miércoles, 13 de enero de 2016

TATARUGAS VICTIMAS DE REDE ILEGAL DE PESCA

 Tartarugas vítimas de rede ilegal de pesca são devolvidas ao mar em Navegantes
Soltura, feita pelo Projeto Tamar, reuniu multidão na Praia do Gravatá
Por: Dagmara Spautz e Guto Kuerten
Tartarugas vítimas de rede ilegal de pesca são devolvidas ao mar em Navegantes Lucas
Foto: Lucas Correia / Agência RBS
As três tartaruga-verdes que sobreviveram ao massacre provocado por uma rede ilegal de pesca em Navegantes, em dezembro, voltaram ontem ao mar. Diante da curiosa plateia que acompanhou a soltura, na Praia do Gravatá, elas cruzaram lentas — mas determinadas — a faixa de areia, até sentirem de volta o contato com as ondas. Depois de mais de um mês de recuperação, estavam, enfim, voltando para casa.
Uma delicada operação, coordenada pelo Projeto Tamar, trouxe as tartarugas de Florianópolis para Navegantes. Resgatadas pelo Projeto de Monitoramento das Praias, da Univali, elas haviam sido enviadas ao Tamar para receberem tratamento de saúde. Nesta quinta-feira, o trajeto de volta, de 112 quilômetros, demandou cuidado extra com os animais, que viajaram protegidos por colchões para evitar o impacto do peso da carapaça sobre o corpo. Elas podem ficar fora da água até alguns dias, então isso não causa problemas. Mas tentamos minimizar o estresse no transporte, evitar que elas fiquem agitadas — diz a veterinária Daphne Goldberg, que acompanhava os bichinhos. Esta não é a primeira vez que o Tamar devolve tartarugas ao mar no local onde eles foram encontradas — trata-se de uma maneira simpática de dar um retorno à comunidade que acompanhou o resgate, uma ação de educação ambiental na prática. Nesse caso, porém, a soltura em Navegantes era necessária: os animaizinhos tiveram uma doença de pele causada por um tipo de vírus, aos quais outras populações de tartarugas podem não ser resistentes. A doença atinge animais que vivem em áreas consideradas poluídas. Além de cirurgias, para retirada das lesões de pele, as tartarugas foram medicadas com antibióticos e broncodilatadores para recuperação dos pulmões, afetados pelo afogamento na rede. Gratificante O resgate, há um mês, causou comoção em Navegantes. A rede ilegal estava muito perto da praia e era possível ver, da areia, as tartarugas se debaterem tentando respirar. Como o socorro das lanchas demorou para chegar, os guarda-vidas Robson Casara e Bruno Schwarzbach subiram nas pranchas, cortaram a malha e carregaram os animais para fora da água. Sete tartarugas chegaram mortas à praia, e as três que se salvaram precisaram de massagem torácica para que conseguissem expelir a água dos pulmões. Nesta quinta, os dois fizeram questão de ver de perto a recuperação dos animais:
— É gratificante ver que elas estão bem. A gente surfa, vê muitas delas por aqui — disse Robson.
Convidados pelo Tamar, Bruno e ele ajudaram na soltura. Aplaudidos pela multidão, cada um deles colocou uma tartaruga na areia e acompanhou a jornada delas de volta ao mar.
 Redes ilegais são problema no Estado
 As tartarugas que foram vítimas da pesca ilegal em Navegantes eram todas juvenis, com cerca de 20kg. Podem chegar a 120 kg na idade adulta, se conseguirem ultrapassar as barreiras da pesca e do lixo jogado no mar, as duas principais causas de morte desses animais. Santa Catarina lidera o ranking de pesca ilegal com redes feiticeiras, segundo levantamento feito pelo Tamar — o que tem preocupado os pesquisadores. O equipamento tem três panos, é instalado em costões (áreas onde os animais aparecem para se alimentarem) e capturam tudo o que passar por elas. De pequenos peixes e tartarugas a gigantes como o mero, peixe ameaçado de extinção. O Ibama recebe denúncias de redes ilegais semanalmente, mas não pode identificar os responsáveis porque, via de regra, não consegue flagrar a instalação. A rede é recolhida e inutilizada, mas o crime ambiental fica impune.O órgão tem apenas um barco para fiscalização em todo o Estado (que chegou a ficar parado em dezembro por falta de documentação). A embarcação está lotada em Itajaí.
 Duas novas hóspedes
 Os técnicos do Projeto Tamar voltaram a Florianópolis nesta quinta-feira levando outras duas tartarugas para tratamento. Uma delas foi encontrada em Balneário Camboriú e a outra em Penha, bastante debilitadas. Foram recolhidas pelo Projeto de Monitoramento de Praias, coordenado pela Univali e financiado pela Petrobras, como condicionante ambiental para exploração do pré-sal. O último balanço divulgado pelo projeto revelou que em apenas dois meses 1700 animais foram encontrados encalhados ou mortos no trecho de 354 quilômetros entre Itapoá, no Norte do Estado, e Laguna, no Sul. Tartarugas e pinguins lideram as estatísticas.
Tartaruga-verde
 Status internacional: Ameaçada de extinção
Status no Brasil: Vulnerável
Distribuição: mares tropicais e subtropicais, em águas costeiras e ao redor das ilhas
Habitat: habitualmente em águas costeiras com muita vegetação, ilhas ou baías onde estão protegidas. São raramente avistadas em alto-mar
(Fonte: Tamar)
O transporte
- As tartarugas são transportadas a seco, para que não se afoguem
- O carro é forrado com colchões, o que evita o impacto do peso da carapaça sobre o corpo
- O ar condicionado é mantido ligado, para que a temperatura permaneça confortável
Saiba mais
As tartarugas libertadas em Navegantes sofrem com fibropapilomatose, lesões na pele causadas por um herpes-vírus, presente em áreas que sofrem com a poluição. A doença causa tumores, que precisam ser retirados cirurgicamente.

A soltura em locais onde as populações de tartarugas não são afetadas pelo vírus poderia provocar a contaminação de outros espécimes. TOMADO DE ZERO HORA DE RGS BR 

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