Sismólogo conta em livro a história de terremotos que
atingiram o Brasil
SALVADOR NOGUEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Toda vez que se ouve falar de tremor de terra no Brasil, as
pessoas estranham. Afinal, faz parte do senso comum dizer que o país é livre de
terremotos. Mas nada poderia estar mais longe da verdade.
Para acabar de uma
vez com esse mito, o sismólogo José Alberto Vivas Veloso escreveu o livro
"O Terremoto Que Mexeu com o Brasil".
Centrada
principalmente na série de abalos que atingiu a cidade de João Câmara, no Rio
Grande do Norte, sobretudo o grande tremor de 30 de novembro de 1986, a obra
vai muito além disso.
Ela resgata uma longa
história do estudo dos terremotos brasileiros, que remonta ao tempo do Império.
Coube a Dom Pedro 2º ordenar a realização da primeira pesquisa sismológica nacional.
Terremotos no Brasil
José Alberto Vivas Veloso/Arquivo Pessoal
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Escombros do que era a casa de Jovelino da Silva, na zona
rural de João Câmara, RN, após terremotos ocorridos em 1986; ele e as filhas
sofreram escoriações e perderam quase todos os seus pertences Leia mais
O imperador, sempre
interessado em assuntos de ciência, passou da curiosidade à preocupação no dia
9 de maio de 1886. Em seu palácio em Petrópolis, às 15h, ele sentiu a terra
tremer.
O soberano julgou
importante reportar o caso em detalhes e, com isso, tornou-se o primeiro
brasileiro a publicar na prestigiosa revista científica britânica
"Nature".
DE LÁ PARA CÁ
Com uma prosa envolvente, Veloso, pesquisador aposentado
pela UnB (Universidade de Brasília), conduz o leitor pela história dos
primeiros estudos brasileiros de terremotos antes de mergulhar na sismologia do
Nordeste e então esmiuçar o caso de João Câmara.
"Meu livro
mostra que não só existem terremotos no Brasil, como eles podem trazer
problemas às pessoas e às cidades", afirma o autor. "O principal
tremor de João Câmara, com magnitude 5,1, danificou mais de 4.000 construções e
criou um contingente de 26 mil desabrigados."
Veloso tem autoridade
para relatar o caso, tendo sido um dos membros da equipe científica despachada
para a região na época dos abalos.
É uma experiência
pessoal impactante chegar a uma região remota e explicar que aqueles abalos não
são castigos de Deus ou coisa que o valha, conta.
"Não dá para ser
um cientista de sangue frio o tempo todo", diz Veloso. "Na
experiência de acompanhar sequências sísmicas com duração de dias e semanas no
Rio Grande do Norte, no Ceará, em Pernambuco e em Minas Gerais, particularmente
em cidades pequenas, percebi que logo surge uma afetividade entre o sismólogo e
os habitantes locais."
O pesquisador passa a
ser uma referência para orientar a população. "Aí a responsabilidade
aumenta, porque você não está apenas registrando abalos de terra, mas lidando
com a segurança e o bem-estar das pessoas."
A mais importante
mensagem do livro, contudo, é mostrar que o episódio de João Câmara não se
trata de um caso isolado.
"Abalos desse
tamanho acontecem a cada cinco anos em algum lugar do Brasil. Onde, ninguém
sabe", afirma Veloso. "O que temos de fazer é continuar monitorando e
estudando os nossos tremores, porque eles continuarão acontecendo."
Exemplos claros disso
podem ser resgatados do ano que passou. Em 2013, o Brasil viu vários tremores
em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Casas racharam, outras foram
destelhadas e algumas chegaram a ser interditadas pela Defesa Civil. "A
população ficou sobressaltada com tais tremores", lembra Veloso.
Nos últimos meses do
ano, foi a vez de Pedra Preta (RN) sentir a terra tremer. É uma região bem
próxima de João Câmara. "Surgiram rachaduras nas casas e a população
entrou em pânico", diz o sismólogo.
O livro traz, além de
relatos pormenorizados dos tremores históricos brasileiros, apêndices que
explicam a ciência por trás dos terremotos, das placas tectônicas às formas de
medir os abalos. Há também um vídeo em DVD com imagens captadas em João Câmara
nos anos 1980. TOMADO DE FOLHIA DE SAN PABLO BR
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