Estudo aponta situação crítica do Saco da Mangueira Fabio Dutra/JA Realidade de degradação
ambiental motivou a professora do Instituto de Oceanografia (Furg), Maria da
Graça Zepka Baumgarten, juntamente a
acadêmica de Oceanologia, Vivian Freitas
Aguiar, a desenvolver a pesquisa Rio Grande fica numa área peninsular e, de
acordo com informações do site da Prefeitura Municipal, o Saco da Mangueira é
uma enseada com, aproximadamente, 32 quilômetros quadrados. "Em suas
margens, encontram-se banhados salgados, campos litorâneos, dunas e arroios de
sua microbacia hidrográfica. Essas áreas rasas são consideradas vitais para o
estuário da Lagoa dos Patos, tendo em vista a alta produtividade que exibe e a
sua importância como abrigo e alimentação para a fauna local, viveiro de
espécies, principalmente, o camarão e outras também comercializáveis, que as
utilizam como criadouro. Portanto, o Saco da Mangueira possui intensas
potencialidades, sendo de extrema importância para o setor pesqueiro da cidade.
Em seu entorno, habita uma considerável população de pessoas, e muitas delas
dedicam-se à atividade pesqueira como profissão ou como complemento a outras
atividades", está registrado no site. Mas, quais as condições atuais desse
recurso natural que é de tamanha importância para o nosso Município?
Hoje, as margens do Saco da Mangueira que circundam a cidade
estão ocupadas pelos fundos de vários condomínios, de residências de vários
níveis sociais, de instalações comerciais e de muitas ocupações clandestinas.
Na margem oposta à cidade, está o Distrito Industrial do Rio Grande. O Saco da
Mangueira é, teoricamente, protegido pela legislação ambiental, pois, em 1995,
a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) classificou suas águas como
Classe B, determinando, oficialmente, que as águas da enseada só poderão
receber efluentes tratados. Entretanto, não é o que vem acontecendo. O
engenheiro mecânico, hidráulico e de saneamento João Ivo Avelandra de Souza, de
75 anos, há muito tempo vem denunciando a situação degradante que encontra na
enseada. Segundo ele, a cidade literalmente "virou as costas para o Saco
da Mangueira". Essa realidade de
degradação ambiental motivou a professora do Instituto de Oceanografia, da
Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Maria da Graça Zepka Baumgarten,
juntamente com a acadêmica de Oceanologia, Vivian Freitas Aguiar, a desenvolver
a pesquisa "Identificação dos principais locais de lançamento de efluentes
nas margens da enseada estuarina Saco da Mangueira". O projeto contou
também com a colaboração dos acadêmicos Horácio Rodrigo Rodrigues e Marco
Antônio Oliveira. Lançamento de
efluentes Ao longo de 2013 e 2014, eles avaliaram toda a margem da enseada,
identificando e georreferenciando (localização precisa) os locais de lançamento
de efluentes. Estes foram mapeados, caracterizados e fotografados. Além disso,
em cada efluente, foi feita uma análise química qualitativa instantânea usando
um kit analítico portátil, para avaliar o nível de contaminação por matéria
orgânica. Foram identificados 51 efluentes, sendo apenas dois fluviais naturais
e 49 de origem antrópica (ação humana), sendo 14 industriais, 8 domésticos, 21
domésticos ligados clandestinamente na rede pluvial e seis pluviais. Deste
total de efluentes, 49 % são lançados com contaminação e 51% sem contaminação.
"Os locais dos lançamentos dos efluentes foram plotados no mapa do Saco da
Mangueira, onde cada efluente foi identificado com um círculo azul, sendo que
quanto mais forte o tom do azul, maior a contaminação do efluente",
explicou Maria da Graça. Ao analisar a
documentação fotográfica obtida de todos efluentes, a professora comentou:
"entre tantas fotos de efluentes, chama a atenção as de uma valeta que
deságua no Saco da Mangueira, na área do Distrito Industrial. Ela fica ao lado
de uma indústria de grande porte, onde nos informaram que a valeta servia para
drenagem pluvial da planta industrial. Entretanto, nos dias da avaliação no
nosso estudo, não ocorreu chuva, e a água que corria na valeta era escura,
oleosa, com alto nível de contaminação". A pesquisa aponta que o número de
efluentes sendo lançado no Saco da Mangueira mais que duplicou desde o último
levantamento efetuado, em 1993, pela Universidade. "Isso é consequência do
crescimento demográfico não planejado ao qual a cidade vem sofrendo, e da
carência de uma rede de coleta de esgotos mais abrangente, já que, segundo
dados oficiais, essa rede contempla apenas cerca de 33% da Cidade",
destacou. Cabe salientar que, de acordo com dados do IBGE, Rio Grande conta com
206 mil habitantes. Saúde ambiental do
local Um dos problemas mais graves apontado em relação à saúde ambiental
das águas da enseada é o excesso de matéria orgânica liberada por estes
efluentes identificados. A degradação microbiológica desse material na água
resulta na liberação de um excesso de compostos químicos que favorecem a
proliferação de colônias de cianobactérias oportunistas, conhecidas na região
como "ranho de marinheiro", devido à consistência gelatinosa e verde.
"Estas florações acumulam-se nas margens do Saco da Mangueira e acabam
depositando-se no fundo da água, diminuindo a oxigenação e proporcionando a
formação de gases e compostos tóxicos para os seres vivos naturais". É
importante ressaltar que o local é de extrema importância para o setor
pesqueiro da cidade, como bem destaca o site oficial da Prefeitura Municipal. Maria
da Graça ressaltou que o diagnóstico gerado pela pesquisa evidencia a urgência
da adoção de ações mais efetivas de fiscalização municipal e estadual, além do
estabelecimento de políticas públicas que visem à identificação e à cobrança de
quem é o responsável jurídico ou físico do problema detectado em cada local do
Saco da Mangueira. "Nisso se inclui o grave crescimento do aterro das
margens da enseada, com pneus e entulhos, na área que circunda a Cidade". "O ideal é que fossem impedidos,
diminuídos ou pelo menos amenizados os lançamentos clandestinos de efluentes
contaminados na enseada e estes aterros clandestinos, visando melhorar a
qualidade das suas águas, tanto para o interesse econômico, social e
paisagístico como para a Cidade", conclui a professora. Problema é antigo O engenheiro João Ivo
Avelandra de Souza destaca que há 50 anos a situação vem se agravando.
"Minha preocupação é com o fenômeno de engordamento das margens. Estão
mudando a configuração da orla. Se continuar assim, acredito que em 30 ou 40
anos não exista mais o Saco da Mangueira". lamenta o engenheiro. Souza é inventor do Aerovor, um equipamento
que é capaz de recuperar os meios hídricos poluídos, como lagos e rios, devolvendo-lhes
suas condições originais. "É preciso, urgentemente, tratar todos os
efluentes antes que eles sejam lançados no Saco da Mangueira", ressaltou. Resgate da qualidade dos recursos hídrocos
é um desafio Para a secretária de Município de Meio Ambiente, Miriam
Balestro Floriano, um dos desafios do contrato assinado com a Corsan é o
resgate da qualidade dos recursos hídricos da Cidade. "E o Saco da
Mangueira é uma das prioridades. É uma área de grande importância
ambiental", destacou a secretária. Segundo Miriam, o novo contrato
assinado entre o Município e a Corsan prevê um Fundo para Saneamento Ambiental
e uma das prioridades será o tratamento dos efluentes que chegam ao Saco da
Mangueira. A secretária informou que, em relação ao lançamento de efluentes
contaminados por parte de condomínios que ficam na margem da enseada, há
algumas notificações feitas pela Secretaria. "Na nossa gestão, não
licenciamos nenhum projeto que não atenda à questão de saneamento. Inclusive o
Ministério Público Federal está desenvolvendo um trabalho em relação a
isso", informou a secretária, ressaltando ainda que um dos grande
problemas são as redes de esgoto clandestinas. O prefeito Alexandre Lindenmeyer
disse que não tinha conhecimento da pesquisa desenvolvida pela Furg, mas disse
que será extremamente importante para mapear as prioridades no que se refere a
tratamento de esgoto do Município. Lindenmeyer confirmou que apenas 33% da
cidade é contemplada com rede de esgoto, mas que há investimentos do PAC que
deverão permitir que essa rede passe a contemplar de 48 a 49%. Por Eduarda
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