Relatório aponta os problemas dos grandes hospitais do país Paciente
reclamou da quantidade de baratas no hospitais
ANDRÉ DE SOUZA -BRASÍLIA
- Os grandes hospitais públicos brasileiros de urgência e emergência sofrem com
problemas como a carência de leitos, filas de espera e falta de profissionais,
equipamentos e investimentos. Em alguns casos, falta até mesmo água para beber
e dar a descarga. As conclusões são de relatório feito pela Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), pelo Conselho
Federal de Medicina (CFM) e por outras entidades ligadas à saúde, após visita a
oito grandes hospitais de diferentes cidades. No Rio de Janeiro, foi observada
a situação do Hospital Municipal Souza Aguiar.
- Foi mera percepção do óbvio - afirmou o deputado Arnaldo
Jordy (PPS-PA), coordenador do grupo de trabalho da CDHM que visitou os
hospitais.
Além do Souza Aguiar, foram visitados o Hospital Arthur
Riberio de Saboya, em São Paulo; Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador;
Pronto Socorro João Paulo II, em Porto Velho; Pronto Socorro Municipal Mario
Pinotti, em Belém; Hospital de Base, em Brasília; Hospital Nossa Senhora da
Conceição, em Porto Alegre; e Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande, na
região metropolitana de Cuiabá.
"Foram observados extremos em que a atenção à urgência
e emergência apresentava um nível satisfatório, embora ainda com problemas a
solucionar (como na unidade de SP), até degradante caso que se assemelhava a
uma 'enfermaria de guerra', em que além de pacientes 'internados em macas' nos
corredores da emergência, havia aqueles 'internados em colchões sobre o chão'
(como na unidade de RO)", destaca o relatório.
Um dos casos que chamou a atenção do deputado foi a do
Pronto Socorro Municipal Mario Pinotti, em Belém, onde a falta de água foi
classificada como uma situação surreal.
- Em Belém, no dia da visita, não tinha água no bebedouro,
água no chuveiro. A descarga não estava funcionando por falta de água - afirmou
Jordy.
O Souza Aguiar, no Rio, também chamou a atenção do deputado.
Segundo ele, uma das feridas do acidente com o bondinho de Santa Teresa
reclamou da quantidade de baratas.
- À noite, ela ficava acordada, porque, com a quantidade de
baratas, ela ficava apreensiva para impedir que esses insetos chegassem aos
pacientes.
O relatório produzido pela CDHM destacou quatro casos
testemunhados pela comissão no Souza Aguiar. Um deles trata de um menino de
três anos, vindo de ambulância de Jacarepaguá, em busca de um cirurgião
pediátrico para uma cirurgia de urgência. "Já havia passado por outros
dois hospitais públicos municipais. Não encontrando o especialista, estava
sendo recusado pelo Souza Aguiar também. A Comissão apelou à direção e ele foi
atendido por um profissional habilitado", diz o relatório.
Houve outro caso envolvendo criança que precisou de
intervenção da CDHM. "Mãe chega com seu filho de ouvido inflamado e febre,
pele com escaras, vinda de Niterói, encaminhada pelo serviço de saúde de lá.
Não pode ser atendida. Mais uma vez a CDHM intervém e pede solução. A criança é
encaminhada para atendimento ambulatorial", aponta o relatório.
"Os deputados concluem que são graves os problemas na
cidade do Rio. Sugerem que a CDHM retorne ao município para visitar outros
hospitais, entrevistar gestores do sistema e realizar audiência pública",
conclui o relatório.
Jordy reclamou principalmente do subfinanciamento. Segundo
ele, nos últimos dez anos, foram aprovados R$ 53 bilhões de investimentos da
União em saúde, mas somente R$ 5,5 bilhões foram efetivamente gastos. Ele
também defendeu que 10% da receita orçamentária seja destinada para o setor,
conforme prevê uma proposta em tramitação no Congresso.
Filme para pedir mais recursos
Junto com o relatório, foi divulgado um filme de uma
campanha publicitária do CFM exigindo mais recursos para a saúde. O filme
também diz que é preciso abandonar as medidas paliativas e adotar medidas
concretas. Questionado se entre elas está o Mais Médicos - programa do governo
federal que traz médicos de fora, principalmente de Cuba, para atuar no Brasil
e que enfrentou forte oposição do CFM - o presidente da entidade, Roberto
d'Ávila, respondeu:
- Não somente. Todas as medidas que não são definitivas, que
não são programas de Estado provisórios.
O relatório faz várias recomendações ao Executivo, entre
elas aumentar o número de leitos, monitorar filas de espera, agilizar exames e
obrigar efetivamente os planos de saúde a ressarcir o SUS pelos serviços
públicos que eles utilizam.
- Os planos de saúde não têm encontro de contas com o SUS.
Apesar de ter portarias, resoluções do ministério, geralmente isso é
interditado via judicialização, à medida que a alegação feita é que o sistema
de saúde é universal, é porta aberta. Portanto não é cabível esse tipo de
questionamento, o que agride nosso entendimento - disse Jordy, acrescentando: -
Estamos fazendo o SUS financiar plano de saúde. E os planos de saúde
financiando time de futebol "y otras cositas más". Quer dizer, é uma
inversão completa do sistema.
TOMADO DE O GLOBO DE BR
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