Para alimentar-se (e viver ) bem.
Festival Internacional de Cinema e Alimentação expõe
emergência do filme-comida e mostra como plantar, cozinhar e comer constituem
outra forma de estar no mundo
Por Julicristie M. Oliveira*
Durante quatro dias de setembro, Pirenópolis, no entorno de
Brasília, sediou o 6º Slow Filme – o Festival Iternacional de Cinema e
Alimentação. Em meio a cachoeiras e ao cerrado, foram exibidos gratuitamente,
no simpático Cine Pireneus, 19 títulos nacionais e internacionais. Organizado
pela Objeto Sim e outros parceiros, o festival foi marcado, também, por
degustações e oficinas paralelas.
Na abertura, foram apresentados dois documentários que
discutiam sabores e saberes tradicionais do Brasil. Um deles, Engenhos da
Cultura – Teias Agroecológicas, de Gabriella Pieroni e Fernando Angeoletto,
trata do movimento de agricultore(a)s e militantes no processo do registro,
recuperação e manutenção dos engenhos de farinha de mandioca, em Santa
Catarina. Há destaque para a qualidade do produto, especialmente na elaboração
do pirão, a importância da rede de apoio social que é mantida entre o(a)s
agricultore(a)s, a viabilidade econômica e o papel na Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional. O documentário é muito interessante e está
disponívelno Vimeo.
Outro documentário que fez parte da programação e merece
destaque é O produtor de chocolate, de Rohan Fernando, filme canadense que
registra a história de vida de um produtor de cacau do Belize, o Eladio, e suas
relações profissionais e familiares. Os dilemas e os conflitos quanto à
manutenção dos conhecimentos agrícolas ancestrais (maias) e o uso de
tecnologias, como os agrotóxicos, ficam evidentes. Despontam também, no
desenrolar do filme, os conflitos intergeracionais, as questões de gênero e a
desagregação das relações de cooperação da comunidade. A beleza da história,
porém, reside no sentimento de conexão com a natureza, o cultivo e o cacau expressos
por Eladio.
Em Cultivando as Cidades – Hortas e Canteiros Urbanos, de
Dan Susman, várias experiências de hortas urbanas e comunitárias são vistas e
debatidas em um estilo bem americano de produção de documentário. Apesar de
mostrar apenas as possibilidades e vantagens da agricultura urbana, foi
interessante entrar em contato com uma diversidade tão grande de projetos e
objetivos. Senti falta de uma discussão sobre áreas onde o cultivo estaria
limitado em decorrência da poluição do ar, solo e água, bem como dos entraves
que geram a descontinuidade dos projetos.
Para mim, o prato principal do festival foi a ficção Pequena
Floresta – Verão & Outono, de Jun’ichi Mori, que conta a história de
Ichiko, uma jovem que vive em Komori, área rural distante de supermercados.
Ichiko planta e colhe a maior parte de seus alimentos. Eventualmente, compra
alguns ingredientes. Ela aproveita o que as estações, Verão & Outono,
oferecem, cria estratégias de conservação e cozinha com base nos conhecimentos
culinários aprendidos com sua mãe. Em muitas cenas, o presente e as memórias
são intercaladas, os diálogos de infância são lembrados, matizados pelo sabor
dos pratos reelaborados por Ichiko. Várias frases ditas por sua mãe ganham
novamente vida no presente, como “a comida é um reflexo da mente” que reforça a
importância da concentração do processo de cozinhar. Pequena Floresta é uma
poesia comestível dividida em quatro estações: linda, complexa, sensível. Ainda
preciso provar o Inverno & Primavera, que não foi exibido no festival.
Nos quatro filmes, ficam evidentes as conexões entre o
cultivar, o cozinhar e o comer. Infelizmente, no festival não foram previstos
debates após as exibições. Seria interessante ter uma chance de discuti-los,
conhecer a percepção e identificar os sentimentos provocados e saboreados pelo
público, do doce ao amargo.
* Professora da Faculdade de Ciêncais Aplicadas
(FCA)/Unicamp – ENVIADO POR ING DANIEL MACIAS DE UY - VER MAS : Everson E. Fleck
Tecnólogo em Desenvolvimento Rural
Skype: everson.fleck -Fone: (54) 9165-8711
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