Falta de verba federal seria motivo das 300 demissões que
travaram a obra da nova ponte do Guaíba
Travessia é construída desde o ano passado pelo consórcio
formado por Queiroz Galvão e EGT Por: Juliano Rodrigues
Engenharia
Prevista para estar pronta no final de 2017, construção não
está nem com metade do trabalho concluído Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS
Encolhido em 58% em um período inferior a dois anos, o
número de trabalhadores no setor de infraestrutura do Estado cairá ainda mais
nas próximas semanas com a confirmação da paralisação da obra da nova ponte do
Guaíba. Nesta segunda-feira, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias da Construção Pesada no Estado do Rio Grande do Sul (Siticepot), em
torno de 300 pessoas foram comunicadas da demissão pelo consórcio formado por
Queiroz Galvão e EGT Engenharia, que constrói a travessia desde o ano passado.
Em novembro de 2015, 200 operários já haviam sido
dispensados do canteiro de obras. Segundo o Movimento Ponte do Guaíba, para o
cronograma ser cumprido, com conclusão prevista para o fim de 2017, seriam
necessários mil trabalhadores para a etapa atual da construção, mas até a
semana que vem o número deve ser zerado.
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Oficialmente, a Queiroz Galvão, empreiteira que lidera a
execução da ponte, recusa-se a comentar os motivos que a levaram a dispensar os
funcionários na manhã de ontem, mas supostos atrasos e a insuficiência nos
repasses de recursos do governo federal seriam a razão para a decisão da
empresa. O orçamento de 2016 previa a destinação de R$ 65 milhões para a obra,
valor que é quase a metade do aprovado pelo Senado no ano passado, R$ 112
milhões — mesmo o montante total já é considerado deficitário.
Escassez de dinheiro ameaça outros empreendimentos
Segundo empresas ligadas ao setor, mesmo que o governo
esteja pagando em dia o consórcio, os valores são insuficientes para manter os
trabalhados em ritmo normal. Em nota, a assessoria de imprensa do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que o órgão "não
emitiu qualquer ato administrativo que ensejasse a paralisação do
contrato", negou atrasos em repasses e disse que pedirá esclarecimentos ao
consórcio Ponte do Guaíba a respeito da suspensão. O custo total da construção
é de R$ 649,6 milhões. Nem o órgão nem as empreiteiras informaram quanto foi pago
até o momento.
Além da travessia, as demais melhorias de infraestrutura
rodoviária do Estado estão paralisadas ou em processo de interrupção por falta
de dinheiro federal. Na semana passada, o Dnit aprovou o envio de uma proposta,
sob análise do Ministério dos Transportes e da Casa Civil, que prevê a
suspensão de obras devido à ausência de recursos.
A medida afetaria, além da ponte, o contorno de Pelotas e a
travessia urbana de Santa Maria. Com esse cenário, as empresas do segmento
acabaram aumentando o número de demissões nos últimos meses.
— O que equilibra um pouco o nosso setor são as obras de
parques eólicos e hidrelétricas, mas praticamente não há mais ninguém
trabalhando em construção de rodovias. Entre 2013 e 2014, chegamos a ter em
torno de 18 mil pessoas filiadas. Hoje, estamos na casa dos 7,5 mil — lamenta o
presidente do Siticepot, Isabelino Garcia dos Santos.
Foto: Diagramação ZH
Crise política também afeta investimentos
As perspectivas para o futuro do setor de construção de
rodovias são pessimistas e dependem, acima de tudo, do dinheiro dos cofres da
União, que enfrenta período de ajuste nas contas e deve apertar ainda mais o
cinto com o possível afastamento da presidente Dilma Rousseff e o ingresso do
vice Michel Temer no cargo. A tendência é de que o peemedebista aprofunde
algumas medidas de equilíbrio fiscal, o que significaria reduzir investimentos.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção de
Estradas do RS (Sicepot), Ricardo Portella, o governo terá de fazer escolhas
diferentes se quiser alavancar o crescimento do país e reduzir o desemprego. Na
avaliação de Portella, a União deveria dobrar o valor previsto a investimentos
em estradas no orçamento, de R$ 5 bilhões para R$ 10 bilhões:
— O país está sem governo, está parado. Vamos gastar com
seguro desemprego, em 2016, mais de 10 vezes o que gastaremos com investimentos
em estradas. Com o Bolsa Família, serão de quatro a cinco vezes mais. O (eventual) novo
governo precisa compreender que construir rodovias é importante para o nosso
futuro, para melhorar a produção, gerar emprego, melhorar o resultado
econômico.
Execução do projeto pode mudar de mãos
Execução do projeto pode mudar de mãos
Com a possível troca de comando no Palácio do Planalto nas
próximas semanas a partir do afastamento da presidente Dilma Rousseff e a
ascensão do vice Michel Temer ao cargo, a condução da construção da nova ponte
do Guaíba também deve passar por alterações. Licitada pelo Regime Diferenciado
de Contratações (RDC), que prevê uma disputa mais rápida entre os postulantes à
obra, a travessia pode ser retirada desse modelo e incluída na renovação do
contrato de concessão da freeway, que termina em julho de 2017.
Assim, a empresa que vencesse a concorrência poderia
administrar a rodovia, mas teria de arcar com os custos para erguer a ponte. A
Concepa, que gere atualmente o trecho da BR-290 entre Porto Alegre e o acesso
ao Litoral Norte, já manifestou interesse nessa alternativa.
Na noite de domingo, o governador José Ivo Sartori e o
ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB), um dos principais articuladores do
vice-presidente, conversaram no Palácio Piratini sobre o assunto. Sartori
manifestou preocupação com algumas obras federais no Estado, entre elas a
ponte, e ouviu de Padilha que há disposição do futuro governo em resolver o
assunto.
— O mais provável é que a ponte e outras obras que pararam
ou que estão prestes a parar sejam incluídas em concessões pelo governo federal
— afirma um interlocutor do ex-ministro.
Nos próximos dias, o presidente do Movimento Ponte do
Guaíba, Luiz Domingues, pretende ir a Brasília encontrar Padilha para conversar
sobre a questão. Ele quer um compromisso do político gaúcho, cotado para
assumir a chefia da Casa Civil em eventual gestão do peemedebista, com a
execução da travessia.
— Temos certeza que o Temer vai continuar a obra. Há
alternativas, como a Concepa fazer a construção. Temos esperanças, a nossa
relação com o Padilha é muito boa e acreditamos que ele não vai permitir que a
obra pare — afirma.
A reportagem entrou em contato com o Ministério dos
Transportes, com a Casa Civil e encaminhou questionamentos a respeito da obra
da nova ponte do Guaíba, mas não obteve retorno até a noite de segunda-feira.
TOMADO DE ZERO HORA DE RGS BR
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