Jessica Brown - BBC Future
O peixe tem a reputação de ser um dos alimentos mais
saudáveis ??que podemos consumir.
Mas o aumento da disponibilidade de alternativas de origem
vegetal e as crescentes preocupações em relação à sustentabilidade dos frutos
do mar e à sua pegada de carbono levaram algumas pessoas a questionar se
precisamos dele em nossa alimentação.
Desde 1974, segundo a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), a população de peixes
dentro de níveis biologicamente sustentáveis ??caiu de 90% para pouco menos de
66% hoje.
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japonesa: deveríamos comer como os japoneses para viver mais?
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que se sabe sobre os efeitos da dieta vegana na inteligência
Enquanto isso, o receio em relação ao mercúrio e outros
poluentes indica que mulheres grávidas ou lactantes, por exemplo, devem limitar
o consumo de algumas espécies.
Afinal, comer peixe traz mais benefícios ou riscos à saúde?
Metais pesados
Nas últimas décadas, uma das maiores preocupações em relação
aos peixes tem sido seus níveis potencialmente prejudiciais à saúde de
poluentes e metais.
Getty ImagesNíveis potencialmente nocivos de poluentes e metais são fonte de preocupação
Entre eles, estão os bifenilos policlorados (PCBs). Embora
tenham sido proibidos na década de 1980, esses produtos químicos industriais
foram usados ??em grandes quantidades em todo o mundo — e ainda permanecem em
nosso solo e na água.
Eles têm sido associados a uma série de efeitos prejudiciais
à saúde — do sistema imunológico ao cérebro. Embora os PCBs estejam presentes
em tudo, de laticínios à água potável, os níveis mais elevados tendem a ser
encontrados em peixes.
A solução para limitar a ingestão de PCBs a partir de peixes
pode ser surpreendente, diz Johnathan Napier, diretor de ciências da Rothamsted
Research em Hertfordshire, na Inglaterra.
"O possível problema do acúmulo de componentes tóxicos
é provavelmente mais preocupante no caso das espécies selvagens capturadas para
consumo humano direto", explica.
Como os ingredientes de origem marinha que servem de
alimento aos peixes criados em cativeiro são lavados para remoção de toxinas,
esses peixes costumam ser mais seguros do que os selvagens.
Mas nem sempre é o caso, e o índice de PCB também varia
sazonalmente.
Embora sejam vistos geralmente como uma opção melhor para a
saúde e o meio ambiente, a aquicultura em larga escala apresenta seus próprios
problemas, ao poluir os oceanos com resíduos e se tornar criadouro de doenças
que podem se espalhar pela natureza.
O NHS, sistema público de saúde do Reino Unido, recomenda
que mulheres grávidas e lactantes limitem a ingestão de espécies de peixes com
maior probabilidade de conter PCBs, assim como outros poluentes, como dioxinas,
a duas porções por semana.
Isso inclui peixes oleosos como salmão e sardinha, assim
como peixes não oleosos, incluindo caranguejo e robalo. Uma porção equivale a
cerca de 140g.
Outra preocupação é o mercúrio, uma neurotoxina que pode
passar pela placenta e afetar o desenvolvimento do feto.
Há inúmeras associações entre a ingestão de mercúrio e
câncer, diabetes e doenças cardíacas. Embora o mercúrio possa ser encontrado em
outros alimentos, como legumes e verduras, um estudo mostrou que 78% da
ingestão de mercúrio era proveniente de peixes e frutos do mar.
Nos peixes, os níveis de mercúrio são altos o suficiente
para que o FDA, órgão regulador de alimentos e remédios nos Estados Unidos,
recomende que as gestantes limitem a ingestão de alguns peixes populares,
incluindo linguado e atum, a uma porção por semana.
Mas as preocupações em relação ao acúmulo de metais pesados
??nos peixes têm sido exageradas, diz Napier. Ele afirma que é um problema
apenas quando se trata de espécies que vivem muito tempo — como o peixe-espada,
que pode viver de 15 a 20 anos.
Getty ImagesUma vez que peixes oleosos como anchovas têm um
nível relativamente alto de toxinas conhecidas como PCBs, mulheres grávidas não
devem comer mais do que duas porções por semana
O peixe-espada tem uma concentração de mercúrio de 0,995
ppm, enquanto o salmão, que vive em média de quatro a cinco anos, possui cerca
de 0,014.
Embora pesquisas ainda estejam em andamento, a Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos afirma atualmente que, para mulheres
grávidas, a concentração média de mercúrio mais alta permitida por porção, se
comer uma porção por semana, é de 0,46 ppm.
Mas esse problema deve piorar, já que há evidências que
sugerem que os níveis de mercúrio encontrados no oceano podem aumentar à medida
que a temperatura do planeta sobe.
Pesquisas mostram que, conforme o gelo do Ártico derrete,
ele libera nas águas o mercúrio que ficou retido no solo congelado.
No entanto, embora o mercúrio represente um pequeno risco,
Napier diz que os peixes proporcionam muito mais ganhos — especialmente o ômega
3 marinho.
Ácidos graxos
O consumo de peixes oleosos, incluindo salmão, atum,
sardinha e cavalinha, tem sido associado a um menor risco de doenças
cardiovasculares, graças aos ácidos graxos do ômega 3 marinho, o ácido
eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA).
Algumas fontes vegetais de ômega 3, como sementes de linhaça
e nozes, são ricas em um terceiro tipo — o ALA. Um estudo de 2014 concluiu que
os benefícios para a saúde do coração do ômega 3 à base de plantas podem ser
comparáveis ??aos do EPA e DHA, mas ainda não há pesquisas que sustentem isso.
No entanto, você pode encontrar EPA e DHA em suplementos de
algas e em algas comestíveis.
"Tanto o EPA quanto o DHA desempenham uma infinidade de
papéis importantes no metabolismo humano, mas não podemos fabricá-los efetivamente
em nossos corpos, por isso é muito importante incluí-los como parte de nossa
dieta", explica Napier.
O DHA é abundante em nossos cérebros, retinas e outros
tecidos especializados. Junto com o EPA, ajuda a combater inflamações no corpo,
que estão associadas ao maior risco de doenças cardíacas, câncer e diabetes.
Getty ImagesEmbora você possa obter ômega 3 de suplementos de óleo de peixe, eles não são tão eficazes quanto comer o peixe propriamente dito
"Os dados populacionais que analisam os efeitos do
ômega 3 marinho na saúde são consistentes e fortes, e mostram que as pessoas
com maior ingestão de EPA e DHA apresentam um risco menor de desenvolver
doenças comuns, especialmente doenças cardíacas, e morrer delas", afirma
Philip Calder, chefe de desenvolvimento humano e saúde da Universidade de
Southampton, na Inglaterra.
Uma maneira de evitar potenciais danos à exposição ao
mercúrio e ainda obter ômega 3 é tomar suplementos de óleo de peixe. No
entanto, uma pesquisa realizada recentemente a pedido da Organização Mundial da
Saúde (OMS), analisando os suplementos de ômega 3 em uma variedade de quadros
de saúde, descobriu que eles não têm o mesmo efeito que comer peixes
gordurosos.
"Nossos corpos estão adaptados para metabolizar
alimentos inteiros, ao invés de uma única dose de um nutriente ou ingrediente
específico", diz Napier.
"Nossas descobertas sugerem um efeito benéfico muito
pequeno [em termos de redução do risco] de morte por doença coronariana",
acrescenta Lee Hooper, professora da Universidade de East Anglia, no Reino
Unido, e uma das pesquisadoras do estudo da OMS.
Cerca de 334 pessoas teriam que tomar suplementos de ômega 3
por quatro ou cinco anos para uma pessoa não morrer de doença cardíaca
coronária, segundo ela.
Mas há um problema com estudos populacionais como o de
Hooper. Embora alguns peixes oleosos, como a sardinha, não sejam relativamente
caros, o peixe geralmente é associado a uma dieta mais onerosa.
É amplamente aceito que o status socioeconômico afeta os
indicadores de saúde — portanto, é possível que as famílias que comem mais
peixe também tenham uma renda mais alta e estilos de vida mais saudáveis ??em
geral.
Normalmente, os pesquisadores levam em consideração esses
fatores, diz Calder, mas eles podem não pensar em tudo que poderia distorcer os
resultados de um estudo. O relatório da OMS foi uma revisão de 79 estudos, e
cada um deles controlava o status socioeconômico dos participantes de maneira
diferente.
Mas os estudos de intervenção, em que as pessoas são
aleatoriamente designadas a um grupo e a uma intervenção, como tomar
suplementos de ômega-3, e são avaliadas, também apresentam problemas.
Analisar os potenciais impactos para a saúde da deficiência
de EPA e DHA, por exemplo, é difícil, afirma Calder, uma vez que as pessoas
começam os testes com variados níveis de ômega-3 em seus sistemas.
Além disso, pesquisas mostram que os peixes podem impactar
nossa saúde em vários graus, dependendo de quão bem somos capazes de converter
formas precursoras de EPA e DHA. Essa diferença pode se resumir à alimentação e
ao estilo de vida de uma pessoa em geral, explica Calder, mas as diferenças
genéticas também podem desempenhar um papel nisso.
Getty ImagesO peixe costuma ser associado a uma alimentação mais cara — então será que quem come mais peixe tem uma renda mais alta e é mais saudável ??em geral?
Outra razão pela qual os benefícios dos peixes para a saúde
podem variar é a forma como os peixes são criados.
Os ecossistemas marinhos estão repletos de ômega 3: peixes
pequenos se alimentam de plâncton e são comidos por peixes maiores — e toda a
cadeia alimentar passa o ômega 3 para os seres humanos. Mas o sistema é
diferente para peixes em cativeiro, que é o que a maioria de nós consumimos.
"Em uma piscicultura, são apenas milhares de peixes em
uma gaiola. Eles comem o que recebem do criador de peixes", diz Napier.
Como fariam na natureza, os peixes em cativeiro normalmente
são alimentados com espécies de peixes menores. Na natureza, no entanto, os
peixes comem uma variedade de peixes menores. Nos criadouros, os peixes são
frequentemente alimentados com farinha de peixe feita de anchovas peruanas.
Mas essas anchovas já estão sendo pescadas no nível máximo
sustentável pela indústria, diz Napier — e a expectativa é que a aquicultura
global continue crescendo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura, a crescente demanda por suplementos de óleo de peixe
significa que o óleo de peixe contido na farinha de peixe fornecida aos peixes
de cativeiro está diminuindo. Ou seja, a quantidade de ômega-3 nos peixes que
consumimos também está menor.
"Há níveis finitos de óleo de peixe rico em ômega 3 que
sai do oceano a cada ano — é tudo o que temos", diz ele.
"Se a aquicultura está se expandindo, mas o insumo mais
importante que você precisa colocar na dieta das pessoas, o óleo de peixe, é
completamente estático, você está diluindo a quantidade que é fornecida aos
peixes."
Uma pesquisa de 2016 mostrou que os níveis de EPA e DHA em
salmão de cativeiro caíram pela metade ao longo de uma década. Mesmo assim, o
salmão cultivado ainda tem mais ômega-3 do que o salmão selvagem, afirma
Napier.
Getty ImagesA crescente demanda por suplementos de óleo de peixe significa que o nível de ômega 3 nos peixes que comemos está diminuindo
"O salmão selvagem nada para lá e para cá no Atlântico;
é um animal magro. Não está acumulando gordura porque está queimando tudo o que
consome", explica.
Comida para o cérebro
Além do ômega 3, o peixe tem outros nutrientes que fazem bem
à saúde, incluindo o selênio, que protege as células contra danos e infecções;
iodo, que suporta um metabolismo saudável; e proteína.
O peixe é considerado há muito tempo um "alimento para
o cérebro". E um estudo recente sugere que isso não se deve apenas ao seu
teor de ômega-3 — embora pesquisas também tenham encontrado uma relação entre o
ômega 3 e o declínio cognitivo mais lento.
Pesquisadores compararam o volume do cérebro de pessoas que
consumiam peixe com o daquelas que não consumiam — e descobriram que peixes
assados ??ou grelhados estão associados a maiores volumes de massa cinzenta,
independentemente dos níveis de ômega-3.
"O volume do nosso cérebro muda com a melhora da saúde
e a doença. Quanto mais neurônios você tem, mais volume cerebral você
tem", diz Cyrus Raji, professor assistente de radiologia e neurologia da
Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA.
Os pesquisadores compararam os hábitos alimentares e imagens
de ressonância magnética de 163 participantes que tinham, em média, mais de 70
anos.
E descobriram que, em comparação com os participantes que
não comiam peixe, aqueles que comiam peixe semanalmente tinham volumes
cerebrais maiores — principalmente no lobo frontal, que é importante para o
foco, e nos lobos temporais, cruciais para a memória, aprendizagem e cognição.
A relação entre os peixes e o cérebro pode ser devido ao
fato de os peixes terem um efeito anti-inflamatório, diz Raji, uma vez que
quando o cérebro reage para reduzir uma inflamação, ele pode afetar as células
cerebrais no processo.
Getty ImagesUma razão pela qual peixes e frutos do mar podem ser saudáveis ??é porque eles substituem alimentos menos saudáveis ??em nossas dietas
"Isso significa que você pode melhorar a saúde do
cérebro e prevenir o mal de Alzheimer com algo tão simples como o consumo
alimentar de peixes", sugere Raji.
Para tornar o cérebro o mais resistente possível à demência,
ele aconselha começar a comer peixe pelo menos uma vez por semana quando você
estiver na casa dos vinte ou trinta anos.
Outra razão pela qual os peixes podem ser saudáveis ??é
porque eles substituem alimentos menos saudáveis ??em nossas dietas.
"Se comermos mais peixe, tendemos a comer menos outras
coisas", diz Hooper.
Ainda assim, como não há pesquisas robustas que sugiram
problemas de saúde sérios para quem não come peixe, Calder diz que é difícil
afirmar categoricamente que o peixe é essencial para a saúde humana em geral.
No entanto, ele acrescenta, é claro que o ômega 3 promove a saúde e reduz o
risco de doenças.
Mas chegar ao fundo da questão sobre o quão saudável os
peixes realmente são ??pode ser irrelevante depois de um tempo.
"Como o peixe não é uma fonte alimentar sustentável, as
pesquisas agora provavelmente vão se concentrar em soluções para isso — como
cultivar algas e colher óleo rico em ômega 3, em vez de mais estudos sobre
peixes", avalia Calder.
As pessoas podem contribuir escolhendo as espécies de peixe
mais sustentáveis ??disponíveis.
Guias como o da Marine Conservation Society mostram quais
são os melhores, com 50 das 133 espécies listadas apontadas como escolhas
"boas", em sua maioria sustentáveis ??— incluindo, felizmente,
algumas opções populares, como salmão de cativeiro, camarão, bacalhau,
cavalinha, mexilhões, ostras e linguado de cativeiro.
Leia a versão
original desta reportagem (em inglês) no site BBC
Future.
// tomado de correio braziliense
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