Estudo explica por que jovens ignoram médicos e insistem em
se expor ao sol
Pesquisa americana aponta baixa autoestima e narcisismo
elevado como os principais fatores que levam os jovens a dar as costas à
proteção em nome da estética
PO Paloma Oliveto
Mulheres tomam sol em cobertura de Belo Horizonte(foto: AFP)
O apelo é enorme: nas mídias sociais, na televisão, nas
revistas e nas propagandas de agências de viagem, o Sol aparece como sinônimo
de beleza, saúde e diversão. De fato, poucos discordam que pegar uma praia e
ficar com marquinha de biquíni é, além divertido, algo atraente do ponto de
vista estético. Porém, os riscos da exposição à radiação ultravioleta já são
bem conhecidos. Além de queimaduras, envelhecimento precoce e manchas, há o
câncer de pele. Esses perigos não parecem incomodar os millenials, ou geração
Y, como são chamadas as pessoas nascidas entre 1980 e 2000. Uma pesquisa da
Universidade Estadual de Oregon (OSU), em Cascade, indica que, embora
conhecendo a importância da proteção solar, muitos continuam se bronzeando, sem
se preocupar com os danos à saúde.
O estudo, publicado na revista Journal of Consumer Affairs,
indica que baixa autoestima e altas taxas de narcisismo estão por trás de um
comportamento considerado imprudente pela medicina. Segundo a principal autora,
Amy Watson, os jovens com autoconfiança elevada são os menos propensos a
“torrar sob o Sol”, ao mesmo tempo em que aqueles muito preocupados com
estética parecem achar que os benefícios do bronzeamento são maiores que os
riscos.
O trabalho foi realizado com 250 estudantes universitários,
com idade entre 18 e 23 anos, que responderam a perguntas sobre suas crenças a
respeito da efetividade dos protetores solares e dos riscos da luz
ultravioleta; questões sobre motivação para se bronzear e nível de “vício” em
bronzeamento, além de serem interrogados sobre autoestima, narcisismo,
aparência e comportamentos aditivos. Entre os participantes, 47% eram homens e
53%, mulheres.
Aparência
“Melhorar a aparência foi a maior motivação para um
comportamento aditivo em relação ao bronzeamento”, conta Amy Watson, professora
de marketing da OSU e principal autora do artigo. “O número de pessoas que
ainda se expõem deliberadamente ao Sol para se bronzear é alarmante. Precisamos
encontrar novas formas de estimulá-las a proteger a pele, incluindo desafiar o
ideal de que a pele bronzeada é um padrão de beleza”, diz.
O câncer de pele é o tipo mais comum do mundo, com 3,5
milhões de casos diagnosticados anualmente. No Brasil, ele responde por 33% de
todos os diagnósticos da doença, com 180 mil novos casos por ano, segundo o
Instituto Nacional do Câncer (Inca). Globalmente, os casos de melanoma entre
mulheres de 18 a 39 anos aumentaram 800% entre 1970 e 2009.
Apesar das campanhas frequentes da Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD) e do Grupo Brasileiro de Melanoma, a dermatologista Fernanda
Resende, da Aliança Instituto de Oncologia, reconhece que a cultura do
bronzeamento é quase imbatível no país. “Aqui no Brasil temos uma incidência de
exposição solar maior do que lá fora. No país, o apelo do Sol é muito forte,
ele sempre está relacionado a momentos de lazer e diversão. E a valorização da
estética do bronzeamento está enraizada”, lamenta a médica, membro da SBD. Mesmo
fora dos trópicos, a geração Y parece fascinada pela exposição ao Sol, mostrou
o estudo conduzido por Watson. Cerca de 70% dos participantes assumiram que
expõem a pele propositalmente à radiação para se bronzear. Um terço afirmou que
estar moreno é importante para eles, enquanto 37% disse que se sente melhor
bronzeado. Já 41% dos afirmaram que a cor os torna mais confiantes em relação à
aparência. Amy Watson explica que os pesquisadores mediram o nível de adição
dos jovens em bronzeamento por meio de questões como “Fico chateado quando
pessoas falam para eu não tomar sol” e “Continuo me expondo ao Sol sabendo que
é ruim para mim” e, ainda, “Me sinto pouco atraente e ansioso se não consigo
manter a cor”.
Outra constatação foi que aqueles com baixa autoestima e
alto teor narcisista eram os mais propensos a exibir adição em relação ao
bronzeamento. Os pesquisadores não encontraram evidências de que saber sobre os
riscos de se expor ao Sol reduz esse comportamento. “O que descobrimos foi que
esse conhecimento não importa para eles”, observa Amy Watson. Nos Estados
Unidos, de acordo com ela, ainda há um concorrente da luz solar, tão
prejudicial quanto: as cabines de bronzeamento, proibidas no Brasil.
Consciência
Segundo Watson, com as campanhas da vigilância sanitária
norte-americana, muitos começaram a abandonar esse hábito. “As pessoas estão
começando a assimilar a mensagem dos perigos de usar essas cabines, mas um
enorme número ainda vai para o ar livre se bronzear, expondo a pele
deliberadamente ao Sol, por achar que isso é atraente. Temos de mudar essa narrativa
de que a pele corada está associada à saúde e juventude. É o oposto, porque, na
verdade, uma pele bronzeada é uma pele danificada”, diz.
A dermatologista especializada em melanoma Fernanda Resende
concorda com a pesquisadora norte-americana. “O jovem gosta do bronzeado, da
marquinha, por achar sensual. Temos de tentar reverter isso. O bronzeamento não
causa só câncer, ele age cumulativamente. Os sinais só aparecem depois dos 30
anos, então o sol que você tomou lá atrás é a pele manchada mais tarde. A adolescente
linda de marquinha estará arrependida aos 40, com rugas e melasmas. Então, um
grande apelo é estimular esses jovens a pensar mais à frente”, acredita.
Lesões investigadas
O Grupo Brasileiro de Melanoma começou uma campanha para
ajudar profissionais não-médicos a identificar possíveis lesões cancerosas na
pele de seus clientes. Segundo a dermatologista Fernanda Resende, membro da
Sociedade Brasileira de Dermatologia, mais de 60% dos cânceres do tipo são
identificados pelo próprio paciente ou pelo companheiro. Pensando nisso, o GBM
decidiu capacitar podólogos, tatuadores e cabeleireiros, entre outros
profissionais que lidam diretamente com a pele, para reconhecerem lesões em potencial
e, assim, aconselharem os clientes a buscar ajuda médica. TOMADO DE CORREIO
BRAZILIENSE
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