Atropelando a natureza
Experiente repórter cinematográfico de Mato Grosso usa
viagens pelo Estado para denunciar descaso ambiental em estradas e rodovias
Valdeci Queiroz - Ver carcaças de animais atropelados à
beira das estradas é muito triste, mas, infelizmente, se torna cena repetitiva
GUSTAVO NASCIMENTO
Um dos mais conhecidos e respeitados repórteres
cinematográficos de Mato Grosso tem usado suas viagens pelo Estado para
denunciar o descaso ambiental em estradas e rodovias. Em menos de dois anos,
ele conseguiu registrar centenas de animais atropelados, muitos dos quais
ameaçados de extinção.
Valdeci Queiroz, de 48 anos, já participou de grandes
reportagens mostrando a beleza do estado que foram veiculadas no Fantástico e
no Jornal Nacional, na Rede Globo. Ele relata que, em praticamente todas as
viagens que faz, encontra carcaças de animais atropelados. “Para se ter uma
ideia, eu tirei foto até de um beija-flor atropelado. Imagine a velocidade do
veículo para poder pegar o beija-flor?”
Entre os animais fotografados por Valdeci, estão tamanduás,
jacarés, cobras, onças, antas, capivaras e pássaros de diversas espécies. “
Gosto de filmar e fotografá-los vivos, para exaltar a beleza do nosso Estado.
Porém tenho que registrar esta situação triste.”
O repórter lembrou que o estado é o único que contém três tipos
de bioma, amazônia, cerrado e pantanal, e que tem uma variedade gigantesca de
animais. Porém, praticamente não existe fiscalização nas rodovias. “O número de
estradas-parque que temos é baixíssimo e mesmo assim os locais não são
sinalizados ou fiscalizados”.
Por conta da intensa travessia de animais, as
estradas-parque têm um limite de velocidade de apenas 60 km por hora. Além
disso os ainda têm a trafegabilidade restrita a certos tipos de veículos,
proibindo carretas e pesados. Contudo, Valdeci afirma que os motoristas não
respeitam a legislação.
“Faltam ainda soluções melhores para evitar que as
fatalidades aconteçam na escala em que ocorrem. Na Bolívia, por exemplo,
existem barreiras com redutores de velocidade a cada três ou cinco quilômetros,
impedindo assim que os carros atinjam altas velocidades. Grades e túneis,
somente, não resolverão a mortalidade”.
Segundo o cinegrafista, a Transpantaneira, que liga a cidade
de Poconé até a localidade de Porto Jofre, na beira do Rio Cuiabá, na divisa
com Mato Grosso do Sul, acabou sendo uma das mais seguras para os animais por
não ter asfalto. “Depois que asfaltaram a região de Barão de Melgaço aumentou
muito o índice de atropelamentos na região, não tem problema em asfaltar, desde
que fiscalizem e regulamentem”.
EDUCAÇÃO - Valdeci também é educador ambiental e dá
palestras em escolas do interior. Ele conta que ficou abismado com a falta de
informação ambiental nas comunidades, que muitas vezes é quem têm o maior
contato com a natureza.
“Na verdade não existe educação ambiental no interior. Certa
vez eu mostrei fotos e vídeos da natureza para uma classe de alunos e em
seguida mostrei imagens de queimadas e animais mortos a eles. O simples gesto
já fez com que os pequenos começassem a chamar a atenção dos pais. Como vamos
querer melhorar o meio ambiente se não ensinamos?”
Em todo este tempo de registros, Valdeci conta que já perdeu
quatro motos e uma pequena fortuna investida no trabalho. Porém ele não se
arrepende e lamenta a falta de investimentos. “Poucas pessoas apoiam todo este
trabalho de registro e educação ambiental. Enquanto as pessoas não olharem para
isso, não seremos um estado referência”, lamenta.
O meio ambiente envolve todas as coisas vivas e não vivas
que ocorrem na terra, ou alguma região dela, que afetam os ecossistemas e a
vida dos humanos. É o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas. Tomado de diario de cuiaba Brasil
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