Em meio a tanta expectativa e planejamento, a população brasileira está cheia de dúvidas e perguntas a respeito dos produtos
André Biernath - Da BBC News Brasil em São Paulo
A aprovação da CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e da CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca) representou um enorme avanço para conter a pandemia de covid-19, que já vitimou quase 210 mil brasileiros.
Essas duas vacinas são as primeiras a serem liberadas pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No domingo (17/01), técnicos
e diretores da agência sanitária brasileira se reuniram para tomar a decisão e
aceitar de forma emergencial a aplicação das doses.
Em meio a tanta expectativa e planejamento, a população
brasileira está cheia de dúvidas e perguntas a respeito dos produtos e, claro,
de como vai acontecer a campanha nacional de imunização contra a covid-19.
Prova disso é um levantamento feito pelo Google, ao qual
a BBC News Brasil teve acesso com exclusividade.
Algumas perguntas relacionadas à vacinação contra a covid-19
tiveram um crescimento de 2.500% nas buscas durante as últimas 24 horas.
- Os
países que lideram o ranking de vacinação no mundo
- Por
que alguns países são mais eficientes que outros na luta contra a covid-19
Confira abaixo as questões mais comuns e as respostas para
elas.
1. O que significa uso emergencial da vacina?
O uso emergencial é uma aprovação que as agências
regulatórias, como a Anvisa no Brasil e a FDA nos Estados Unidos, dão a
determinados produtos em caráter provisório e por um tempo determinado.
Essa liberação se baseia nas análises preliminares dos
testes clínicos. Esses estudos acompanham milhares de voluntários e geralmente
demoram alguns anos para serem finalizados.
O problema é que, durante uma pandemia que afeta milhões de
pessoas em todos os continentes, é impossível esperar tanto tempo para
encontrar uma solução.
Para acelerar um pouco esse processo, os cientistas
determinam um número mínimo de eventos. Em outras palavras, isso significa uma
quantidade de participantes do estudo que pegam covid-19.
A partir daí, é possível fazer comparações e cálculos para
determinar uma taxa de eficácia do imunizante e saber se ele é seguro e não
provoca efeitos colaterais graves.
A CoronaVac e a CoviShield passaram por todo esse processo
nos últimos meses e mostraram capacidade para conter a infecção pelo
coronavírus. Por isso, foram aprovadas para uso emergencial no Brasil.
É importante mencionar que isso não significa que os estudos
acabaram: eles continuarão pelos próximos meses para garantir que essas
observações iniciais se mantêm ao longo do tempo.
A partir dos dados completos, será possível pedir a
autorização definitiva dos produtos num futuro próximo.
2. O que é imunogenicidade?
A imunogenicidade é a capacidade que uma vacina tem de gerar
uma resposta imune e fazer com que uma pessoa fique protegida contra
determinada doença.
"A partir do momento em que aplicamos as doses, o
imunizante vai induzir uma produção de anticorpos que vão nos resguardar contra
determinado vírus ou bactéria", explica o médico Fabiano Ramos,
coordenador do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Pelos estudos feitos até o momento, a CoronaVac e a
CoviShield tem uma boa imunogenicidade. O que ainda não se sabe é quanto tempo
essa proteção dura — será preciso acompanhar os voluntários por mais tempo para
obter essa resposta.
Pode ser que essas vacinas precisem de doses de reforço a
cada seis, 12 ou 24 meses (como acontece com as vacinas contra a gripe).
Outra possibilidade é que o efeito delas na imunidade seja
duradouro (como no caso dos imunizantes que resguardam contra a febre amarela e
o sarampo, por exemplo).
3. Quando começa a vacinação?
As primeiras doses já foram aplicadas ontem mesmo, logo após
a aprovação pela Anvisa. A primeira brasileira a receber a CoronaVac foi a
enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, que trabalha no Instituto de
Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
A CoviShield ainda deve demorar um pouco para ficar
disponível. Os primeiros frascos do produto serão importados e a previsão é que
cheguem ao país nas próximas duas semanas. A FioCruz, que vai produzir essa
vacina em território nacional, aguarda a chegada de insumos para iniciar a
fabricação.
De acordo com o site Our World in Data, até o momento 112
brasileiros foram vacinados. A expectativa é que esse número aumente bastante
nos próximos dias.
Os lotes da CoronaVac já começaram a ser distribuídos e
chegaram em algumas localidades, como Distrito Federal, Piauí, Santa Catarina e
Goiás.
4. O que é vacina placebo?
Esse termo "vacina placebo", na verdade, está
errado. Uma coisa é vacina e outra completamente diferente é o placebo.
Acontece que, durante os testes clínicos antes da aprovação,
os cientistas precisam saber se o imunizante é seguro e eficaz.
Para isso, os voluntários são divididos em dois grupos. O
primeiro toma doses do produto ativo, que vai gerar aquela imunogenicidade que
explicamos um pouco mais acima.
Já o segundo recebe doses de placebo, uma substância sem
nenhum efeito no corpo.
A expectativa é que, na comparação dos resultados, o grupo
que foi vacinado esteja mais protegido contra determinada doença infecciosa em
relação àqueles que receberam placebo.
5. Quantas vacinas o Brasil comprou?
Por enquanto, estão autorizadas no Brasil a CoronaVac
(Instituto Butantan/Sinovac) e a CoviShield (FioCruz/Universidade de
Oxford/AstraZeneca).
No momento, 6 milhões de doses da CoronaVac são distribuídas
pelos Estados. O Instituto Butantan calcula que tem capacidade de produzir 46
milhões de doses até abril.
Cerca de 2 milhões de doses da CoviShield devem chegar ao
país nas próximas duas semanas. A FioCruz promete entregar 100 milhões de doses
desta vacina durante o primeiro semestre de 2021.
Algumas concorrentes já possuem acordos com governos
estaduais. É o caso da Sputnik V (Instituto Gamaleya de Pesquisa), que tem
intenção de compra no Paraná e na Bahia. Mas sua distribuição depende do aval
da Anvisa — recentemente, a agência pediu mais dados sobre os estudos deste
imunizante para poder tomar a decisão.
Há concorrentes já aprovados em outros países, como aqueles
produzidos por Pfizer/BioNTech e Moderna, mas eles não têm previsão de chegada
ao Brasil.
6. O que fazer quando se perde a carteira de vacinação?
Para a campanha de imunização contra a covid-19, isso não
será um problema. "Os postos de vacinação vão estar preparados para
fornecer algum tipo de comprovante, mesmo que o cidadão não tenha a carteirinha
antiga", prevê Ramos, que foi o coordenador das pesquisas com a CoronaVac
em Porto Alegre.
Ainda não há orientações específicas, mas espera-se que na
hora da vacinação contra a covid-19 as pessoas levem algum tipo de documento de
identificação, apresentem o Cartão Nacional de Saúde ou informem o número do
CPF.
Em alguns casos, será necessário comprovar de alguma maneira
que você faz parte dos grupos prioritários (falaremos mais sobre esses grupos
na próxima pergunta).
No entanto, é essencial que todos guardem sua carteirinha de
vacinação com muito cuidado. Ali estão informações importantíssimas de saúde.
Muitas vezes, se o indivíduo não sabe se tomou determinado
imunizante e perdeu esse documento, ele precisa repetir todo o esquema vacinal
contra uma doença ou outra.
É importante também que todos atualizem sua carteirinha de
tempos em tempos. Há vacinas que precisam ser tomadas na infância, na
adolescência, na fase adulta e após os 60 anos.
A Sociedade Brasileira de Imunizações possui um site com o
calendário atualizado com recomendações de vacinação para todas as faixas
etárias e situações específicas.
7. Como será a vacinação no Brasil?
O Ministério da Saúde lançou um plano nacional de imunização
contra a covid-19 no final de dezembro de 2020.
Nesse documento, foram definidos os grupos prioritários e
algumas etapas do processo. Em resumo, o esquema e o público-alvo foram
definidos da seguinte forma:
- Primeira
fase: trabalhadores da área da saúde, indígenas, indivíduos com mais de 75
anos e pessoas com mais de 60 anos que vivem em asilos e hospitais;
- Segunda
fase: idosos de 60 a 74 anos;
- Terceira
fase: pessoas com comorbidades, como diabetes, hipertensão grave, doença
pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e
cerebrovasculares, indivíduos transplantados, com anemia falciforme,
câncer, obesidade grau III ou deficiência permanente severa;
- Quarta
fase: trabalhadores da educação, população em situação de rua, membros das
forças de segurança e salvamento, trabalhadores do transporte coletivo e
transportadores rodoviários de carga, funcionários do sistema prisional e
população carcerária.
Esse planejamento pode ser acelerado ou sofrer atrasos, a
depender da chegada das doses das vacinas.
Ainda não há um calendário de como esses grupos serão
atendidos ou quando cada um deles deve procurar um posto de saúde.
Uma estratégia sugerida por especialistas é reforçar a
vacinação nos locais onde a situação da covid-19 está mais grave.
Isso poderia trazer alívio ao sistema de saúde e garantir
uma melhora mais rápida no panorama da pandemia.
8. Onde vai começar a vacinação contra o coronavírus?
O Ministério da Saúde afirma que as doses das vacinas serão
distribuídas por todo o país de forma igualitária, de acordo com a população de
cada local.
Os Estados já estão começando a receber os seus lotes e
devem aplicar as vacinas nos profissionais da saúde durante os próximos dias -
alguns já iniciaram na segunda-feira, como Goiás e Rio Grande do Norte.
9. Quem serão os primeiros a serem vacinados?
Os primeiros vacinados contra a covid-19 serão os
profissionais da saúde. Na sequência, a prioridade será de indígenas e idosos.
Mas qual a razão dessa prioridade?
"Em primeiro lugar, isso tem a ver com a exposição ao
vírus. Médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da linha de frente estão sob
grande risco e precisamos proteger logo essas pessoas", justifica Ramos.
Já idosos e indígenas são populações vulneráveis, que correm
mais risco de sofrer com o agravamento e morte por covid-19.
- O
que é a 'isenção de responsabilidade' das vacinas e por que você não
deveria se preocupar com ela
- Covid-19:
novo estudo revela mortalidade de 50% entre hospitalizados no Norte,
contra 31% no Sul
10. Como cadastrar para a vacinação para a covid-19 pelo
SUS?
No momento, não há orientações para fazer cadastro em nenhum
site ou aplicativo. "É provável que as secretarias municipais e estaduais
de Saúde de cada lugar se organizem de formas diferentes", diz Ramos.
O governo de São Paulo, por exemplo, lançou o site Vacina
Já, para que os paulistas tenham informações sobre os locais de aplicação das
doses e façam um pré-cadastro.
Por enquanto, somente trabalhadores da área de saúde e
indígenas devem preencher as informações por lá.
Nesse momento é bom tomar cuidado com fraudes e pegadinhas:
o Ministério da Saúde diz que não vai realizar agendamentos e nem envia códigos
pelo celular para usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
A melhor coisa a se fazer por ora é aguardar novas
orientações que serão dadas pelas autoridades de saúde em breve.
Tomado de correio braziliense
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