Mapeamento leva a grupos de genes ligados à densidade
mineral óssea estimada, um dos principais indicativos da doença. Trabalho de
cientistas canadenses poderá ajudar no desenvolvimento de remédios mais
eficazes
VS Vilhena Soares
(foto: Editoria de
Arte/CB)
A osteoporose é um dos problemas de saúde relacionado
à idade mais comuns na população, com previsão de aumento de casos. Ela se
caracteriza pela redução progressiva da força óssea, que resulta em alto risco
de fratura. Especialmente entre idosos, as fraturas podem ter consequências
graves, incluindo o risco de morte. Para tratar de maneira mais eficaz esses
pacientes, pesquisadores canadenses criaram um atlas de fatores genéticos
relacionados à doença. Por meio dos dados levantados, eles pretendem ajudar na
criação de medicamentos e aperfeiçoar os que já são usados.
O trabalho, divulgado recentemente na revista Nature
Genetics, mostra o resultado de uma análise genética feita com 426.824
indivíduos. Os pesquisadores identificaram 518 genes, dos quais 301 foram
descobertos recentemente. Segundo os autores, o material mapeado explica 20% da
densidade mineral óssea estimada (DMO), um dos fatores clínicos mais relevantes
no diagnóstico da osteoporose.
Ao refinar ainda mais a análise, os cientistas isolaram um
conjunto de genes com maior potencial para se tornar alvo de drogas. “Essa
precisão que a genética nos oferece deve nos permitir aprimorar os fatores que
podem ter o maior efeito na melhora da densidade óssea e na redução do risco de
fratura”, explica, em comunicado, John Morris, principal autor do estudo e
pesquisador da Universidade no Instituto Lady Davis (LDI, em inglês).
Novas investigações sobre a osteoporose também poderão ser
beneficiadas, diz Morris. “Poucas doenças, atualmente, têm centenas de dados
genômicos. Nossa pesquisa facilitará também mais estudos sobre a biologia
óssea, a ajudar a entender os diversos fatores envolvidos nesse sistema”,
explica.
Sandra Maria Andrade, reumatologista do Hospital Santa
Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Reumatologia
(SBR), destaca que a pesquisa mostra dados ainda mais robustos de um tema
conhecido na área médica, a relação do DNA com a osteoporose. “Já sabíamos que
existem fatores genéticos determinantes. Sabemos também que mulheres apresentam
mais chances de ter esse problema do que os homens, uma interferência de
gênero. Mas o interessante do artigo é que ele vai além disso. Por meio de uma
biblioteca de dados, eles conseguiram quantificar esses genes”, diz.
Avanço
terapêutico
Brent Richards, um dos autores do estudo e geneticista do
Centro de Epidemiologia Clínica do LDI, destaca a aplicabilidade da descoberta.
Segundo ele, o mapeamento dos fatores genéticos representa progressos
significativos no desenvolvimento de remédios. “Temos poucas opções de
tratamento e muitos pacientes com alto risco de fraturas que não tomam
medicamentos pela falta de resultados positivos. Esse conjunto de alterações
genéticas que influenciam a DMO fornece alvos de drogas que, provavelmente,
serão úteis para a prevenção de fraturas osteoporóticas”, justifica.
Há drogas atuais para evitar a perda óssea que devem ser
tomadas em horário rigoroso, o que dificulta a adoção do tratamento. De acordo
com Morris, a possibilidade de prescrever injetáveis que constroem os ossos
seria um avanço terapêutico. “Acreditamos que haverá maior sucesso em fazer com
que os pacientes sigam um regime de tratamento se ele for simplificado”,
explica.
Sandra Maria Andrade acredita que outra forma de explorar o
atlas da osteoporose é identificar razões que levam pacientes a não mais
responder ao tratamento prescrito. “Temos remédios que não agem da mesma forma
em todas as pessoas. Com esse levantamento genético, seria mais fácil entender
por que isso ocorre e agir para que fosse corrigido, deixando os ossos mais
resistentes e evitando, assim, as fraturas.” // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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