SUPERFUNGO CAUSA GRAVES INFECÇÕES EM PACIENTES COM IMUNIDADE
BAIXA
Autoridades de saúde pública preocupam-se com um fungo
resistente, que, em pacientes imunossuprimidos, causa graves infecções. Há
casos registrados em mais de 20 países e, embora não seja tão contagiante
quanto um vírus, o micro-organismo pode matar
PO Paloma Oliveto
O superfungo Candida auris se prolifera quando o sistema
imunológico está debilitado: transmissão por contato(foto: CDC/Divulgação )
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O mapa deixa claro: não se trata de algo isolado. Até agora,
mais de 20 países registraram pacientes de uma doença provocada pelo fungo
Candida auris, que é resistente aos medicamentos disponíveis no mercado. No
Brasil, não há notificações, mas, nos vizinhos Colômbia e Venezuela, ele já foi
detectado em hospitais. Nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, múltiplos
casos deixam as autoridades de saúde pública em alerta. O problema é que
ninguém sabe dizer o motivo pelo qual a levedura, identificada pela primeira
vez em 2009, no Japão, emergiu e por que 90% das infecções são resistentes a
pelo menos um medicamento, e 30% a mais de duas drogas. Algumas cepas não
respondem a nenhum antifúngico.
Na semana passada, uma reportagem do The New York Times
revelou que, nos Estados Unidos, foram reportados 587 casos desde 2013, sendo a
maioria, 309 deles, apenas em Nova York e 104 na vizinha Nova Jersey. Segundo o
jornal, em Chicago, 50% dos residentes de instituições para idosos testaram
positivo para o fungo, que pode crescer e se reproduzir em respiradores e
cateteres intravenosos. A Candida auris faz parte da microbiota humana e não
prejudica o organismo, mas é um micro-organismo oportunista: quando o sistema
imunológico está debilitado, ela se prolifera, causando infecções que, em
pessoas já doentes, podem matar.
Diferentemente de outras espécies do gênero Candida, como a
bem conhecida Candida albican, causadora da candidíase, a C. auris vive por até
mais de um mês na pele e em superfícies, incluindo móveis, lençóis, colchões,
travesseiros e equipamentos médicos. Citado pelo Times, Tom Chiller, que dirige
o setor de fungos do CDC, o órgão de vigilância e controle de doenças
norte-americanos, disse: “O fungo borbulhou e agora está em toda parte”. Ele
não é transmitido pelo ar, como um vírus, mas por meio do contato com objetos
(ou mãos) infectados. Em uma pessoa imunossuprimida, a levedura pode provocar
feridas, infecções na corrente sanguínea e no ouvido.
Negligência
Para Matthew C. Fisher, pesquisador do Imperial College
London que, em 2015, publicou uma revisão sobre a C. auris, doenças causadas
por fungos costumam ser “muito negligenciadas em relação a outras classes de
doenças infecciosas, apesar de sua onipresença”. De acordo com o
infectologista, a mortalidade por enfermidades fúngicas excede os resultantes
de malária ou câncer de mama, sendo comparável às de tuberculose e HIV. Ele
cita um artigo de 2012, que saiu na revista Science Translational Medicine,
segundo o qual 1,5 milhão de pessoas morrem, anualmente, devido a infecções
causadas por fungos.
O infectologista Leandro Machado, mestre em infectologia e
medicina tropical, explica que, assim como vem ocorrendo com bactérias, alguns
tipos de fungo tornam-se resistentes a medicamentos devido ao excesso de uso
dos medicamentos usados para combatê-los. “O controle da venda e prescrição é
menor do que o que se tem com antibióticos”, observou. O médico observa que
pacientes já imunossuprimidos, como os que passaram por transplante de medula
ou com cânceres hematológicos, são tratados com antifúngicos de forma empírica
quando apresentam febres prolongadas. Embora seja uma medida importante para
evitar infecções severas, ele ressalta a importância de se identificar o mais
rápido possível a presença do fungo no organismo porque, caso contrário, é
preciso interromper a medicação e, assim, evitar que as espécies se tornem
resistentes.
Fisher, do Imperial College, acredita que a resistência
esteja muito associada também ao excesso de antifúngicos utilizados na
agropecuária. Além disso, as características genéticas das espécies dificulta o
trabalho dos medicamentos. “Os fungos têm genomas extremamente plásticos e se
reproduzem fácil. A combinação dessas propriedades gera rapidamente variantes
selecionadas para a resistência”, disse. Ele ressaltou a importância de se
desenvolver novas drogas e afirmou que isso não deve demorar a acontecer, pois
estudos de fase 1, 2 e 3 têm obtido bons resultados.
Uma substância considerada promissora é a Ibrexafungerp, um
antifúngico de amplo espectro que, em estudos de fase 3 — a última, antes de um
medicamento ser lançado no mercado, caso seja aprovado —, conseguiu combater
infecções resistentes, incluindo a por C. auris. Resultados de seis estudos
sobre o remédio serão apresentados no 29º Congresso Europeu de Microbiologia
Clínica e Doenças Infecciosas, que começa hoje em Amsterdã, na Holanda. Em um
comunicado de imprensa, David Angulo, chefe do departamento médico da empresa
de biotecnologia Scynexis, que desenvolveu o composto, disse que “é evidente a
necessidade de uma nova e mais potente terapia antifúngica, particularmente um
agente oral, para tratar pacientes com essas infecções devastadoras”.
Vigilância no Brasil
O Brasil não tem casos registrados de Candida auris. Não
existe, no país, uma estratégia específica voltada ao monitoramento dessa
levedura, mas, de acordo com o secretário nacional de Vigilância em Saúde,
Wanderson Kleber de Oliveira, o Ministério da Saúde está criando um sistema de
vigilância contra fungos. Em janeiro, quatro pastas, inclusive a da Saúde,
lançaram um programa de combate à resistência a antimicrobianos. // tomada de
correio brasiliense
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