Especialistas questionam fim do racionamento de água em
junho
Para Marcelo Resende, membro do Conselho de Recursos
Hídricos do DF, anúncio do fim do racionamento é precipitado e faz com que os
brasilienses continuem dependendo das chuvas. GDF garante que decisão foi
baseada em critérios técnicos
Nesta quinta, nível do Descoberto e de Santa Maria chegou a
91,1% e 56,5%, respectivamente(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Após um ano e quatro meses, o racionamento de água no
Distrito Federal tem dia para acabar: 15 de junho. Com a suspensão dos cortes
no abastecimento nessa data, a segurança hídrica da população estará
assegurada, afirmou o governador Rodrigo
Rollemberg, que anunciou a medida na manhã desta quinta-feira (3/5). Nem
todos, porém, compartilham da certeza do governo.
O coordenador do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária
da Universidade Católica de Brasília (UCB) e membro do Conselho de Recursos
Hídricos do DF, Marcelo Resende, acredita que é cedo para pôr fim ao
racionamento. Para ele, enquanto as obras de Corumbá IV (que deve abastecer a
parte sul do Distrito Federal) não estiverem prontas, o Distrito Federal corre
risco de ficar sem água.
SAIBA MAIS
"Tecnicamente, não é o momento para fazer esse tipo de
anúncio. O fim do racionamento deveria ter sido decretado só a partir do
momento em que todas as obras já estivessem prontas. O mais razoável seria
esperar, ao menos, até o fim do ano", comenta o especialista. Segundo ele,
agora o DF precisa contar com a sorte de ter uma boa estação chuvosa a partir
do fim do ano para que a população não volte a sofrer com a crise
hídrica.
Para Demétrios Christofidis, professor de gestão de recursos hídricos no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), a falta d’água não é uma exclusividade do Distrito Federal, mas sim uma realidade preocupante na maioria das grandes cidades brasileiras.
Para Demétrios Christofidis, professor de gestão de recursos hídricos no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), a falta d’água não é uma exclusividade do Distrito Federal, mas sim uma realidade preocupante na maioria das grandes cidades brasileiras.
Menos otimista que o governo, o professor também acredita
que o GDF não deveria se valer apenas na construção de Corumbá IV para garantir
o abastecimento da região. “Eu não recomendo que a crise do abastecimento seja
enfrentada como maior oferta, mas como menor consumo. Pode ser que Corumbá VI
só fique pronto depois do período da chuva, aí vamos correr, possivelmente, um
pequeno risco”, comenta.
Segundo ele, em Brasília, racionar a água foi importante
para garantir que toda população tivesse o recurso, mesmo com o corte de um
dia. No entanto, resolver essa questão passa, segundo ele, pelos cidadãos. É
migrar do racionamento imposto pelo governo ao “racionamento racional, onde
cada cidadão assume o compromisso de usar água com responsabilidade”,
acredita.
População preocupada
Desde que o rodízio foi instituído, os cerca de 3 milhões de
moradores do Distrito Federal tiveram que mudar hábitos, reduzir o consumo e se
acostumar com a ameaça de não ter água em casa. Em 3 de maio do passado, o
Descoberto registrava volume de 56,3% de sua capacidade. Nesta quinta, a marca
estava em 91,1%. Em Santa Maria, o índice chegou a 56,5%, contra 53,8%, em
2017.
Mesmo com os altos índices, parte da população teme que a
suspensão seja precipitada. Em enquete promovida pelo Correio na internet, por
exemplo, 72% dos leitores disseram que não concordavam com a medida.
Nesta quinta-feira, mais leitores demonstraram
preocupação quanto à segurança de determinar o fim do racionamento. O GDF
respondeu esses internautas informando que a decisão foi tomada com base em
critérios técnicos e apoiado em estudos da Caesb e da Adasa, que garantem a
segurança hídrica no DF.
"Na menos otimista das estimativas, o
reservatório do Descoberto, por exemplo, continuaria acima de 20% de sua
capacidade, o que garante o abastecimento com tranquilidade até o próximo
período de chuvas. Além disso, até lá, teremos Corumbá IV em operação, com 2,8
mil litros por segundo a mais de água para o DF", informa a nota.
Para o presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram),
Aldo Fernandes, racionar a água é apenas uma parte do trabalho de conscientizar
a população sobre o uso responsável do recurso. "Nós esperamos que o uso
sustentável da água, que foi intensificado em função da crise hídrica, ajude as
pessoas a ter consciência de que precisam continuar economizando", diz.
Ele comenta que o período de racionamento impulsionou os
órgãos ambientais a desenvolverem projetos de recuperação das bacias, como, por
exemplo, o programa Produtor de Água no Pipiripau, que recuperou parte do
manancial, considerado um dos mais importantes do DF. A bacia garante abastecimento
hídrico das populações de Planaltina e Sobradinho. Já foram plantadas 350 mil
mudas pelos 177 produtores contratados. “O conjunto das ações dentro da bacia
acaba aumentando a produção de água, além de intensificar outros trabalhos,
como, por exemplo, a fiscalização do mau uso da água”, finaliza.
Consumo de água no DF
O consumo doméstico de água no DF chega a 82,5% da produção
de água tratada, segundo a Caesb. Esse número, somado ao contexto de seca no
Planalto Central faz com que o sistema de abastecimento chegue ao limite nos
horários de pico. Para se ter ideia, a captação média mensal atual é de 7.045
litros por segundo, por conta do racionamento. Oferta menor que o consumo do
ano passado, que teve média de 7.897 litros por segundo.
Um avanço na economia de água. Em dois anos, a população do
Distrito Federal reduziu o consumo de água por pessoa de 184 litros diários –
um dos maiores do país – para 128 litros, segundo a Caesb.
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Obras do Corumbá IV
Em obras há 13 anos, o Corumbá IV já está com 73% de sua
estrutura concluída, segundo a Companhia de Saneamento do Distrito Federal
(Caesb). O Lago Corumbá, com 173 quilômetros quadrados, tem capacidade para
abastecer até 1,3 milhões de pessoas. O valor para a realização da obra é de R$
550 milhões. Com a execução de Corumbá IV, o governador do DF afirmou que serão
resolvidos os problemas de crise hídrica em Brasília pelos próximos 30 anos. A
previsão do GDF é que as obras estejam concluídas até dezembro deste ano.
Captação de água do Lago Paranoá
Em janeiro deste ano, a Caesb inaugurou um sistema de
bombeamento de água da estação emergencial do Lago Paranoá até a estação de
tratamento do Plano Piloto. O “booster” custou R$ 1,4 milhão, e a verba veio da
tarifa de contingência. Na prática, isso faz com que a água do lago – que era
distribuída apenas para Lago Norte, Varjão, Paranoá e parte de Sobradinho –
também chegue nas Asas Sul e Norte, Noroeste e Sudoeste. De acordo com a Caesb,
com isso, a intenção é poupar ainda mais o reservatório do Descoberto. Tomado
de correio braziliense
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