Em livro sobre terremoto que destruiu Lisboa em 1755, o
geólogo Alberto Veloso narra que o tremor gerou no Brasil ondas de 6m, que
mataram um casal
CB Correio Braziliense
Gravura de autor desconhecido retrata terremoto que destruiu
Lisboa em 1755(foto: Domínio público)
Já desmentida pela Universidade de Brasília (UnB), a
informação de que havia risco de um tsunami atingir a Região Nordeste, nesta
segunda feira (5/8), agitou as redes sociais e se tornou motivo de memes na
internet. Entretanto, no passado, em meados do século 18, grandes ondas
provocadas por um terremoto causaram ao menos duas mortes no litoral
brasileiro.
O episódio é contado no livro Tremeu a Europa e o Brasil
também (Chiado Editora), do geólogo Alberto Veloso, que reconstitui o grande
terremoto que devastou Lisboa em 1º de novembro de 1755. O tremor originado no
mar provocou a morte de 30 mil a 40 mil pessoas na capital portuguesa, que à
época tinha 250 mil habitantes e era uma das mais importantes da Europa, ao
lado de Londres, Paris e Nápoles.
Além da tragédia em Lisboa, conta Veloso, um tsunami se
formou e percorreu o Atlântico, fazendo com que ondas violentas chegassem ao
Brasil. A partir de pesquisas no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e
diversos cálculos, o geólogo chegou à conclusão de que o tsunami cruzou o oceano a uma velocidade
média de 800km/h e, depois de mais ou menos sete horas, ondas estimadas em até
6m atingiram a costa brasileira, lavando cerca de mil quilômetros de praias das
capitanias de Paraíba, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro — embora existam
dúvidas sobre a última.
Foi nesses documentos que Veloso descobriu o relato sobre um
casal que acabou morto pelo mar feroz e as confirmações de que os estragos
chegaram a terras tupiniquins. Em um dos arquivos, o coronel Luiz Antonio de
Lemos Brito, então comandante da capitania da Paraíba, afirmava: "Parece
sem dúvida que essa parte da terra se abalou quando tremeu a outra".
Tsunami no Amazonas
Na obra, o geólogo e historiador descreve também alguns
terremotos que atingiram diretamente o Brasil. "A gente acha que não
existe terremoto aqui, e, realmente, há poucos. Mas os que tivemos foram
significativos e deixaram estragos. Não estamos livres deles", disse
Veloso ao Correio, na época do lançamento do livro, em 2015.
A incidência de
tremores é menor no Brasil porque, ao contrário do Chile e do Japão, por
exemplo, o país não está sobre a junção de placas tectônicas, cujo choque
desencadeia abalos e tsunamis. Mas há casos. Um dos maiores, com 7 de magnitude
estimada, ocorreu há 300 anos na Amazônia. Alberto Veloso chegou até ele
investigando o diário do padre alemão Samuel Fritz, jesuíta da Companhia de
Jesus que atuava no lado espanhol do território, nas proximidades do Equador.
Ao retornar de um tratamento médico em Belém do Pará, o sacerdote encontrou, na
região que hoje é Manaus, um cenário de destruição. Indígenas e padres
relatavam assustados um tremor que provocou um tsunami no Rio Amazonas. O padre
luxemburguês João Fellipe Batendorf, que vivia do lado português das terras,
constatou o mesmo. Como não existiam centros de monitoramento sismológico na
época, o evento não foi oficialmente registrado como o maior do Brasil. Esse
posto cabe a um abalo ocorrido em 1955, em João Câmara (RN). Na ocasião, foram
vários tremores espaçados, ao longo de sete anos. No total, mais de 50 mil
abalos danificaram 4 mil construções e deixaram 26 mil desabrigados. // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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