Cientistas
avançam na luta contra a malária, doença que afeta 200 milhões
Impregnar
os mosquiteiros com atovaquona, um antimalárico usado em humanos, evita o
desenvolvimento do protozoário causador da doença dentro dos insetos. Proposta
feita por americanos também combate a resistência a inseticidas
Há lugares
em que os insetos são imunes a todos os tipos de substância-chave colocada nos
mosquiteiros (foto: Albert Gonzalez Farran/AFP - 13/5/13 )
Mosquitos
que posam em superfícies cobertas com o composto atovaquona ficaram imunes à
infecção pelo Plasmodium falcíparum, o parasita que causa malária, segundo
estudo da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, de Harvard. A pesquisa, publicada
nesta semana na revista Nature, mostrou que esse ingrediente ativo de
medicamentos usados em humanos para prevenir e tratar a doença pode ser
absorvido pelas patas do inseto, prevenindo o desenvolvimento do protozoário.
Segundo os autores, a descoberta indica que usar a substância em mosquiteiros
ou em outros artefatos similares pode ser uma forma efetiva de reduzir o fardo
da malária e, ao mesmo tempo, mitigar significativamente o crescimento do
problema da resistência a inseticidas.
“Mosquitos são organismos incrivelmente
resilientes que desenvolveram resistência contra todo inseticida que já foi
usado para matá-los. Ao eliminar os parasitas da malária dentro do mosquito em
vez de matar o próprio inseto, podemos contornar a resistência e, efetivamente,
prevenir a transmissão da doença”, diz Flaminia Catteruccia, professora de imunologia
e doenças infecciosas. “O uso de antimaláricos nos mosquiteiros pode ajudar a
eliminar essa doença devastadora. É uma ideia simples, mas inovadora, que é
segura para pessoas que usam essas redes, além de ambientalmente correta.”
Quase metade
da população mundial está sob risco de contrair malária. Anualmente, mais de
200 milhões de pessoas ficam doentes e mais de 400 mil morrem da enfermidade,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos últimos 20 anos, mosquiteiros
tratados com inseticidas de longa duração reduziram significativamente o fardo
global da doença. Estima-se que as redes sejam responsáveis por 68% dos casos
evitados desde 2000. Recentemente, porém, surgiram mosquitos resistentes aos
produtos mais comumente usados. Em alguns pontos de maior prevalência da
malária, a resistência é quase total aos piretoides, um dos grupos-chave de
inseticidas usados atualmente.
Vetor
No estudo
publicado da Nature, os pesquisadores raciocinaram que poderiam introduzir
compostos antimaláricos nos mosquitos Anopheles, os vetores da doença, de uma
maneira similar ao que ocorre quando o inseto entra em contato com um
mosquiteiro. Em vez de matá-lo, o objetivo é tratá-lo profilaticamente, de
forma que não possa desenvolver nem transmitir o parasita causador da malária.
Para testar a abordagem, os cientistas passaram atovaquona em superfícies de
vidro e as cobriram com copos de plástico. Fêmeas de Anopheles foram colocadas
dentro do recipiente. Antes ou imediatamente depois, elas foram infectadas com
o protozoário.
Porém, o
desenvolvimento do Plasmodium no organismo dos mosquitos foi completamente
bloqueado, mesmo com baixas concentrações do atovaquona e quando expostos por
seis minutos, o que é comparável ao tempo que mosquitos selvagens passam nas
redes tratadas com inseticidas. O resultado foi o mesmo quando foram usados
compostos similares ao medicamento. O atovaquona matou os parasitas sem
provocar efeitos no tempo de vida ou na reprodução dos mosquitos.
“Quando
colocamos esses dados em um modelo matemático usando dados reais de resistência
a inseticidas, cobertura de mosquiteiros e prevalência de malária, o resultado
mostrou que suplementar as redes convencionais com compostos como o atovaquona
pode reduzir consideravelmente a transmissão da malária sob quase todas as
condições das quais tínhamos informações disponíveis”, diz Douglas Paton,
pesquisador e principal autor do estudo. “O que realmente nos animou é que o
modelo também mostrou que a nova intervenção pode ter grande impacto em áreas
com maiores níveis de resistência a inseticidas.”
68% Dos
casos da doença evitados no mundo desde de 2000 se deram em função do uso de
mosquiteiros
"Ao
eliminar os parasitas da malária dentro do mosquito em vez de matar o próprio
inseto, podemos contornar a resistência e, efetivamente, prevenir a transmissão
da doença”
Continua
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Flaminia
Catteruccia, professora de imunologia e doenças infecciosas da Escola de Saúde
Pública T.H. Chan, de Harvard
Há 100
milhões de anos
A análise do
fóssil de um mosquito encontrado em Myanmar, na Ásia, sinaliza que esses
insetos podem estar desempenhando o papel de vetor da malária há 100 milhões de
anos. Os pesquisadores da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, estudaram
restos de um Priscoculex burmanicus e chegaram à conclusão de que ele tinha
muitas semelhanças com os Anopheles, responsáveis pela transmissão da malária
em diversas partes do mundo. Antenas, abdômen, veias de asas e a
probóscide, um tipo de boca longa que suga o sangue, estão entre as
características em comum. Segundo George Poinar Jr, um dos responsáveis pelo
estudo, os animais antigos podem ter “carregado a malária na época”. “Mas essa
ainda é uma questão em aberto”, pondera. Os resultados do trabalho foram
divulgados, mês passado, na revista Historical Biology. // tomado de correio
braziliense
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