Convencer as pessoas de que o respeito às regras de distanciamento
e de uso de máscaras ajuda a proteger os seus familiares surte mais efeito do
que apelar para que elas sigam as normas para não serem punidas, mostra
pesquisa americana
Correio Braziliense
(crédito: AFP / ERNESTO BENAVIDES)
Usar o argumento de que o distanciamento social e o uso de
máscara são fortes atitudes de proteção das famílias pode ser a melhor
estratégia de convencimento de quem ainda não adotou essas práticas, mostram
cientistas estadunidenses.
O grupo chegou à conclusão após realizar um estudo
comportamental com mais de mil pessoas e divulgou os resultados da análise na
revista especializada Patient Education and Counseling.
No artigo, os cientistas relatam que mensagens focadas em
envergonhar ou pressionar as pessoas a usarem máscaras ou evitarem multidões
têm falhado, já que os índices dos casos da doença têm subido rapidamente em
praticamente todo o mundo. Por isso, eles resolveram investigar se outra
estratégia poderia render melhores resultados entrevistando 1.074
norte-americanos sobre suas atitudes em relação ao novo coronavírus.
Ao serem perguntadas sobre o que pensavam sobre o uso de
máscaras e de distanciamento para proteger toda a comunidade, as pessoas, de
uma forma geral, reagiram negativamente. Alegaram que haveria violação de
direitos e liberdades individuais. Já quando a pergunta abordava a proteção de
familiares como justificativa para o uso de proteções, as respostas foram mais
positivas.
“Quando as pessoas avaliam os comportamentos de proteção de
forma mais geral, ou seja, como uma norma a ser seguida por todos, pensamentos
negativos, como a percepção de um controle externo, substituem os positivos”,
explica, em comunicado, Kenneth Resnicow, professor do Departamento de
Comportamento de Saúde e Educação em Saúde na Escola de Saúde Pública da
Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e autor principal do estudo.
Ao contrário, “quando as pessoas se consideram agentes
protetores para os mais próximos, elas abordam essa proposta de maneira
diferente. Os indivíduos são menos propensos a permitir que suas crenças
pessoais e políticas as desencorajem de praticar a proteção nesse contexto”,
explica Resnicow.
Mais vulneráveis
Para a equipe, o resultado indica que as estratégias de
incentivo ao uso de medidas protetivas precisam mudar. “Nossos dados mostram
que simplesmente repetir que as pessoas devem seguir as diretrizes de saúde
pública provavelmente não será eficaz. Enfatizar o ato de proteger os mais
próximos pode fazer com que as pessoas não relutem em seguir as práticas
protetivas, pode fazer com que elas se sintam independentes e fortes, em vez de
complacentes ou obedientes”, afirma Resnicow.
O fato de os mais vulneráveis serem idosos e/ou pessoas com
comorbidades, o que já desperta o cuidado de familiares, também torna a
metodologia proposta pela equipe estadunidense estratégica. “Indivíduos com
problemas crônicos de saúde têm 12 vezes mais probabilidade de morrer com o
novo coronavírus. Para aqueles que cuidam de alguém com câncer ou outras
doenças, proteger seu ente querido é fundamental”, justifica o autor do estudo.
Resnicow ressalta ainda que pensar em formas de mobilização
mais eficazes é ainda mais importante agora, com a chegada das campanhas de
vacinação contra a covid-19. “A perspectiva de perder alguém é ainda mais
terrível sabendo que podemos estar chegando na reta final dessa pandemia. Com
as vacinas no horizonte, é mais importante do que nunca seguir as medidas de
distanciamento social para ajudar a acabar com a covid-19 o mais cedo. Ter essa
preocupação com quem convivemos pode ser um grande auxiliar nessa tarefa”,
afirma.
Maior contato com a natureza
O que é necessário para que algumas pessoas passem a
valorizar mais a natureza? Segundo cientistas estadunidenses, a pandemia da
covid-19 parece estar favorecendo essa mudança de postura. Os pesquisadores
entrevistaram 400 frequentadores de 25 parques e áreas naturais do país e
descobriram que 26% daqueles que visitaram os locais nos primeiros meses da
pandemia raramente ou nunca haviam visitado espaços parecidos no ano anterior.
“Como muitas pessoas, notamos um grande aumento no número de
visitantes às florestas e aos parques urbanos nos primeiros dias da pandemia
(…) Queríamos entender como as pessoas estão usando a natureza local para lidar
com os desafios físicos e mentais da pandemia de covid-19”, relata, em
comunicado, Brendan Fisher, pesquisador da Universidade de Vermont e autor do
estudo, publicado na revista especializada Plos One.
Os cientistas também observaram que quase 70% dos usuários
do parque aumentaram as visitas à natureza local durante o isolamento social e
que 81% dos entrevistados disseram que essas experiências foram “muito
importantes” para eles, mais do que antes do período de isolamento.
Segundo os relatos, 66% das pessoas recorreram a essas áreas
para encontrar paz e tranquilidade. Para os cientistas, esses resultados
mostram a importância de manter esses espaços verdes preservados.
“Especialistas em doenças infecciosas preveem que novos vírus surgirão com
frequência. As áreas naturais e seus orçamentos devem ser salvaguardados e, se
possível, aprimorados para manter e melhorar o bem-estar humano, especialmente
em tempos de crise”, justificam.
Tomado de correio brasiliense
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