Pesquisas comprovam que leite materno ajuda a desenvolver
mais rapidamente os cérebros de crianças nascidas antes do tempo previsto, em
comparação às nutridas com fórmula. Exames mostram maior produção de
substâncias associadas à maturação do órgão
CB Correio Braziliense
Nascidos antes da 32ª semana gestacional, os microprematuros
pesam menos de 1,5kg: benefícios neurológicos sob todos os aspectos avaliados
pelos especialistas(foto: Monique Renne/Esp. CB/D.A Press - 26/9/207 )
Nascidos antes da 32ª semana gestacional, os microprematuros
pesam menos de 1,5kg: benefícios neurológicos sob todos os aspectos avaliados
pelos especialistas
(foto: Monique Renne/Esp. CB/D.A Press - 26/9/207 )
Microprematuros que consomem leite materno têm níveis
significativamente mais altos de metabólitos importantes para o crescimento e a
maturação do cérebro, mostrou uma pesquisa do Children’s National Health
System, nos Estados Unidos, apresentada no Encontro de 2019 das Sociedades
Acadêmicas Pediátricas. Esses bebês, que pesam menos de 1,5kg e nascem antes da
32ª semana gestacional, precisam de cuidados especiais e são internados em
unidades de terapia intensiva neonatal até se desenvolverem suficientemente.
No Brasil, um estudo de 2016 da Fundação Oswaldo Cruz
revelou que 11,5% das crianças nascem antes da 37ª semana; dessas, 26% são
microprematuras. De acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças,
cerca de 1 em cada 10 partos nos Estados Unidos ocorrem antes do tempo
previsto.
O estudo do Children’s National Health System se baseou em
imagens radiológicas para investigar o cérebro de pequeninos pacientes que
deram entrada na UTI neonatal da instituição de saúde na primeira semana de
vida. “Uma pesquisa que realizamos anteriormente mostrou que bebês prematuros
vulneráveis, alimentados com leite materno no início da vida, melhoraram o
crescimento do cérebro e, consequentemente, o desenvolvimento neurológico. Não
estava claro, porém, o que torna a amamentação tão benéfica para o
desenvolvimento de cérebros”, conta Catherine Limperopoulos, especialista em
ressonância magnética do cérebro infantil.
Ressonância
Para tentar descobrir os mecanismos por trás dessa proteção,
os pesquisadores, liderados por Limperopoulos, realizaram um exame não invasivo
nos bebês, chamado espectroscopia de ressonância magnética de prótons, que
descreve a composição química de estruturas cerebrais específicas. “O exame nos
permite medir metabólitos essenciais para o crescimento e responder a essa
questão. A espectroscopia de ressonância magnética de prótons pode servir como
uma ferramenta adicional importante para avançar nossa compreensão de como a
amamentação estimula o desenvolvimento neurológico de bebês prematuros”,
acrescenta Limperopoulos.
Segundo a especialista, cada substância química gerada pelo
cérebro possui uma “impressão digital” espectral única. A equipe analisou as
assinaturas dos principais metabólitos implicados com o desenvolvimento
cerebral e calculou a quantidade de cada um deles. Os resultados mostraram, na
matéria branca cerebral, níveis significativamente altos de inositol — uma
molécula semelhante à glicose — nos bebês alimentados com leite materno, em
comparação àqueles que ingeriam fórmulas.
No cerebelo, eles encontraram uma quantidade muito mais
elevada de creatinina nos primeiros, em comparação aos segundos. Bebês
amamentados pelas mães também exibiram níveis maiores de creatina e colina, um
nutriente solúvel em água. Todas essas substâncias estão envolvidas com o
desenvolvimento cerebral.
“Os principais níveis de metabólitos aumentam durante os
períodos em que o cérebro dos bebês experimenta um crescimento exponencial”,
diz Katherine M. Ottolini, primeira autora do estudo. “A creatina facilita a
reciclagem de ATP, a moeda energética da célula. Maiores quantidades desse
metabólito relaciona-se a mudanças mais rápidas e maior maturação celular. A
colina é um marcador da renovação da membrana celular; quando novas células são
geradas, vemos os níveis de colina subirem”, esclarece.
Prognósticos
O estudo norte-americano vai ao encontro de um trabalho
britânico divulgado no fim do ano passado pela Universidade de Edimburgo. Os
pesquisadores também constataram que bebês prematuros demonstraram melhor
desenvolvimento cerebral quando receberam leite materno. As 47 crianças
incluídas na investigação nasceram antes da 33ª semana de gestação, e os exames
de ressonância magnética cerebral foram realizados quando elas atingiram a
idade equivalente à de um bebê nascido na época certa — por volta da 40ª
semana. Os cientistas coletaram informações de como eles foram amamentados
enquanto estavam no tratamento intensivo: leite em pó ou materno (da mãe ou de
uma doadora).
As crianças que receberam exclusivamente leite materno, por
pelo menos três quartos dos dias que passaram no hospital, apresentaram melhor
conectividade cerebral em comparação às outras. Quanto maior o tempo de consumo
desse alimento, maiores os efeitos observados. “Esse estudo destacou a
necessidade de mais pesquisas para entender o papel da nutrição no início da
vida para melhorar os prognósticos, a longo prazo, de bebês prematuros. Mães de
prematuros devem receber apoio para fornecer leite materno enquanto seus bebês
estiver em cuidados neonatais porque isso pode dar a seus filhos a melhor
chance de desenvolvimento cerebral saudável”, comentou James Boardamn, diretor
do Laboratório de Pesquisa Jennifer Brown da Universidade de Edimburgo e
condutor do estudo. // tomado de correio brasiliense
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