Pesquisadores estadunidenses e brasileiros têm resultados
promissores em experimentos usando drogas com potencial para conter a
multiplicação do Sars-Cov-2. Ambos os medicamentos já são prescritos para
humanos no tratamento de outras doenças
VS Vilhena Soares
Timothy Sheahan, líder do estudo norte-americano: uso de
medicamento desenvolvido para tratar o ebola(foto: Mary Lide Parker/Divulgação)
Cientistas seguem na busca por estratégias que possam
combater a Covid-19, e uma das mais estudadas é o uso de antivirais.
Dois novos projetos, conduzidos por cientistas americanos e brasileiros, têm
apresentado efeitos promissores em células humanas infectadas pelo Sars-Cov-2.
Os resultados foram publicados, respectivamente, na última edição da
revista Science Translational Medicine e na plataforma
BiorXiv.
Os autores do estudo americano explicam que o medicamento
EIDD-2801 é semelhante ao remdesivir, um antiviral desenvolvido para tratar
ebola e que já se mostrou promissor no combate ao novo coronavírus em outras
análises científicas. Agora, a equipe testou primeiro a forma ativa do
EIDD-2801 contra Sars-Cov-2 e o vírus Mers em linhagens de células epiteliais
pulmonares cultivadas in vitro. Logo em seguida, a ação do medicamento foi
observada contra o vírus da Covid-19, o da Mers e o da Sars em células epiteliais
primárias das vias aéreas humanas. Em todas as análises, os resultados foram
positivos. Segundo os cientistas, o medicamento inibiu a replicação viral,
evitando efeitos tóxicos nas células cultivadas.
Em uma segunda etapa, os investigadores administraram o
EIDD-2801 por via oral em camundongos antes ou até 48 horas após a infecção
pelos vírus da Sars e da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers),
constatando que a droga melhorou a função pulmonar, reduziu a carga viral
e impediu a perda de peso nos camundongos infectados. “Quando administrado como
tratamento 12 ou 24 horas após o início da infecção, o EIDD-2801 pode reduzir o
grau de dano pulmonar e perda de peso em camundongos. Esperamos que essa janela
de oportunidade seja mais longa em humanos, porque o período entre o início
dessa doença e a morte é geralmente prolongado em humanos, em comparação com
ratos”, escreveram.
Os pesquisadores também destacam que a droga pode oferecer
várias vantagens terapêuticas sobre outros medicamentos em teste. Isso porque,
diferentemente do remdesivir, por exemplo, ela não precisa ser administrada por
via intravenosa. “O EIDD-2801 é um medicamento oral que pode ser administrado
em casa, logo após o diagnóstico”, destacou, em comunicado, Timothy Sheahan,
principal autor do estudo e pesquisador da Escola de Saúde Pública Global da
UNC-Chapel Hill Gillings, nos Estados Unidos. A facilidade favorece o
tratamento de pacientes menos doentes ou na profilaxia — por exemplo, em um lar
de idosos em que muitas pessoas foram expostas, mas não estão doentes.
Análise comparativa
Werciley Junior, infectologista e chefe da Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, ressalta
que os antivirais focam em uma estratégia diferente de outros medicamentos
testados para a Covid-19. “A doença ocorre em uma série de fases, uma delas é a
multiplicação do vírus. É nela que esses remédios querem agir, impedindo a
replicação no organismo. Já outras drogas, como a cloroquina, dão foco na
inflamação provocada pela enfermidade, tentando diminuí-la”, explicou.
O médico ressalta que o estudo segue uma linha comum, que é
testar o poder dos antivirais no combate à Covid-19, mas precisa de mais
análises. “Esse é um estudo comparativo, feito com vírus semelhantes, e que
mostrou potencial com a redução da carga viral, mas é preciso ser testado
também em humanos”, ponderou. “Precisamos ver se esses efeitos vão além do
laboratório.”
Os cientistas destacaram, no estudo, que pretendem
realizar testes clínicos o mais rápido possível. “Em tempos normais, o
teste em primatas não humanos seria o próximo passo óbvio. Como não são tempos
normais, isso pode ser ignorado e avaliado sob uso compassivo e em ensaios
clínicos estabelecidos em humanos. O objetivo é atacar diretamente o vírus,
diminuir os sintomas, reduzir a patogênese e salvar vidas”, detalhou Timothy
Sheahan.
TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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