O achado foi publicado nesta quinta-feira na revista especializada Science por uma equipe internacional de pesquisadores
Correio Braziliense
(crédito: Caesb/Divulgação)
Por ser fundamental para a existência de vida, a água é um dos elementos da natureza mais estudados por cientistas. No entanto, apesar da infinidade de experimentos a que já foi submetida, ela continua a surpreender os especialistas.
Em um estudo publicado
nesta quinta-feira (19/11), na renomada revista especializada Science, uma
equipe internacional de pesquisadores apresenta provas de que a água pode
existir em dois estados líquidos distintos, uma descoberta que pode explicar
muitas das propriedades exóticas desse líquido tão precioso.
Um dos autores do artigo, Nicolas Giovambattista, professor
do Departamento de Física da Brooklyn College, nos Estados Unidos, explica que
a possibilidade de a água existir em dois estados líquidos havia sido proposta
há cerca de 30 anos, com base em simulações realizadas por computador.
"Essa hipótese contraintuitiva se tornou uma das
questões mais importantes da quíimica e da física da água. Isso porque
experimentos que pudessem acessar os dois estados líquidos da água eram muito desafiadores
devido à aparentemente inevitável formação de gelo na baixa temperatura onde a
água pode apresentar, simultaneamente, os dois estados líquidos", explica
Giovambattista em um comunicado à imprensa.
O estado líquido comum da água ocorre quando ela está sob
uma temperatura nem muito fria nem muito quente, ao redor de 25ºC. O que o
estudo publicado na Science mostrou é que ela se divide em dois estados
líquidos se sua temperatura baixar para cerca de 63ºC negativos e, ainda assim,
devido a outros fatores, não congelar. Nessas circunstâncias, ela terá um
estado líquido de alta densidade e outro de baixa densidade, como se fossem
dois líquidos diferentes separados por uma finíssima camada que reúne as duas
propriedades.
Para chegar a essa conclusão, a equipe, liderada por Anders
Nilsson, professor de fisicoquímica na Universidade de Estocolmo, realizou uma
série de experimentos em um acelerador de partículas e simulações de
computadores. "Nós conseguimos fazer um raio-x incrivelmente rápido antes
que a água congelasse e pudemos observar como um líquido se transformou em
outro", descreve Nilsson, em uma texto divulgado pela instituição onde ele
trabalha.
Os autores acreditam que a confirmação dessa propriedade da
água — a de poder existir em dois estados líquidos simultaneamente — deve
possibilitar várias aplicações científicas. "Ainda permanece uma pergunta
aberta como a presença de dois líquidos pode afetar soluções aquosas em geral
e, em particular, como dois líquidos podem afetar biomoléculas em ambientes
aquosos. Essa descoberta motivará mais estudos em busca de suas potenciais
aplicações", acredita Giovambattista.
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