Teste adesivo é capaz de detectar a malária em apenas 20 minutos
Teste adesivo combina o uso de microagulhas e fitas de
anticorpos para detectar a presença de protozoários ligados à doença.
Dispositivo criado nos EUA também chama a atenção pela agilidade: o resultado
sai em 20 minutos
VS
(crédito: Jeff Fitlow/Rice University)
Para detectar uma enfermidade, a análise do sangue do
paciente é quase uma regra. Principalmente nos casos de doenças infecciosas,
causadas por vírus ou parasitas. Esse cenário, porém, pode mudar. Pesquisadores
dos Estados Unidos desenvolveram um teste de malária que dispensa a
investigação sanguínea tradicional. A tecnologia utiliza uma série de
microagulhas que são aplicadas na pele por meio de um pequeno adesivo e, em
apenas 20 minutos, conseguem detectar a presença de proteínas relacionadas ao
protozoário que causa a enfermidade. A técnica foi apresentada, neste mês, na
revista especializada Nature Microsystems and Nanoengineering e, segundo seus
criadores, também poderá ser usada para identificar a infecção pelo Sars-CoV-2
e por outros patógenos.
Para chegar a um diagnóstico rápido e menos invasivo da
malária, os pesquisadores deram foco ao fluido intersticial dérmico, um líquido
presente no sangue que contém uma série de proteínas que podem indicar a
presença de agentes invasores. “O fluido contém uma infinidade de biomarcadores
para várias doenças. É um material muito rico para sistemas de diagnóstico”,
afirma, em comunicado, Peter Lillehoj, pesquisador da Universidade de Rice, nos
Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Para analisar o fluido intersticial dérmico, os pesquisadores utilizam
microagulhas hidrofílicas, que são atraídas pela água. Isso faz com que elas
consigam aspirar apenas o fluido intersticial do sangue. “Posicionamos 16
microagulhas em um adesivo que pode ser colado como um pequeno curativo em cima
da pele. As agulhas têm 375 mícrons de largura e 750 mícrons de comprimento, o
suficiente para atingir o fluido”, detalha Lillehoj.
Os cientistas também adicionaram uma pequena fita repleta de
anticorpos no adesivo e um pequeno marcador. Feito o contato com a pele,
células de defesa podem reagir caso detectem a presença das proteínas
relacionadas à malária. Se isso acontece, o dispositivo marca duas linhas
vermelhas (positivo), indicando a infecção. Se não houver reação das células de
defesa, apenas uma linha aparece (negativo). Em testes com porcos, a equipe
obteve resultados bastante apurados.
Baixo custo
Apesar de as duas tecnologias usadas fazerem parte de outras
soluções biomédicas, os pesquisadores ressaltam que o projeto é o primeiro a
explorá-las juntas em uma ferramenta de diagnóstico. “As microagulhas e o os
papéis com anticorpos são conhecidos por muitos especialistas, mas ainda não
tínhamos dispositivos que unissem essas duas áreas para detectar enfermidades.
Realizamos essa tarefa com sucesso e, agora, temos um teste barato e simples”,
assegura o autor do estudo.
Assim que o teste é concluído, o dispositivo pode ser removido como qualquer
curativo. “Eu e Xue Jian, minha colega de pesquisa, aplicamos o adesivo em
nossa pele, e não parece algo dolorido, principalmente em comparação com uma
picada no dedo ou uma coleta de sangue. É menos doloroso do que tirar uma
farpa. Eu diria que é como colocar fita adesiva na pele e, depois, arrancá-la”,
assegura Lillehoj. Outra vantagem, segundo ele, é que a solução não requer
conhecimento médico de quem for aplicá-la ou qualquer equipamento extra.
Peter Lillehoj destaca que a nova tecnologia pode ser
bastante útil para realizar testagens em crianças. “No início, não era nosso
plano fazer um adesivo, mas agora que a nossa tecnologia tomou essa forma, ela
parece ser ainda mais útil, já que muitas crianças têm medo de agulha”,
justifica. “Nosso plano é fazer com que ela seja ainda mais comerciável.
Acreditamos que poderá ser vendida a cerca de US$ 1 quando for produzida em
grande escala”, complementa.
Comodidade
Joel Rodrigues, membro do Instituto de Engenheiros
Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e professor da Universidade Federal do Piauí
(UFPI), avalia que o dispositivo apresenta vantagens valiosas. “Ainda é um
protótipo, mas já vemos que essa forma de análise é muito mais cômoda do que a
maioria dos testes de diagnóstico. Imagine que você pode comprar esse
dispositivo em uma farmácia, usá-lo sem a ajuda de um especialista e sem
precisar furar o dedo”, afirma.
O especialista brasileiro ressalta que essa funcionalidade
pode fazer a diferença em um momento de crise sanitária. “Também vemos que
resultados mais demorados têm sido um problema principalmente agora, durante a
pandemia da covid-19. É difícil ter a rapidez e a acuidade de diagnóstico ao
mesmo tempo”, justifica. Joel Rodrigues destaca, principalmente, a ausência de
dor no processo de análise proposto pelos cientistas americanos. “Isso ocorre
devido ao uso dessas microagulhas, uma tecnologia muito interessante e que tem
sido bastante explorada na área médica justamente para evitar pequenos
incômodos que ainda estão presentes em alguns exames.”
Segundo o professor da UFPI, muitos especialistas têm se
dedicado ao desenvolvimento de exames médicos que poupem os pacientes de
sentirem dor. “Indivíduos com diabetes, por exemplo, precisam conferir o nível
de glicose constantemente. Pesquisadores já chegaram a alguns instrumentos que
conseguem realizar essa análise sem precisar tirar o sangue da pessoa”, conta.
Rodrigues acredita que mais pesquisas são necessárias para
que o diagnóstico rápido de malária possa chegar ao mercado. “Precisamos que as
análises sejam feitas em animais maiores e, em seguida, em voluntários. A
partir daí, vamos dizer se essa tecnologia pode ser usada com segurança em
humanos. Já temos provas fortes de sua acessibilidade, mas é importante ter,
ainda, mais certeza da acuidade do diagnóstico”, opina.
Tomado de correio brasiliense
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