeito
protetor do imunizante desenvolvido pela parceria. Os testes clínicos serão
feitos por Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio. A expectativa, de
acordo com Vasconcelos, é de que os testes comecem a ser feitos em 2019.
A parceria para essa pesquisa foi feita em 2016 a partir de
acordo internacional para o desenvolvimento de vacina contra o vírus zika. O
Ministério da Saúde vai destinar um total de R$ 7 milhões nos próximos cinco
anos (até 2021) para o desenvolvimento e produção da vacina. O imunobiológico
em desenvolvimento utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado de apenas uma
dose, já que vacinas com vírus vivo são altamente capazes de estimular o
sistema imunológico e proteger o organismo da infecção. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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