MEIO AMBIENTE - Abertura - Animais em Extinção -Sapinho d
barriga vermelha - Crédito Márcio
Martins Divulgação FZB
MÁRCIO MARTINS/FZB /DIVULGAÇÃO/JC
O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho,
traz o combate ao comércio ilegal de animais silvestres como discussão em 2016.
A atividade é uma das mais rentáveis ao redor do mundo. E acontece em várias
escalas: desde os capturados na fronteira do Uruguai, que são comercializados
na grande Porto Alegre - especialmente aves -, até mamíferos, répteis e
anfíbios traficados em grande escala da Ásia para a Europa. "A retirada de
animais silvestres da natureza é apontada pela União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) como uma das ações humanas que
contribuem de maneira mais efetiva para os processos de extinção. Para que
alguns animais cheguem vivos ao seu destino, um número 10 ou 15 vezes maior é
capturado", revela Glayson Bencke, chefe da Divisão de Pesquisa Científica
do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul
(FZB).
Angola, sede das comemorações da data neste ano, adotou
ações relevantes para conservar e reconstruir sua população de elefantes.
Afinal, o número de animais diminuiu muito durante a guerra civil de décadas,
que só terminou em 2002. Ao observar a realidade brasileira e gaúcha, de acordo
com Bencke, não há informações sistematizadas sobre o tráfico de animais. E
ainda são poucos os programas dedicados à manutenção das espécies nativas.
Planos de ação nacionais propõem a conservação de peixes-anuais, pequenos
sapinhos, carnívoros, papagaios e aves migratórias.
Bencke esteve envolvido com o processo de atualização da
lista da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul, publicada em 2014 no
Diário Oficial do Estado. Neste trabalho, que levou dois anos para ser
concluído, 129 especialistas contribuíram diretamente e de forma voluntária no
processo, representando 40 instituições, entre universidades, institutos de
pesquisa, órgãos públicos, ONGs, prefeituras e empresas privadas.
"Basicamente, o objetivo foi apontar as espécies da fauna do Rio Grande do
Sul que correm risco real de desaparecer no futuro próximo, a partir da
avaliação criteriosa de informações sobre suas populações, áreas de
distribuição e ameaças recentes, atuais ou projetadas. Para isso, utilizamos os
critérios e protocolos desenvolvidos pela IUCN, os mesmos adotados por outros
estados brasileiros. É importante destacar que as listas de espécies da fauna e
da flora silvestres ameaçadas de extinção estão entre os principais
instrumentos de proteção à biodiversidade do Estado e do País. Com base nessa
avaliação, é possível definir políticas de gestão e traçar estratégias à
conservação e ao uso sustentável das espécies e dos recursos naturais",
explica.
A FZB e seus parceiros avaliaram 1.583 espécies da fauna
gaúcha, incluindo 100% das espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e
peixes de água doce, além de muitas espécies de invertebrados e animais
marinhos. "Deste total, 10 espécies foram consideradas extintas e 280,
como ameaçadas de extinção, isto é, enquadradas em uma das três categorias que
indicam risco de extinção: vulnerável, em perigo e criticamente em perigo. Os
dados mostram que aproximadamente uma em cada quatro espécies de mamíferos do
Rio Grande do Sul corre risco de desaparecer. Também estão ameaçadas uma em
cada sete espécies de aves, uma em cada seis de anfíbios e uma em cada cinco de
peixes de água doce, para citar alguns grupos com maior proporção em
risco", alerta.
O número de espécies ameaçadas em 2014 é um pouco maior do
que em 2002, ano do relatório anterior; de 261 para 280 no estudo mais recente.
"Os critérios utilizados na última avaliação não estavam disponíveis na
avaliação anterior e, assim, os números não são diretamente comparáveis. É
importante dizer que, apesar de as espécies ameaçadas não terem variado muito
desde 2002, elas estão em situação mais crítica. Também aumentou
consideravelmente o percentual de espécies que habitam ecossistemas campestres
(campos naturais), de 13,6% em 2002 para 17,9% em 2014, e isso significa que o
recente avanço da silvicultura e, especialmente, do cultivo da soja sobre os
campos nativos do Estado já trouxe reflexos sobre a situação de várias
espécies", avalia.
Segundo Bencke, estima-se que, em média, o equivalente a 36
mil campos de futebol desses ecossistemas sejam perdidos anualmente, o que já
está afetando espécies como o pedreiro, pássaro exclusivo do campos do Nordeste
do Estado e do Sudeste de Santa Catarina. Também entraram na lista espécies não
consideradas na avaliação anterior, como as borboletas, e nada menos do que 27
espécies de peixes marinhos, principalmente tubarões e raias, mas também a
miraguaia, o namorado e a garoupa.
Conheça duas iniciativas interessantes no estado
Programa nacional de conservação do cardeal--amarelo:
coordenado pelo ICMBio, além de ações de conservação e monitoramento, também
prevê a manutenção de plantéis de aves em cativeiro para produzir indivíduos
que possam ser utilizados em projetos de reintrodução na natureza, visto que a
espécie foi extinta na maior parte de sua distribuição original no Estado.
Causas da extinção
Os dados tornam-se mais alarmantes quando observada a lista
nacional de animais ameaçados, coordenada pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade - ICMBio. O levantamento, atualizado em 2014,
inclui 1.173 espécies e subespécies ameaçadas. "Considerando os animais
vertebrados, para os quais os números nacionais e estaduais são comparáveis,
9,8% das espécies brasileiras estão ameaçadas, enquanto no Estado esse percentual
é de 15,8%. Como os critérios são os mesmos, isso indica que,
proporcionalmente, mais espécies da fauna do Rio Grande do Sul correm risco de
extinção do que no resto do País, possivelmente porque os ecossistemas do
Estado estão, em média, mais degradados", lamenta.
É possível reverter a situação?
"É preciso mais rigor no controle da conversão dos
habitats naturais, estabelecendo regras claras e impondo limites à expansão das
atividades econômicas. Onde não é mais possível ou recomendável a expansão de
atividades que causem impactos ao ambiente, o pagamento por serviços ambientais
e pela manutenção de ecossistemas naturais é uma alternativa", aponta
Glayson Bencke.
O incentivo a atividades econômicas que gerem renda sem
agredir o meio ambiente, por meio de políticas fiscais ou de mercado, é um
caminho promissor e já mostra resultados. "A Alianza del Pastizal,
iniciativa internacional com foco nas aves, tem dado grande contribuição para a
conservação dos campos naturais, por meio da valorização da carne bovina
produzida com preservação de ecossistemas campestres em propriedades privadas.
O produtor ganha mais renda e acesso a mercados diferenciados. E o meio
ambiente ganha com a manutenção de ecossistemas que estariam na rota de
expansão da agricultura e da silvicultura", observa.
Para Bencke, crimes contra a fauna tendem a ser vistos como
infrações menores, e as penas raramente são aplicadas. "É preciso maior
rigor na punição de crimes como a captura, o comércio de animais silvestres e a
pesca ilegal ou acima dos limites autorizados, assim como investimento nos
órgãos de fiscalização." O pesquisador defende, ainda, o planejamento e o
licenciamento ambiental como fundamental para redução de impactos de atividades
econômicas. "Por um lado, isso acontece porque o licenciamento não é visto
como um instrumento de gestão ambiental, mas como uma burocracia a ser vencida.
Por outro, porque não há investimento estratégico nos órgãos responsáveis pelo
meio ambiente."
A conscientização e a educação ambiental ainda podem ser
consideradas a melhor aposta. "O país das gaiolas tem que virar o país da
observação e da fotografia de animais em seu ambiente natural, do turismo de
contemplação da biodiversidade", comenta. TOMADO DE JOURMAL DO COMERCIO DE
RGS BR
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