MP alerta que contaminação em Volta Redonda põe
em risco o Paraíba do Sul
Esse é o
principal rio que abastece a Região Metropolitana
Foto Um
plástico é colocado no solo de uma praça do Condomínio Volta Grande IV, vizinho
à Companhia Siderúrgica Nacional, para evitar a contaminação de
moradoresGustavo Stephan / Agência O Globo
RIO - A
contaminação do solo no entorno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por
metais pesados atinge as águas do Rio Paraíba do Sul, que abastece a Região
Metropolitana do Rio. E a empresa tem conhecimento dessa situação desde 2004,
segundo informações de uma ação do Ministério Público Federal (MPF), de junho
do ano passado. No documento, o procurador Rodrigo da Costa Lines sublinha que
o dano ao Paraíba do Sul é “sumariamente comprovado” por meio de estudos
realizados pelas empresas de consultoria ambiental Walterloo e Nickol,
contratadas pela própria CSN. Na segunda-feira, o secretário estadual do
Ambiente, Carlos Minc, anunciou multa administrativa de R$ 35 milhões à
siderúrgica de Volta Redonda, na região do Médio Paraíba.
A
expectativa era que a multa chegasse a R$ 50 milhões, mas, segundo o
secretário, a punição não atingiu o valor máximo porque ainda não foi
comprovada por laudo a contaminação das famílias que ocupam o conjunto
habitacional Volta Grande IV. Aproximadamente 2.200 pessoas vivem no local.
Segundo Minc, assim que uma família apresentar a comprovação de contaminação, o
valor da multa será revisto.
A CSN
informou que não foi notificada pela Secretaria estadual do Ambiente sobre a
multa, que discorda desse procedimento administrativo e, por conta disso,
apresentará recurso. O Volta Grande IV foi financiado pela Caixa Econômica
Federal.
O lixo
químico enterrado no solo do terreno doado pela empresa ao Sindicato dos
Metalúrgicos, em 1995, pode inclusive ter relação com incidência de abortos e
leucopenia — redução no número de leucócitos no sangue — nos moradores,
conforme atesta estudo epidemiológico feito pela prefeitura de Volta Redonda no
condomínio.
Na última
quinta-feira, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) anunciou que o nível de
ascarel — óleo altamente nocivo à saúde — na área chega a ser até 90 vezes
superior aos padrões aceitáveis. Outros elementos, como chumbo, cádmio, zinco e
cromo, também superam os limites toleráveis.
‘Ideal é
isolar a área’, diz especialista
Toxicologista
e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luiz Querino Caldas
afirma que acompanha o caso, que considera gravíssimo, há duas décadas. Ele
defende que a área seja isolada e estudos aprofundados sobre o grau de
contaminação.
— O chumbo
está associado a alterações neurológicas graves, com efeitos de longo e curto
prazo. O ascarel é um elemento carcinogênico (potencial causador de câncer),
pode trazer efeitos nocivos ao sistema nervoso central. É uma situação
gravíssima que repercute na saúde das gerações que virão. O ideal é isolar a
área e fazer o rastreamento do lençol freático. Na década de 90 já tínhamos
conhecimento da gravidade da situação. Estes elementos, mesmo em pequenas
quantidades e diluídos no Paraíba do Sul, são capazes de causar disfunções
endócrinas.
O
secretário Carlos Minc afirmou na segunda-feira que a situação é um dos “piores
dramas ambientais” do Estado do Rio nos últimos anos. Ele reivindicou que 750
pessoas que moram na área já comprovadamente contaminada deixem o local, às
expensas da CSN:
— A
contaminação do solo e do lençol freático foi feita por 18 produtos tóxicos,
entre eles o ascarel, que foi banido do país — disse Minc, acrescentando que a
empresa terá que arcar, ainda, com os custos de remoção dos moradores e com o
pagamento da descontaminação do solo, que deve custar cerca de R$ 60 milhões.
Além da
multa administrativa, o Inea estabeleceu 22 medidas complementares que a CSN
terá que cumprir. Foi dado o prazo de sete dias para a companhia apresentar e
iniciar um plano de análise da saúde dos moradores da região. A siderúgica,
explica Minc, terá que contratar uma empresa para realizar exames, providenciar
laudos e, constatadas as contaminações, custear os tratamentos de saúde. A CSN
também deverá, num prazo máximo de 15 dias, elaborar um plano de realocação das
220 famílias. E, em 30 dias, a empresa deverá apresentar um plano de
descontaminação tanto do solo e do lençol freático.
Impactos
ainda estão sendo medidos
O valor da
multa e as demais medidas foram decididos em reunião do Conselho Diretor do
Inea. A empresa será notificada e as medidas encaminhadas também à 3ª Vara
Cível de Volta Redonda, onde tramita uma ação civil pública impetrada pelo
Ministério Público Estadual. Minc explicou que, além da multa, baseada na lei
estadual 3.467/2000, também poderão ser determinadas pela Justiça outras multas
e punições penais, incluindo pena de prisão, com base na legislação federal de
crimes ambientais.
Minc diz
que a extensão da contaminação ainda está sendo medida:
— A
contaminação do lençol freático é ainda mais grave, porque nesta área ele está
entre 1 metro e 1,5 metro, é muito superficial. Os poluentes podem ter se
espalhado por uma área muito maior que a destes condomínios.
Técnicos
da fiocruz farão inspeção
Técnicos da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) irão a Volta Redonda fazer estudos mais
detalhados sobre a saúde de quem vive no bairro Volta Grande IV. A informação
foi dada ontem pelo vereador José Jerônimo Teles Filho (PSC), que propôs a
criação de uma comissão especial na Câmara de Volta Redonda para acompanhar o
caso.
De acordo
com o vereador, os dados colhidos de 2004 a 2013 pela Secretaria municipal de
Saúde servirão de base para parte dos estudos.
— O
advogado dos moradores, Igor Alexei, nos disse que uma das principais
reivindicações é transformar o posto de saúde do bairro numa base avançada.
Isso já está sendo feito. A chegada dos técnicos da Fiocruz será importante
para investigar mais a questão — disse Jerônimo.
O
parlamentar afirmou ainda que os moradores, que estão bastante apreensivos com
a situação, devem contar com os trabalhos de ao menos uma psicóloga e uma
assistente social.
- As
pessoas estão receosas e um pouco apavoradas. Estamos tentando uma reunião com
o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc. Independentemente da boa
intenção do secretário, a primeira coisa a fazer é informar os moradores do
Volta Grande IV antes de qualquer tipo de ação. Hoje, eles ficam sabendo dos
acontecimentos pelos jornais. É preciso maior cooperação e consideração —
afirmou o vereador.
Tomado de o
globo de brasil
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