O perigo ainda não
passou: casos de coronavírus disparam na China
Novo método de contagem inclui pacientes com sinais de
pneumonia, antes mesmo da confirmação pelo teste de ácido nucleico. Assim,
quase 15 mil novos diagnósticos foram anunciados em 24 horas, aumentando o
número de infectados para aproximadamente 60 mil. Em Hubei, epicentro da
epidemia, registraram-se 242 mortes em um dia
Menino com caixa na cabeça para se proteger do COVID-19, em
Xangai: nova metodologia de diagnóstico permitirá tratamento mais cedo(foto:
AFP / NOEL CELIS)
Um dia depois de afirmar que o número de contágios havia se
estabilizado e que, provavelmente, no fim do mês, a quantidade de infecções
começaria a cair, o governo da China admitiu nesta
quinta-feira (13/2) que houve uma explosão de novos casos e de
óbitos. As autoridades do país mudaram o método de contagem, revelando que o
novo coronavírus, agora chamado COVID-19, matou mais 242 pessoas na
província de Hubei, o epicentro da epidemia — até a noite desta quinta-feira
(13/2), as mortes ultrapassavam 1,3 mil na porção continental do gigante
asiático. O anúncio reforça a preocupação mundial de que a epidemia seja muito
pior do que o quadro pintado até agora.
O governo também divulgou 14.840 novos casos de contágio,
elevando o total a aproximadamente 60 mil infectados. O aumento considerável do
número de infectados no curto prazo de 24 horas — de quarta a quinta-feira — se
deve à adoção de um sistema de cálculo diferente, que amplia a noção de casos
positivos.
Desde esta quinta-feira (13/2), o balanço passou a incluir
todos os pacientes cuja radiografia pulmonar apresente sinais de pneumonia, sem
esperar o exame de ácido nucleico, até então indispensável para confirmação do
diagnóstico de infecção pelo COVID-19.
O teste é mais lento e complexo, o que atrasava o início do
tratamento do paciente. A Comissão de Saúde de Hubei afirmou que o novo método
permitirá que os pacientes recebam o tratamento o mais rápido possível. Kentaro
Iwata, professor da Universidade de Kobe (Japão) e especialista em doenças
infecciosas, considerou “compreensível” a mudança, porque os hospitais estão
saturados. Para Yun Jiang, da Universidade Nacional da Austrália, a nova
metodologia é uma “medida pragmática” ante a falta de testes rápidos de
detecção.
Embora a China tenha recebido elogios da Organização Mundial
da Saúde (OMS) pela “transparência na gestão da crise da saúde”, a nova
metodologia adotada pelas autoridades para definir os casos confirmados pode
alimentar as suspeitas de que a doença foi subestimada. Na quarta-feira, o
presidente Xi Jinping comandou uma reunião com as lideranças do Partido
Comunista e destacou uma “evolução positiva” da situação, depois da divulgação
de números que indicavam uma redução nos casos confirmados pelo segundo dia
consecutivo. Contudo, em Genebra, Michael Ryan, chefe do departamento de
emergência da OMS, declarou “que é cedo demais para tentar prever o fim da
epidemia”.
Temor
Enquanto os números disparam na China, outra frente de
preocupação surgiu no Vietnã, que colocou em quarentena por 20 dias a cidade de
Son Loi, que tem quase 10 mil habitantes e fica a 30km da capital, Hanói,
depois que seis casos foram registrados na localidade. É o primeiro país fora
da China a adotar essa medida drástica. O governo chinês também isolou a
população de Hubei, mantendo 56 milhões de pessoas em uma quarentena
gigantesca, especialmente na capital Wuhan, além de restringir os movimentos de
vários milhões a mais em diversas cidades.
Nesta quinta-feira (13/2), o Japão anunciou a primeira morte
em seu território de um infectado. O país também divulgou que houve mais 44
casos de contágio entre os passageiros do cruzeiro Diamond Princess, que está
em quarentena no litoral, o que eleva a 218 o número de infectados no navio. É
o terceiro óbito fora da China continental — em Hong Kong e nas Filipinas
também houve mortes.
Um cruzeiro americano vindo da China, proibido de atracar em
cinco portos asiáticos pelo temor do novo coronavírus, chegou Nesta
quinta-feira (13/2) ao Camboja, onde seus 1.455 passageiros foram
autorizados a descer. Vários países proibiram o desembarque de passageiros
procedentes do gigante asiático, enquanto as principais companhias aéreas
suspenderam voos com destino ao território chinês.
O temor internacional de contágio provocou o cancelamento do
World Mobile Congress (WMC), salão mundial da telefonia móvel de Barcelona, que
seria realizado entre 24 e 27 de fevereiro. Nesta quinta-feira (13/2), os
torneios de Rugby 7 de Hong Kong e Cingapura, que ocorreriam em abril, foram
remarcados para outubro. Na véspera, a Federação Internacional de Automobilismo
(FIA) também anunciou o adiamento do Grande Prêmio da China de Fórmula 1,
previsto inicialmente para ser realizado em 19 de abril, em Xangai.
Demissões
O anúncio do novo método de contagem dos casos de infecção
pelo novo coronavírus coincidiu com a destituição de dois altos funcionários do
Partido Comunista da China em Hubei, em meio a críticas à gestão da crise. O
principal líder na província, Jiang Chaoliang, foi substituído pelo prefeito de
Xangai, Ying Yong, figura próxima ao presidente Xi Jinping. Ma Guoqiang, mais
importante dirigente comunista de Wuhan, capital de Hubei, também perdeu o
cargo. As destituições são uma resposta à revolta da opinião pública, que
considera que as autoridades demoraram a reagir quando surgiram os primeiros
casos da doença. Os dois principais funcionários do Departamento de Saúde da
província de Hubei já haviam perdido os cargos.
Tomado de correio brasiliense
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