Cubanos recém-chegados para o Mais Médicos dizem não saber
salário
DE SÃO PAULO
Médicos cubanos recém-chegados a São Paulo ouvidos ontem (5)
pela Folha dizem não saber quanto irão receber do governo de Cuba.
Os 700 cubanos hospedados na capital paulista integram o
terceiro ciclo do Mais Médicos. Todos começaram a fase de avaliações ontem.
Incomodados com a presença da reportagem, foram poucos os
que aceitaram conversar. Alguns foram impedidos de dar entrevista por colegas.
Todos os entrevistados afirmaram desconhecer o valor da
bolsa mensal a que têm direito pelo programa.
Um deles disse que o convênio prevê US$ 5 mil. Não soube
especificar se ficaria com o total ou parte dele –convertido, o valor fica
acima da bolsa (cerca de R$ 12 mil, enquanto o governo paga aos demais médicos
R$ 10 mil).
"O pagamento é essencial, mas é a coisa menos
importante numa missão", disse outro. Segundo ele, o mais importante para
o grupo é ajudar o povo brasileiro que precisa de cuidado médico básico.
Questionados pela Folha, afirmaram desconhecer a deserção de
Ramona Matos Rodriguez, 51.
REFÚGIO
Ramona apresentou ontem um pedido de refúgio ao governo
brasileiro. Ela abandonou o programa Mais Médicos no sábado (1º) e foi para
Brasília em busca de ajuda para permanecer no país. Com o pedido, ela pode
permanecer em território brasileiro até uma decisão do governo.
O documento foi levado ao Conare (Comitê Nacional para os
Refugiados) pelo líder do DEM, Mendonça Filho (PE), e pelo deputado Ronaldo
Caiado (DEM-GO). Eles entregaram o pedido diretamente ao secretário nacional de
Justiça, Paulo Abrão. O processo deve ser iniciado em março, mas não há prazo
para sua conclusão.
"Com o recebimento [do pedido], ela tem todas as
prerrogativas de uma cidadã livre. [...] Esperamos bom senso e equilíbrio do
governo", afirmou Caiado em coletiva após a entrega do documento. O
deputado afirmou ainda que irá procurar o Ministério da Saúde para discutir o
desligamento da médica do programa Mais Médicos. Foto Sérgio Lima/Folhapress
A médica cubana Ramona Rodriguez, 51, anunciou que vai pedir
asilo político ao Brasil
Ramona também pediu auxílio do governo norte-americano no
sábado. Ela afirmou à Folha que já havia solicitado um visto americano na
embaixada do país em Brasília. Os Estados Unidos possuem um programa específico
para a concessão do documento a profissionais de Cuba -foi por meio dele que
médicos cubanos em missão na Venezuela obtiveram permissão para ingressar em
solo norte-americano.
Além do pedido de refúgio, Ramona recebeu a proposta de
trabalhar na área administrativa da Fenam (Federação Nacional dos Médicos)
enquanto aguarda uma decisão sobre o seu futuro no país. "Estamos
estudando a possibilidade de ela começar a trabalhar na Fenam. Posso garantir
que ela não trabalhará como gerente de hotel, mas sim dentro do que sabe
fazer", disse Caiado.
Ramona anunciou na terça-feira (4), na Câmara dos Deputados,
que decidiu abandonar seu posto de trabalho, no interior do Pará, quando
descobriu que o salário pago aos profissionais cubanos era inferior à
remuneração dos demais médicos do programa.
"Eu penso que fui enganada por Cuba. Não disseram que
era o Brasil que estaria pagando R$ 10 mil reais pelo serviço dos médicos
estrangeiros. Me informaram que seriam US$ 400 aqui e US$ 600 pagos lá depois
que terminasse o contrato. Eu até achei o salário bom, mas não sabia que o
custo de vida aqui no Brasil seria tão alto", afirmou a cubana. (ARETHA
YARAK e MARIANA HAUBERT) tomado de la folhia de san pablo Brasil
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