Entrevista:
Dernival ”Kiriri” dos Santos
No
interior da Bahia, mais precisamente no município de Banzaê, nordeste do estado, cerca de 3.200
indígenas localizados em 12 aldeias da Nação Kiriri agonizam sob o jugo da seca
e da fome. A falta de chuva castiga a região e barra a produção agrícola local,
composta basicamente por roças de feijão e milho. “O sofrimento piora a cada
dia. Os reservatórios estão vazios e muitas famílias estão sem condições de se sustentar”,
diz, consternado, Dernival dos Santos, o “Dernival Kiriri”, professor de
cultura indígena e administrador da Escola Estadual Índio Feliz. Em entrevista
exclusiva ao blog TerraGaia, o jovem Dernival, 28 anos, descreve a
dramática situação vivida pelos Kiriri do nordeste baiano e faz um contundente
apelo por doações de cestas básicas, uma medida que pode amenizar a situação de
penúria pela qual passam os indígenas da região. “Estamos vendo tudo se acabar
por causa da seca e da falta de chuva e de alimentos. Os animais estão morrendo
de fome e os nossos jovens estão sendo obrigados a sair de suas aldeias e
deixar suas famílias, seus costumes e tradições para ir em busca de
oportunidades em outras regiões do país”, relata.
Por Antonio
Carlos Teixeira
TerraGaia
- Como está a situação do povo Kiriri no nordeste da Bahia?
Dernival
Kiriri - A situação
em que se encontra a Nação Kiriri é de muita precariedade. Diante da falta de
chuva na região, o sofrimento piora a cada dia que passa por conta da escassez
de água nos reservatórios. No ano passado, o plantio de feijão e milho não teve
safra, fato que vem se agravando desde então, afetando também a safra da
castanha.
TerraGaia
– A falta de chuva na região provocou um estado de emergência?
Dernival - Sim. As lagoas, tanques,
barreiros, barragens, cisternas e açudes da região secaram. Até as nascentes
naturais (que chamamos de mimadores) também estão secando. Estamos vendo tudo
se acabar por causa da seca, da falta de chuva e de alimentos. Os animais estão
morrendo de forme e os nossos jovens estão sendo obrigados a sair de suas
aldeias e deixar suas famílias, seus costumes e tradições para ir em busca de
oportunidades em outras regiões do país.
TerraGaia
– A comunidade tem recebido apoio governamental?
Dernival – Os programas que foram
implantados pelos governos Federal e Estadual não estão sendo suficientes para
atender a todas essas demandas causadas pela seca.
eservatório
“esturricado”: seca castiga Banzaê
TerraGaia
- O que os Kiriri mais necessitam neste momento?
Dernival – De imediato, para amenizar a
situação de nosso povo, cestas básicas são muito bem vindas, pois muitas
famílias não têm condições de sustentar por conta própria, principalmente
aquelas com mais de oito filhos. Mas existem famílias com mais de 16 filhos. Essas
são as que estão sofrendo mais.
TerraGaia
- O que mais pode ser feito para ajudar os Kiriri do nordeste da Bahia?
Dernival – Doações de recursos financeiros.
Quem puder contribuir, temos uma conta no Banco do Brasil: número 6.388-8,
agência 4179-3.
O drama dos
índios Kiriri: a falta de chuva atinge principalmente crianças e anciãos
Mais
informações podem ser obtidas pelo telefone (75) 9807-7583 com o professor
Dernival Kiriri, ou na Escola Índio Feliz, localizada na Aldeia Cajazeira
(município de Banzaê, Bahia, Brasil).
Nota do
Editor
A área
indígena Kiriri de Canta Galo situa-se no município de Banzaê, no nordeste do
estado da Bahia, em uma zona de transição entre o agreste e o sertão. É ocupada
por uma população nativa de cerca de 3.200 indivíduos, mas seus 12.300 hectares
encontram-se invadidos por aproximadamente seis mil posseiros, fator que, no
passado, era fonte de inúmeros conflitos e de permanente tensão.
Historicamente,
os Kiriri foram aldeados por padres jesuítas na segunda metade do século XVII,
nesse mesmo território, nas antigas missões de Saco dos Morcegos, Senhor da
Ascenção dos Kiriri, Santa Tereza de Jesus dos Kiriri, Nossa Senhora das Brotas
de Natubá e Senhora do Socorro do Jeru. Atualmente os Kiriri se dividem em dois
grupos principais: Kiriri Mirandela e Kiriri Canta Galo. Outras comunidades
menores vivem em outras regiões da Bahia e do Brasil.
Os Kiriri,
que falam a língua Kipeá Kiriri, constituíam um ramo de um grande conjunto de
povos que as fontes históricas com pouca precisão mencionam pelo termo genérico
de Nação Cariri. Vários ramos se distribuíam por todo o Nordeste, desde o
Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte até os limites da Chapada Diamantina ao
centro do estado da Bahia, concentrando-se principalmente às margens dos rios
São Francisco e Itapicuru.
amília
Kiriri em Banzaê: doação de cestas básicas pode ajudar indígenas do nordeste da
Bahia a sobreviver aos impactos da seca e da falta de chuva na região
O
aldeamento desses povos, desde o princípio, se deu em um contexto de conflito
com a expansão de frentes pioneiras de criação de gado, que tinham no
território que margeia o rio São Francisco uma pastagem natural apropriada para
a criação extensiva. Assim, os interesses das ordens religiosas sempre
estiveram em conflito com os dos grandes criadores de gado, que não hesitavam
em destruir missões, expulsar os padres e massacrar ou escravizar índios. A
sobrevivência de algumas destas missões, como a de Saco dos Morcegos, no
caminho que liga o recôncavo baiano e a cidade de Salvador ao São Francisco,
deveu-se ao fato de elas constituírem pontos de apoio para a rota do gado, circulação
de mercadorias e viajantes, servindo como estalagens. Os índios aldeados
prestavam-se, desse modo, à proteção dessas rotas contra os índios brabos, isto
é, índios arredios ao contato que se refugiavam nas caatingas e atacavam os
viajantes e o gado.
As aldeias
que representam a Nação Kiriri no nordeste da Bahia são: Cajazeira, Lagoa
Grande, Segredo, Araçás, Baixa da Cangalha, Canta Galo, Baixa do Juá, Alta da
Boa Vista, Marcação, Mirandela, Pau Ferro e Gado Velhaco. (ACT)
Fotos:
Dernival ”Kiriri” dos Santos e Aparecido Silva da França
tomado de terragaia sugerido en red de prensa ambiental
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