martes, 16 de abril de 2019

SUPERFUNGO CAUSA GRAVES INFECÇÕES EM PACIENTES COM IMUNIDADE BAIXA


SUPERFUNGO CAUSA GRAVES INFECÇÕES EM PACIENTES COM IMUNIDADE BAIXA
Autoridades de saúde pública preocupam-se com um fungo resistente, que, em pacientes imunossuprimidos, causa graves infecções. Há casos registrados em mais de 20 países e, embora não seja tão contagiante quanto um vírus, o micro-organismo pode matar
PO Paloma Oliveto
O superfungo Candida auris se prolifera quando o sistema imunológico está debilitado: transmissão por contato(foto: CDC/Divulgação )
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O mapa deixa claro: não se trata de algo isolado. Até agora, mais de 20 países registraram pacientes de uma doença provocada pelo fungo Candida auris, que é resistente aos medicamentos disponíveis no mercado. No Brasil, não há notificações, mas, nos vizinhos Colômbia e Venezuela, ele já foi detectado em hospitais. Nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, múltiplos casos deixam as autoridades de saúde pública em alerta. O problema é que ninguém sabe dizer o motivo pelo qual a levedura, identificada pela primeira vez em 2009, no Japão, emergiu e por que 90% das infecções são resistentes a pelo menos um medicamento, e 30% a mais de duas drogas. Algumas cepas não respondem a nenhum antifúngico.
Na semana passada, uma reportagem do The New York Times revelou que, nos Estados Unidos, foram reportados 587 casos desde 2013, sendo a maioria, 309 deles, apenas em Nova York e 104 na vizinha Nova Jersey. Segundo o jornal, em Chicago, 50% dos residentes de instituições para idosos testaram positivo para o fungo, que pode crescer e se reproduzir em respiradores e cateteres intravenosos. A Candida auris faz parte da microbiota humana e não prejudica o organismo, mas é um micro-organismo oportunista: quando o sistema imunológico está debilitado, ela se prolifera, causando infecções que, em pessoas já doentes, podem matar.
Diferentemente de outras espécies do gênero Candida, como a bem conhecida Candida albican, causadora da candidíase, a C. auris vive por até mais de um mês na pele e em superfícies, incluindo móveis, lençóis, colchões, travesseiros e equipamentos médicos. Citado pelo Times, Tom Chiller, que dirige o setor de fungos do CDC, o órgão de vigilância e controle de doenças norte-americanos, disse: “O fungo borbulhou e agora está em toda parte”. Ele não é transmitido pelo ar, como um vírus, mas por meio do contato com objetos (ou mãos) infectados. Em uma pessoa imunossuprimida, a levedura pode provocar feridas, infecções na corrente sanguínea e no ouvido.
Negligência
Para Matthew C. Fisher, pesquisador do Imperial College London que, em 2015, publicou uma revisão sobre a C. auris, doenças causadas por fungos costumam ser “muito negligenciadas em relação a outras classes de doenças infecciosas, apesar de sua onipresença”. De acordo com o infectologista, a mortalidade por enfermidades fúngicas excede os resultantes de malária ou câncer de mama, sendo comparável às de tuberculose e HIV. Ele cita um artigo de 2012, que saiu na revista Science Translational Medicine, segundo o qual 1,5 milhão de pessoas morrem, anualmente, devido a infecções causadas por fungos.
O infectologista Leandro Machado, mestre em infectologia e medicina tropical, explica que, assim como vem ocorrendo com bactérias, alguns tipos de fungo tornam-se resistentes a medicamentos devido ao excesso de uso dos medicamentos usados para combatê-los. “O controle da venda e prescrição é menor do que o que se tem com antibióticos”, observou. O médico observa que pacientes já imunossuprimidos, como os que passaram por transplante de medula ou com cânceres hematológicos, são tratados com antifúngicos de forma empírica quando apresentam febres prolongadas. Embora seja uma medida importante para evitar infecções severas, ele ressalta a importância de se identificar o mais rápido possível a presença do fungo no organismo porque, caso contrário, é preciso interromper a medicação e, assim, evitar que as espécies se tornem resistentes.
Fisher, do Imperial College, acredita que a resistência esteja muito associada também ao excesso de antifúngicos utilizados na agropecuária. Além disso, as características genéticas das espécies dificulta o trabalho dos medicamentos. “Os fungos têm genomas extremamente plásticos e se reproduzem fácil. A combinação dessas propriedades gera rapidamente variantes selecionadas para a resistência”, disse. Ele ressaltou a importância de se desenvolver novas drogas e afirmou que isso não deve demorar a acontecer, pois estudos de fase 1, 2 e 3 têm obtido bons resultados.
Uma substância considerada promissora é a Ibrexafungerp, um antifúngico de amplo espectro que, em estudos de fase 3 — a última, antes de um medicamento ser lançado no mercado, caso seja aprovado —, conseguiu combater infecções resistentes, incluindo a por C. auris. Resultados de seis estudos sobre o remédio serão apresentados no 29º Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, que começa hoje em Amsterdã, na Holanda. Em um comunicado de imprensa, David Angulo, chefe do departamento médico da empresa de biotecnologia Scynexis, que desenvolveu o composto, disse que “é evidente a necessidade de uma nova e mais potente terapia antifúngica, particularmente um agente oral, para tratar pacientes com essas infecções devastadoras”.
Vigilância no Brasil
O Brasil não tem casos registrados de Candida auris. Não existe, no país, uma estratégia específica voltada ao monitoramento dessa levedura, mas, de acordo com o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, o Ministério da Saúde está criando um sistema de vigilância contra fungos. Em janeiro, quatro pastas, inclusive a da Saúde, lançaram um programa de combate à resistência a antimicrobianos. // tomada de correio brasiliense

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