Tartarugas vítimas de
rede ilegal de pesca são devolvidas ao mar em Navegantes
Soltura, feita pelo Projeto Tamar, reuniu multidão na Praia
do Gravatá
Por: Dagmara Spautz e Guto Kuerten
Tartarugas vítimas de rede ilegal de pesca são devolvidas ao
mar em Navegantes Lucas
Foto: Lucas Correia / Agência RBS
As três tartaruga-verdes que sobreviveram ao massacre
provocado por uma rede ilegal de pesca em Navegantes, em dezembro, voltaram
ontem ao mar. Diante da curiosa plateia que acompanhou a soltura, na Praia do
Gravatá, elas cruzaram lentas — mas determinadas — a faixa de areia, até
sentirem de volta o contato com as ondas. Depois de mais de um mês de
recuperação, estavam, enfim, voltando para casa.
Uma delicada operação, coordenada pelo Projeto Tamar, trouxe
as tartarugas de Florianópolis para Navegantes. Resgatadas pelo Projeto de
Monitoramento das Praias, da Univali, elas haviam sido enviadas ao Tamar para
receberem tratamento de saúde. Nesta quinta-feira, o trajeto de volta, de 112
quilômetros, demandou cuidado extra com os animais, que viajaram protegidos por
colchões para evitar o impacto do peso da carapaça sobre o corpo. Elas podem
ficar fora da água até alguns dias, então isso não causa problemas. Mas
tentamos minimizar o estresse no transporte, evitar que elas fiquem agitadas —
diz a veterinária Daphne Goldberg, que acompanhava os bichinhos. Esta não é a
primeira vez que o Tamar devolve tartarugas ao mar no local onde eles foram
encontradas — trata-se de uma maneira simpática de dar um retorno à comunidade
que acompanhou o resgate, uma ação de educação ambiental na prática. Nesse
caso, porém, a soltura em Navegantes era necessária: os animaizinhos tiveram
uma doença de pele causada por um tipo de vírus, aos quais outras populações de
tartarugas podem não ser resistentes. A doença atinge animais que vivem em
áreas consideradas poluídas. Além de cirurgias, para retirada das lesões de
pele, as tartarugas foram medicadas com antibióticos e broncodilatadores para
recuperação dos pulmões, afetados pelo afogamento na rede. Gratificante O resgate, há um mês, causou comoção em Navegantes. A
rede ilegal estava muito perto da praia e era possível ver, da areia, as
tartarugas se debaterem tentando respirar. Como o socorro das lanchas demorou
para chegar, os guarda-vidas Robson Casara e Bruno Schwarzbach subiram nas
pranchas, cortaram a malha e carregaram os animais para fora da água. Sete
tartarugas chegaram mortas à praia, e as três que se salvaram precisaram de
massagem torácica para que conseguissem expelir a água dos pulmões. Nesta
quinta, os dois fizeram questão de ver de perto a recuperação dos animais:
— É gratificante ver que elas estão bem. A gente surfa, vê
muitas delas por aqui — disse Robson.
Convidados pelo Tamar, Bruno e ele ajudaram na soltura.
Aplaudidos pela multidão, cada um deles colocou uma tartaruga na areia e
acompanhou a jornada delas de volta ao mar.
Redes ilegais são
problema no Estado
As tartarugas que
foram vítimas da pesca ilegal em Navegantes eram todas juvenis, com cerca de
20kg. Podem chegar a 120 kg na idade adulta, se conseguirem ultrapassar as
barreiras da pesca e do lixo jogado no mar, as duas principais causas de morte
desses animais. Santa Catarina lidera o ranking de pesca ilegal com redes
feiticeiras, segundo levantamento feito pelo Tamar — o que tem preocupado os
pesquisadores. O equipamento tem três panos, é instalado em costões (áreas onde
os animais aparecem para se alimentarem) e capturam tudo o que passar por elas.
De pequenos peixes e tartarugas a gigantes como o mero, peixe ameaçado de
extinção. O Ibama recebe denúncias de redes ilegais semanalmente, mas não pode
identificar os responsáveis porque, via de regra, não consegue flagrar a
instalação. A rede é recolhida e inutilizada, mas o crime ambiental fica
impune.O órgão tem apenas um barco para fiscalização em todo o Estado (que
chegou a ficar parado em dezembro por falta de documentação). A embarcação está
lotada em Itajaí.
Duas novas hóspedes
Os técnicos do
Projeto Tamar voltaram a Florianópolis nesta quinta-feira levando outras duas
tartarugas para tratamento. Uma delas foi encontrada em Balneário Camboriú e a
outra em Penha, bastante debilitadas. Foram recolhidas pelo Projeto de
Monitoramento de Praias, coordenado pela Univali e financiado pela Petrobras,
como condicionante ambiental para exploração do pré-sal. O último balanço
divulgado pelo projeto revelou que em apenas dois meses 1700 animais foram
encontrados encalhados ou mortos no trecho de 354 quilômetros entre Itapoá, no
Norte do Estado, e Laguna, no Sul. Tartarugas e pinguins lideram as
estatísticas.
Tartaruga-verde
Status internacional:
Ameaçada de extinção
Status no Brasil: Vulnerável
Distribuição: mares tropicais e subtropicais, em águas
costeiras e ao redor das ilhas
Habitat: habitualmente em águas costeiras com muita
vegetação, ilhas ou baías onde estão protegidas. São raramente avistadas em
alto-mar
(Fonte: Tamar)
O transporte
- As tartarugas são transportadas a seco, para que não se
afoguem
- O carro é forrado com colchões, o que evita o impacto do
peso da carapaça sobre o corpo
- O ar condicionado é mantido ligado, para que a temperatura
permaneça confortável
Saiba mais
As tartarugas libertadas em Navegantes sofrem com fibropapilomatose,
lesões na pele causadas por um herpes-vírus, presente em áreas que sofrem com a
poluição. A doença causa tumores, que precisam ser retirados cirurgicamente.
A soltura em locais onde as populações de tartarugas não são
afetadas pelo vírus poderia provocar a contaminação de outros espécimes. TOMADO
DE ZERO HORA DE RGS BR
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