CIÊNCIA E SAÚDE
Vacina Sputnik: Rússia aprova nova versão de dose única
O anúncio foi feito pelo Fundo Russo de Investimento Direto
(RDIF, na sigla em inglês), que é administrado pelo governo russo e financiou a
criação do imunizante
DE BBC
Rafael Barifouse - Da BBC News Brasil em São Paulo
postado em 06/05/2021 16:40
Fundo russo diz que 20 milhões de pessoas já receberam ao
menos uma dose da Sputnik VGetty Images
A Rússia anunciou na quinta-feira (5/5) o registro de uma
nova versão da vacina Sputnik de uma dose só em vez de duas.
O anúncio foi feito pelo Fundo Russo de Investimento Direto
(RDIF, na sigla em inglês), que é administrado pelo governo russo e financiou a
criação do imunizante; pelo Instituto Gamaleya, que também é público e foi
responsável pela pesquisa; e o Ministério da Saúde do país.
- 'Cadê
a vacina, meu Deus?': Os apelos de Paulo Gustavo sobre a pandemia de
covid-19
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boas notícias que mostram o impacto positivo da vacinação contra covid no
Brasil
O RFID explicou que a nova vacina, batizada de Sputnik
Light, usa apenas a primeira dose da Sputnik V, a original.
Os testes mostraram que ela teve uma eficácia de 79,4%, de
acordo com o fundo. Isso "é superior ao de muitas vacinas de duas
doses", ressaltou.
"O regime de dose única permite a imunização de um
maior número de pessoas em um menor espaço de tempo, favorecendo o combate à
pandemia na fase aguda."
Nenhum evento adverso grave foi registrado na pesquisa,
informou o RDIF.
A Sputnik V vem sendo questionada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A
agência vetou pedidos de importação da vacina russa porque diz que não
pode confiar na segurança, eficácia e qualidade do imunizante diante da ausência
de informações que foram requisitadas.
Uma das principais questões é que não deveria haver vírus
capazes de se replicar em sua composição, e, segundo a Anvisa, os dados das
pesquisas mostram que a Sputnik V tem isso.
O RDIF negou e disse que mais de 20 milhões de pessoas no
mundo já receberam ao menos uma dose do imunizante.
O uso da Sputnik V foi aprovado em 64 países até agora,
afirma o fabricante. Mas a Anvisa diz que só uma minoria deles está aplicando
de fato a vacina na população.
O assunto será tema da CPI da covid-19 nesta quinta-feira
(06/5), quando o presidente da Anvisa vai depor.
O que se sabe sobre eficácia
O fundo soberano russo disse no novo anúncio que a Sputnik
Light gerou anticorpos em 96,9% dos participantes do estudo, e, em 91,67%,
também produziu os anticorpos neutralizantes, que impedem a infecção das
células humanas.
A taxa de eficácia de 79,4% foi calculada com base em dados
de russos que foram vacinados com a primeira dose da Sputnik V e não receberam
a segunda por algum motivo, entre 5 de dezembro de 2020 e 15 de abril de 2021.
O fabricante não informou no comunicado quantas pessoas
fizeram parte do grupo analisado.
O RDIF divulgou com o anúncio de hoje que um estudo com 7
mil pessoas sobre a eficácia da Sputnik Light está sendo feito desde fevereiro
na Rússia, nos Emirados Árabes, em Gana e em outros países.
Mas não ficou claro se os dados apresentados nesta
quinta-feira fazem parte dessa pesquisa. A BBC News Brasil questionou os
responsáveis, mas não recebeu uma resposta até a publicação desta reportagem.
Getty ImagesSputnik Light é feita com a primeira dose do imunizante original
Como funciona
A Sputnik V usa dois tipos de adenovírus diferentes, um em
cada dose, que devem ser administrados em uma sequência certa.
Esses vírus causam resfriados em humanos e foram modificados
em laboratório para carregar as instruções genéticas do novo coronavírus até
nossas células.
Isso faz com que elas comecem a produzir uma proteína do
Sars-CoV-2, disparando o processo que nos deixa imunizados.
Esses adenovírus também foram alterados pelos cientistas
para não serem capazes de se reproduzir. Se fizerem isso, diz a Anvisa, podem
fazer mal à saúde, e esse efeito não teria sido investigado.
Mas a agência afirma que só um tipo de adenovírus, o que é
usado na segunda dose, teria conseguido se replicar de novo.
A Sputnik Light usa o primeiro tipo, que não teria esse
problema — e essa é a principal preocupação da Anvisa com a segurança da vacina
russa.
Isso não resolve no entanto as outras questões apontadas
pela agência, que colocou em dúvida sua eficácia (porque faltariam dados) e sua
qualidade (porque os métodos usados não seguem os padrões internacionais).
Sputnik será alvo da CPI
ABRAnvisa negou pedidos de importação da vacina russa
O fundo russo ameaçou processar a Anvisa por difamação,
depois que a agência disse não ter testado doses da vacina russa. A Anvisa teria
duvidado da Sputnik V sem fundamento, afirmou o RDIF, e manchado sua reputação.
"Após a admissão do regulador brasileiro Anvisa de que
não testou a vacina Sputnik V, a Sputnik V está iniciando um processo judicial
de difamação no Brasil contra a Anvisa por espalhar informações falsas e
imprecisas intencionalmente", disse o fundo russo pelo Twitter.
A Anvisa reagiu convocando uma coletiva de imprensa para
mostrar que a informação sobre os adenovírus replicantes estava nos relatórios
do Instituto Gamaleya.
Também disse ter questionado os cientistas do instituto
sobre isso e exibiu trechos de um vídeo de uma reunião como prova disso. O
Brasil "foi achincalhado", disse o presidente da Anvisa, Antônio
Barra, para justificar a decisão inédita da agência de mostrar a gravação.
O RDIF respondeu que o vídeo foi muito editado e não
confirma nada. Também afirmou que a Anvisa errou e que novos testes feitos na
Rússia e no Brasil mostram que não há vírus replicantes na Sputnik V.
Em
nota divulgada na quarta-feira (5/5), a agência voltou a se defender,
afirmando que ainda faltam dados. O que está sendo pedido aos russos é o mesmo
que foi solicitado a outros fabricantes das vacinas que já foram aprovadas,
disse a Anvisa.
"O que vem sendo exigido são questões básicas para uma
vacina e não são motivos para indignação e tentativa de difamação do Brasil e
dos seus servidores", afirmou a agência.
O presidente da Anvisa irá depor nesta quinta-feira (6/5) na
CPI da covid-19 no Congresso Nacional e será questionado sobre o veto à
importação da Sputnik V.
Vários governos estaduais e prefeituras, além do próprio
governo federal, já fizeram acordos para comprar milhões de doses da vacina
russa, em meio ao problema crônico de falta de vacinas no Brasil.
Tomado de correio basiliense
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