Risco gelado nos
campos do Sul
Gustavo Machado (
Em Santa Catarina, a maior preocupação é com a perda da cultura por conta do chamado "cinturão verde", diz Francisco Heiden
Em Santa Catarina, a maior preocupação é com a perda da cultura por conta do chamado "cinturão verde", diz Francisco Heiden
O inverno mais
severo dos últimos 15 anos pode prejudicar a produção nacional de commodities.
A pior frente
fria enfrentada pelo país nos últimos 15 anos já é motivo de preocupação entre
pequenos produtores rurais do Sul. Tradicionais no cultivo de itens de
hortifrúti, componentes importantes na mesa do brasileiro, os agricultores da
região se apressam em projetar as perdas com a geada que tende a se intensificar
ao longo da semana.
Entre os produtos
com potencial de prejuízo estão a cebola, as hortaliças e o tomate. Em menor
escala, a produção de batata e cenoura também pode sofrer com o clima.
No Paraná,
particularmente, estão expostos à geada o trigo e o café. Segundo o
Departamento de Agricultura Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do
Abastecimento do estado, mais de 52% do cultivo de trigo pode ter problema caso
o frio intenso se estenda por mais dias. Na cultura cafeeira, quase 40% da
produção pode estar comprometida.
Com menor
impacto, o milho também está na lista de riscos do Deral. Resta colher 30% da
lavoura.
No entanto,
diferentemente dos artigos de hortifrúti, a queda da produção dessas
commodities pode ser compensada por importação. Por isso, não há previsão de
reflexo nos preços, principalmente do café. A produção do grão no Sul do país é
irrelevante, comparada a outras regiões.
"O pior dos
cenários para esses grãos é um impacto direto nas importações. Mas como já
importamos muito trigo, por exemplo, isso não deve causar muito problema ao
mercado interno", avalia o consultor gaúcho Flávio França.
Ele destaca que
as commodities já estavam com os preços elevados, especialmente, o trigo. A
cotação no mercado internacional aumentou por conta de perdas de safra na
Argentina, decorrentes de um inverno rigoroso. "Já é sabido que houve
redução na área de plantio e problemas climáticos na Argentina. O Brasil
influencia pouco no âmbito internacional do trigo", diz França.
No caso do milho,
a geada do Sul é ainda menos preocupante, porque, embora a produção brasileira
tenha importância no mercado internacional, a previsão é de recorde de
produtividade na colheita deste meio de ano.
Já no caso das
hortaliças, leguminosas e frutas, pouco pode ser feito para evitar prejuízos
com a redução da oferta na região Sul. As baixas temperaturas, que ontem
ocasionaram a precipitação de neve em Curitiba - desde 1975 o fenômeno não era
presenciado na capital paranaense -, criam a expectativa de geada negra.
Naquele ano, também ocorreu o fenômeno, que queima as plantas por dentro e
compromete a lavoura.
Em Santa
Catarina, a maior preocupação é com a perda da cultura por conta do chamado
"cinturão verde", diz Francisco Heiden, técnico da Empresa de
Pesquisas Agropecuárias. Até o momento, diz ele, não é possível prever se
haverá quebra ou não da safra. Heiden lembra, no entanto, que, em frentes frias
passadas, muitos agricultores conseguiram evitar as perdas. "Normalmente,
acontece o retardamento da colheita. Mas como este ano o frio está mais
intenso, pode ser diferente", acredita o pesquisador.
É possível que
também a criação de gado no estado seja afetada. Heiden afirma que muitas
pastagens na região são típicas de verão e não aguentarão muitos dias de frio.
Com isso, o custo da pecuária pode aumentar. "Essas plantas (de pastagem)
podem até morrer".
Mesmo com tanto
frio, há um lado positivo na ocorrência de geada em julho. No último ano, esse
fenômeno aconteceu entre agosto e setembro, pegando agricultores desprevenidos.
Muitos estavam plantando a safra de verão e tiveram queda de produtividade.
O tomate foi um
dos produtos que sofreram com a "geada tardia". Somado à redução da
área de plantio no restante do país, o fenômeno foi um dos responsáveis pelo
aumento do preço da cesta básica no ano passado.
"A geada é
sempre prejudicial. Mas, nesta época do ano, algumas frutas são até
beneficiadas. As uvas e as bananas, por exemplo, estão em uma época de
dormência, esperando a primavera", conta Heiden. A expectativa do técnico
é que o frio passe e que, no início da primavera, contribua para melhorar a
produtividade.
Tomado de Brasil
economico
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