Roupa de marca era feita com trabalho análogo a escravo
MARÍLIA ROCHA enviada especial a americana
Roupas fabricadas no interior de São Paulo por um grupo de
bolivianos submetidos a trabalho em condições análogas à da escravidão ganhavam
etiqueta de marca e depois eram distribuídas e vendidas numa das principais
rede de varejo do país.
A oficina de fundo de
quintal funcionava na cidade de Americana (127 km de São Paulo). Nela, ao menos
oito imigrantes produziam peças com a etiqueta "Basic +", sob
encomenda da empresa HippyChick.
A marca era vendida
nas Lojas Americanas --segundo a fiscalização, não ficou comprovada conivência
da rede de varejo com a produção terceirizada das roupas.
Avanço de casos de
trabalho degradante preocupa região de Americana
Empresas negam
participação em oficina com trabalho escravo
A situação degradante dos bolivianos foi descoberta pelo
Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho no fim do mês
passado.
A operação foi acompanhada pela reportagem.
Segundo o Ministério Público do Trabalho, "há provas
robustas da relação comercial" entre HippyChick e Americanas: depoimentos,
informações consignadas em ata, provas materiais (como a peça-piloto e as
etiquetas da marca) e uma prova informatizada (a HippyChick mantém um login de
acesso on-line para trocar pedidos e notas com a Americanas).
Responsável pela
oficina, o boliviano Gabriel Alanes Llusco disse que, a cada dez dias, tinha
que entregar mil peças para a HippyChick.
No momento da
operação, o barulho das máquinas se confundia com o de uma música em espanhol.
A área tem o teto baixo e fica apertada com muitas mesas de máquinas de
costura, cadeiras com estofamento improvisado e um amontoado de fios.
"Sei que
estávamos errados, mas preciso manter minha família e ganho menos com o
trabalho com carteira assinada", disse Eusebia Vilalobos, mulher de
Llusco, o responsável pela oficina.
"Tenho um irmão
em São Paulo com oficina de roupa regular. É o que a gente quer fazer aqui, mas
isso demora."
O caso foi enquadrado como trabalho escravo pela falta de
registro em carteira, condições degradantes de trabalho, moradia precária,
aliciamento de trabalhadores e indícios de jornada abusiva (com possibilidade
de trabalho noturno).
Em 2011, a Polícia
Federal já havia identificado a situação irregular de seis bolivianos na mesma
oficina.
Na época, houve
aplicação de multa e, em 2012, o Ministério Público do Trabalho de Campinas
iniciou um procedimento contra a HippyChick, que, mesmo sob outra direção,
havia usado a mesma tecelagem para produzir peças da marca repassadas às Lojas
Americanas.
Agora, o Ministério
Público do Trabalho firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com
representantes da HippyChick. No início deste mês, a empresa pagou R$ 5.000 de
indenização a cada boliviano, além de verbas rescisórias (salário, 13º, férias
e FGTS).
Também foi oferecido
emprego aos funcionários, mas eles não aceitaram. Segundo o Ministério do
Trabalho, duas bolivianas que estavam na oficina deixaram o local antes de
receber a verba, por medo de serem prejudicadas com o acordo.
tomado de folha de san pablo
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