Esfriamento do
Pacífico explica hiato do aquecimento global
RAFAEL GARCIA - DE SÃO PAULO
Apesar de os anos mais quentes da história terem sido 2005 e
2010, a média no período dos últimos 15 anos indica que a temperatura do
planeta parou de subir.
Esse hiato no aquecimento global tem sido vastamente
explorado por céticos que questionam a influência humana na mudança climática,
mas um novo estudo diz ter a explicação para o fenômeno inesperado: um
resfriamento periódico das águas equatoriais do Pacífico é o culpado por
mascarar o aquecimento do planeta.
Não é a primeira vez que ocorre uma pausa na subida da
temperatura média mundial, mas desta vez o platô que aparece nos gráficos de
temperatura é um pouco mais longo.
Segundo um estudo publicado no início do ano por Ed Hawkins,
da Universidade de Reading, no Reino Unido, se as temperaturas continuarem mais
ou menos estáveis, elas entrarão fora da margem de erro da maioria das
simulações climáticas quem vêm tentando prever o comportamento da Terra sob alta
concentração do CO2.
Isso não ocorreu com platôs observados em outros períodos,
como na virada da década de 1970 para 1980 e no meio dos anos 1990, quando a
temperatura retomou a subida abruptamente após períodos de pausa.
Dentro ou fora da margem de erro, porém, as razões pelas
quais o gráfico do clima têm adquirido uma forma similar à de uma escada --com
rampas seguidas de platôs-- ainda são mal compreendidas. Alguns estudos
sugeriram que o fenômeno tem a ver com a atividade do Sol e outros afirmaram que
a presença de mais vapor ou aerossóis na estratosfera está ajudando a frear o
aquecimento.
Segundo um trabalho de Yu Kosaka e Shiang-Ping Xie, do
Instituto Scripps, da Califórnia, o fenômeno que explica melhor o platô dos
últimos 15 anos é mesmo o resfriamento do oceano Pacífico.
Construindo um modelo de computador que simula o clima da
Terra levando em conta esse fenômeno, os cientistas conseguiram reproduzir o
contorno dos gráficos de clima da última década, com platôs e rampas no lugar
certo. O estudo está na edição desta semana da revista "Nature".
"O hiato atual é parte da variabilidade natural do
clima", escrevem Xie e Kosaka. "Apesar de hiatos similares poderem
ocorrer no futuro, é muito provável que a tendência de aquecimento em múltiplas
décadas continue à medida que os gases do efeito estufa aumentam."
Segundo os cientistas, o que acontece no resfriamento de
águas do Pacífico é um fenômeno com ciclos "interdecadais" --que
duram mais de uma década-- intercalados, mas que não têm tempo de duração fixo.
"Este resfriamento no Pacifico Leste, na costa do
Chile, tem se observado durante as décadas mais recentes e, desde meados da
década de 1970, tem chegado a menos 1 C°", afirma José Marengo,
climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
"Isso está associado a um centro de alta pressão sobre
o Pacifico Sul, o que gera também maiores afloramentos de água sobre as costas
do Chile e do sul do Peru. As águas que vêm de níveis mais profundos para a
superfície são águas frias e por isso incorrem em registro de temperaturas mais
baixas na superfície."
Segundo o pesquisador, o fenômeno é parte de variações
interdecadais que duram de 25 a 30 anos. Com o ciclo de estabilização e a
subida da temperatura tendo começado na década de 1970, já estaríamos bem
próximos de uma retomada da tendência de aquecimento.
A implicação de águas profundas no resfriamento de partes do
oceano se junta a outras evidências recentes de que parte do calor do
aquecimento global vai parar no fundo do mar de tempos em tempos. Uma pesquisa
publicada no início do ano pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA
estima que 30% do aquecimento dos oceanos nos últimos dez anos tenha ocorrido
em águas profundas, abaixo de 700 metros, por calor "roubado" da superfície.
TOMADO DE FOLHIA DE SAN PABLO BRASIL
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