Índios se mobilizam para resistir a despejo em
Mato Grosso do Sul
Guarani-caiovás
se dizem dispostos a morrer pela terra
Índios
reunidos na tribo em CaarapóMichel Filho
DOURADOS
(MS) — A bandeira vermelha foi hasteada nesta sexta-feira no acampamento
guarani-caiová de Pindoroky, em Caarapó, Mato Grosso do Sul. Foi o sinal dado
pelos mil indígenas instalados dentro da fazenda de Orlandino Gonçalves
Carneiro, de que vão resistir à ordem judicial de reintegração de posse.
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A Justiça
deu a eles dez dias para desocupar a fazenda e permitir a exumação do cadáver
do menino Denilson Barbosa, de 15 anos, assassinado a tiros em fevereiro pelo
fazendeiro. Isso revoltou os índios, que estão dispostos a morrer pela posse da
fazenda, considerada por eles e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como
parte da terra indígena.
A
reintegração de posse foi concedida anteontem pela juíza Raquel Domingues do
Amaral Corniglion, da 1ª Vara Federal de Dourados. A notificação chegou à
aldeia ontem, o que faz com que eles tenham de deixar a área até dia 19 de
abril, o Dia do Índio. Logo que souberam da ordem de despejo, os índios
iniciaram a convocação dos guarani-caiovás de todo o sul do estado, como os
vizinhos da reserva Teikuê, habitada por 5.600 índios. Nesta sexta-feira, já
estavam no local 2 mil índios.
Aldeia
quer reunir cinco mil para evitar a desocupação
Os líderes
indígenas prometem reunir 5 mil homens até a semana que vem, para impedir o
despejo. Em toda a região, com 26 municípios, moram 45 mil guarani-caiovás.
Dezenas de líderes se reuniram nesta sexta-feira em frente à oca principal e, uma
a uma, começaram a fazer relatos desesperados da situação em que vivem desde o
dia 18 de fevereiro, dia em que o fazendeiro Orlandino Carneiro atirou duas
vezes na cabeça de Denilson Barbosa. Foi depois desse crime que eles resolveram
ocupar a propriedade e lá enterrar o corpo do garoto indígena.
Ernesto
Veron, líder guarani-caiová, de cara pintada para a guerra, disse:
— Vamos
reunir todos os nossos irmãos aqui para lutar contra a decisão da juíza. Ela
não tem coração. Aqui moram crianças, velhos e mulheres grávidas. Vamos morrer
aqui. Daqui não sairemos vivos. Aproveito para dar um recado para a juíza e
para a presidente Dilma: a aldeia do Tekuê tem 5 mil índios e todos estão
dispostos a resistir. Nosso sangue já foi derramado aqui — disse, apontando para
a cova onde está sepultado Denilson.
‘Isso
não é justiça’
Os índios
gritavam enlouquecidamente a cada palavra de Veron, que teve o pai, Marcos
Veron, assassinado em 2003 por pistoleiros do fazendeiro Jacinto Honório, em
Juti, a 40 quilômetros de Caarapó.
— Isso não
é justiça. O assassino do Denilson está em liberdade. Ele matou o menino como
se fosse um cão. Pegou o corpo, colocou numa camionete e o jogou na estrada.
Depois, confessou o crime. Ao invés da Justiça jogar o fazendeiro atrás das
grades, vem esta ordem judicial. Mas não vamos sair. Vamos enfrentar polícia,
jagunços do fazendeiro, quem vier. Vamos resistir até a morte — bradou Ernesto.
Depois,
falaram os avós, tios e até os três professores de Denilson. Todos repetiam que
vão resistir até a morte e que jamais permitirão a exumação do corpo do garoto.
Muitos choraram enquanto falavam, em guarani, como foi o caso de dona Lúcia
Barbosa, a avó:
— Não vou
sair de perto do meu neto.
O tio,
Odivaldo Barbosa, ameaçou “invadir a cidade de Caarapó” se a reintegração
acontecer:
— Não vamos
correr. Pode vir batalhão de choque. Se a presidente Dilma não se sensibilizar
e não fizer a demarcação das terras indígenas, é melhor que mande abrir grandes
valas para nos enterrar aqui.
Valdelice
Veron, líder guarani-caiová, era a mais emotiva e contundente:
— Orlandino
é réu confesso, mas seus pistoleiros estão com sede do nosso sangue. Vão nos
atacar junto com a polícia no dia do despejo, mas vamos morrer aqui lutando
pela terra que a Constituição nos garante. Nunca aceitamos ficar no chiqueiro
das oito reservas em que nos confinaram aqui no Mato Grosso do Sul. Vamos lutar
por nossa terra até o último suspiro.
MP vai
recorrer
Os índios
reivindicam uma área de seis mil hectares, incluindo a fazenda de Orlandino
como terra indígena.
O
procurador da República Marco Antonio Delfino, do Ministério Público Federal de
Dourados, não acredita que a decisão da juíza será cumprida no próximo dia 19,
como temem os índios. Segunda-feira, ele vai entrar com um embargo contra a
decisão da Juíza Raquel Corniglion. Vai alertá-la de que a reintegração pode
gerar um conflito de grandes proporções.
— A juíza
não levou em consideração que 5 mil índios podem se rebelar. No embargo, vamos
lembrar as dificuldades de se retirar tanta gente. Como convencer um índio que
ele tem que tirar da terra o corpo de um filho? — disse Delfino.
— Vamos
levar pelo menos dois ou três meses com recursos, tempo suficiente para
negociar uma saída para o impasse. A Funai e o MPF estão fazendo estudos
antropológicos para considerar o local como terra indígena.
Pedido
de força policial
A advogada
Sueli Lima, que representa o fazendeiro Orlandino Carneiro, no entanto, diz que
se os índios não deixarem as terras de seu cliente em dez dias, vai requerer
força policial para o cumprimento da ordem judicial:
— O
Orlandino reconheceu seu erro. Foi à polícia e disse que atirou para assustar.
Confessou que atirou, mas não é invadindo suas terras que vão penalizar meu
cliente.
Tomado de o globo de Brasil
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