Um terço das áreas protegidas do mundo está sob pressão
intensa
Em um terço das áreas de conservação do planeta, há
atividades como agricultura industrial e tráfego de veículos. Segundo relatório
inédito, os espaços mais degradados estão na África, na Europa ocidental e no
sudeste asiático. Taxa brasileira é de 3%
PO Paloma Oliveto
Áreas que deveria ser de conservação ambiental sofrem
impactos de atividades como construção de estradas e urbanização(foto: Stephen
Sautner/Divulgação)
Seis milhões de quilômetros quadrados — o que corresponde a
quase dois terços do tamanho do Brasil — de áreas de proteção ambiental em todo
o mundo estão sob intensa pressão humana, segundo um estudo da Sociedade da
Conservação da Vida Selvagem (WCS, sigla em inglês), da Universidade de British
Columbia e da Universidade de Queensland. O levantamento inédito, publicado na
revista Science desta semana, mostra que essas regiões, que deveriam ser
refúgios ecológicos de diversas espécies animais e vegetais, sofrem impactos de
atividades como construção de estradas e urbanização.
De acordo com os autores, o estudo é um “choque de realidade” para chamar os signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, um tratado internacional firmado em 1992 no Rio de Janeiro, a monitorar mais de perto a proteção de importantes nichos naturais. Eles lembram que, desde o acordo, a extensão das áreas protegidas dobrou, com 15% da superfície terrestre sob algum tipo de legislação e planos para chegar a 17% daqui a dois anos. Contudo, destacam que a conservação de boa parte dessas zonas ficou apenas no papel.
De acordo com os autores, o estudo é um “choque de realidade” para chamar os signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, um tratado internacional firmado em 1992 no Rio de Janeiro, a monitorar mais de perto a proteção de importantes nichos naturais. Eles lembram que, desde o acordo, a extensão das áreas protegidas dobrou, com 15% da superfície terrestre sob algum tipo de legislação e planos para chegar a 17% daqui a dois anos. Contudo, destacam que a conservação de boa parte dessas zonas ficou apenas no papel.
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O mapeamento indica que um terço das áreas protegidas
(32,8%) estão altamente degradadas. Em alguns países da Europa ocidental, do
sudeste asiático e da África, mais da metade (57%) de todas as zonas protegidas
estão completamente sob intensa pressão humana. Nesses locais, de acordo com
Kendall Jones, candidato a PhD da Universidade de Queensland e um dos autores
do estudo, os danos são marcantes. “Em lugares muito densamente povoados da
Ásia, da Europa e da Ásia, encontramos infraestrutura de transporte, como
estradas; agricultura industrial e mesmo o estabelecimento de cidades inteiras
dentro dos limites do que deveriam ser áreas de conservação da natureza”,
contou, em um comunicado de imprensa. Segundo ele, mais de 90% de zonas
protegidas nessas regiões, como parques e reservas naturais, demonstram algum
sinal de destruição por atividade humana.
No Brasil, o mapeamento indica que a maior parte das áreas de proteção, como a região Amazônica, está fora de pressão intensa. O litoral de São Paulo concentra os principais focos de pegada humana, seguido pela costa do Rio de Janeiro e por pontos isolados do Nordeste. O Cerrado tem zonas protegidas com pressão zero, e outras com pegada média. No total, o país tem 2,5 milhões de quilômetros quadrados de áreas de proteção ambiental, sendo que 3,29% encontram-se sob alta pressão.
De acordo com Pablo Negret, coautor do estudo e candidato a PhD da Universidade de Queensland, o cenário brasileiro justifica-se basicamente por duas questões: o tamanho das áreas de proteção do país e o fato de a Amazônia ser uma região de difícil acesso. “A rede de áreas protegidas no Brasil tem, em geral, baixa pressão humana em comparação com outros países da América do Sul, como Uruguai, Argentina ou Colômbia. Um importante aspecto para se destacar é que o Brasil tem áreas de proteção maiores, e nossos resultados mostram que essas zonas tendem a ter menos pressão humana que as menores. Porém, isso também, em parte, justifica-se pela grande quantidade de áreas protegidas na Amazônia brasileira, que é uma área de difícil acesso e tem menor pressão”, afirma (Leia entrevista nesta página).
Menos discurso
No Brasil, o mapeamento indica que a maior parte das áreas de proteção, como a região Amazônica, está fora de pressão intensa. O litoral de São Paulo concentra os principais focos de pegada humana, seguido pela costa do Rio de Janeiro e por pontos isolados do Nordeste. O Cerrado tem zonas protegidas com pressão zero, e outras com pegada média. No total, o país tem 2,5 milhões de quilômetros quadrados de áreas de proteção ambiental, sendo que 3,29% encontram-se sob alta pressão.
De acordo com Pablo Negret, coautor do estudo e candidato a PhD da Universidade de Queensland, o cenário brasileiro justifica-se basicamente por duas questões: o tamanho das áreas de proteção do país e o fato de a Amazônia ser uma região de difícil acesso. “A rede de áreas protegidas no Brasil tem, em geral, baixa pressão humana em comparação com outros países da América do Sul, como Uruguai, Argentina ou Colômbia. Um importante aspecto para se destacar é que o Brasil tem áreas de proteção maiores, e nossos resultados mostram que essas zonas tendem a ter menos pressão humana que as menores. Porém, isso também, em parte, justifica-se pela grande quantidade de áreas protegidas na Amazônia brasileira, que é uma área de difícil acesso e tem menor pressão”, afirma (Leia entrevista nesta página).
Menos discurso
Para Kendall Jones, governos estão superestimando, no
discurso, o espaço disponível para a natureza dentro das áreas protegidas, que,
de acordo com a legislação, podem abrigar atividades como extrativismo e
agricultura sustentável. “Os governos afirmam que esses locais estão protegidos
por causa da natureza, quando, na verdade, não estão. Essa é a maior razão de a
biodiversidade estar ainda em declínio catastrófico, apesar de haver cada vez
mais áreas sendo ‘protegidas’”, critica.
O ecólogo destaca que não está sugerindo que se acabem com as zonas de proteção. “Ao contrário, é crucial que as nações reconheçam os ganhos profundos das (políticas) de conservação que podem ocorrer ao melhorarem e restaurarem as áreas protegidas, ao mesmo tempo em que se respeitam as necessidades das populações locais”.
O ecólogo destaca que não está sugerindo que se acabem com as zonas de proteção. “Ao contrário, é crucial que as nações reconheçam os ganhos profundos das (políticas) de conservação que podem ocorrer ao melhorarem e restaurarem as áreas protegidas, ao mesmo tempo em que se respeitam as necessidades das populações locais”.
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Apesar de as notícias não serem as melhores, o mapeamento
também detectou zonas protegidas onde os objetivos de conservação estão sendo
plenamente atingidos, caso do Santuário da Vida Selvagem de Keo Seima, no
Camboja, do Parque Nacional Madidi, na Bolívia, e da Reserva da Biosfera Yasuni,
no Equador. “Nós sabemos que áreas de proteção funcionam. Quando bem
financiadas, bem gerenciadas e bem localizadas, são extremamente efetivas para
frear as ameaças que causam perda de biodiversidade e garantir que as espécies
saiam da beira da extinção. Também há muitas áreas protegidas que ainda estão
em boas condições e conservam os últimos redutos de espécies ameaçados em todo
o mundo”, destacou o autor sênior do estudo, James Watson, professor da
Universidade de Queensland, em nota.
Três perguntas para Pablo Negret, biólogo e candidato a PhD da Universidade de Queensland
Três perguntas para Pablo Negret, biólogo e candidato a PhD da Universidade de Queensland
De acordo com o mapa, a Amazônia brasileira tem baixa
pressão humana. Isso necessariamente significa uma política forte de
conservação?
A bacia amazônica é uma área de difícil acesso e baixa pressão humana, comparada a outras áreas do Brasil e do continente, fazendo dela menos acessível para intervenções humanas. Além disso, é importante destacar que essas análises não incluíram alguns fatores que, em nível global, são difíceis de mapear, mas, para o contexto brasileiro, e, particularmente, da bacia amazônica, geram alta pressão dentro das áreas. Alguns deles são caça, mineração ilegal e mudanças climáticas. Isso também mostra que, mesmo que nossos resultados sejam alarmantes, as estimativas que fizemos são conservadoras. Apesar disso, é importante destacar o valor de áreas protegidas no Brasil e na América do Sul como uma ferramenta-chave para a proteção da natureza. Contudo, é importante esclarecer que, para áreas protegidas funcionarem, é preciso que sejam adequadamente financiadas, bem gerenciadas e bem localizadas.
Considerando que seremos, em breve, 9 bilhões de habitantes, esse cenário vai piorar ou há uma chance de superá-lo?
Depende de nós, como protetores do planeta, tentar tomar as decisões certas para acabar com o declínio catastrófico da biodiversidade. A biodiversidade do planeta ainda pode ser salva, mas tudo depende da decisão que tomarmos agora.
O senhor vê alguma agenda política atual para mudar essa situação?
Particularmente no caso da América do Sul, a agenda tem de incluir uma compreensão das necessidades das pessoas, especialmente daquelas em áreas isoladas, como várias regiões da Amazônia, onde há comunidades com falta de alternativas de subsistência que não agridam o ambiente. Também como mostra nossa análise, é muito importante entender o que está acontecendo dentro das áreas protegidas, para termos uma melhor compreensão de quanta terra realmente precisamos alocar para conservação, como podemos expandi-las efetivamente e como podemos protegê-las melhor. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
A bacia amazônica é uma área de difícil acesso e baixa pressão humana, comparada a outras áreas do Brasil e do continente, fazendo dela menos acessível para intervenções humanas. Além disso, é importante destacar que essas análises não incluíram alguns fatores que, em nível global, são difíceis de mapear, mas, para o contexto brasileiro, e, particularmente, da bacia amazônica, geram alta pressão dentro das áreas. Alguns deles são caça, mineração ilegal e mudanças climáticas. Isso também mostra que, mesmo que nossos resultados sejam alarmantes, as estimativas que fizemos são conservadoras. Apesar disso, é importante destacar o valor de áreas protegidas no Brasil e na América do Sul como uma ferramenta-chave para a proteção da natureza. Contudo, é importante esclarecer que, para áreas protegidas funcionarem, é preciso que sejam adequadamente financiadas, bem gerenciadas e bem localizadas.
Considerando que seremos, em breve, 9 bilhões de habitantes, esse cenário vai piorar ou há uma chance de superá-lo?
Depende de nós, como protetores do planeta, tentar tomar as decisões certas para acabar com o declínio catastrófico da biodiversidade. A biodiversidade do planeta ainda pode ser salva, mas tudo depende da decisão que tomarmos agora.
O senhor vê alguma agenda política atual para mudar essa situação?
Particularmente no caso da América do Sul, a agenda tem de incluir uma compreensão das necessidades das pessoas, especialmente daquelas em áreas isoladas, como várias regiões da Amazônia, onde há comunidades com falta de alternativas de subsistência que não agridam o ambiente. Também como mostra nossa análise, é muito importante entender o que está acontecendo dentro das áreas protegidas, para termos uma melhor compreensão de quanta terra realmente precisamos alocar para conservação, como podemos expandi-las efetivamente e como podemos protegê-las melhor. TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
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