lunes, 4 de marzo de 2019

INMUNO TERAPIA PARA CANCER DE MAMA


Em fase de testes, imunoterapia reduz tumor de mama triplo-negativo em 33%
Na terapia padrão, o mesmo efeito é observado em 11% das pacientes. Para especialistas, nova abordagem poderá revolucionar o combate a esse tipo de carcinoma
PO Paloma Oliveto
Um dos mais desafiadores diagnósticos de câncer de mama é o triplo-negativo metastático, que tem baixa taxa de resposta aos tratamentos disponíveis. Há duas décadas que não há avanços nas terapias, mas um estudo publicado no The New England Journal of Medicine sugere que esse quadro pode mudar em breve. Pesquisadores do Centro de Câncer do Hospital Geral de Massachusetts (HGM) e da Universidade de Columbia, entre outros centros médicos nos Estados Unidos, aplicaram, em mulheres com esse tumor, uma imunoterapia que vem sendo testada para diversos tipos cânceres e conseguiram sucesso em 33% dos casos, com remissão de, em média, 7,7 meses. A quimioterapia convencional produz resultado em 10% a 15% das pacientes, que ficam até, no máximo, três meses livres da doença.
Diferentemente dos outros tipos de câncer de mama, o triplo-negativo não tem as moléculas alvo dos tratamentos eficazes contra o tumor. Por isso, drogas que atacam o HER2, os receptores de estrógeno ou de progesterona, não geram efeitos significativos, o que faz a doença avançar e gerar metástases. A sobrevida média não mudou nos últimos 20 anos: 12 meses depois do diagnóstico. “A taxa de insucesso da quimioterapia disponível e a falta de opções ressaltam a necessidade urgente de buscarmos melhores tratamentos”, destaca Aditya Bardia, médica do HGM e principal investigadora do estudo.
A droga que produziu os resultados descritos no The New England Journal of Medicine é a sacituzumab govitecan, substância que combina um anticorpo cujo alvo é o antígeno Trop-2, expressado pela maior parte das células do câncer de mama, e o SN-38, molécula produzida pelo quimioterápico irinotecan. Quando o anticorpo se liga às moléculas Trop-2, o medicamento é liberado dentro da célula doente, diretamente no tumor. Assim como outras terapias-alvo, a ideia é atacar apenas o câncer e preservar os tecidos saudáveis próximos, o que reduz a toxicidade do tratamento. “Por isso, podemos inserir uma dose bem maior da droga no tumor, o que aumenta a sua efetividade”, destaca o autor sênior do artigo, Kevin Kalinsky, oncologista no Hospital Presbiteriano de Nova York, da Universidade de Columbia.
Bem tolerada
Os testes da droga foram feitos com 108 pacientes de câncer de mama triplo-negativo metastático que já haviam sido submetidas a outros tratamentos. O sacituzumab govitecan reduziu a doença em um terço das participantes e, em 3% do total, produziu remissão total. As respostas duraram em média quase oito meses, e as mulheres viveram sem progressão da doença por 5,5 meses, sendo que nove pacientes continuaram sem piora do câncer por mais de um ano. Os resultados indicam que o tratamento foi bem tolerado, sem mortes associadas. Os efeitos colaterais sérios mais comuns foram baixa contagem de células sanguíneas, como neutrófilos, leucócitos e hemácias. Segundo os autores, essas reações adversas foram administráveis.

“Esses resultados sugerem que o sacituzumab govitecan é um agente ativo contra o câncer de mama triplo-negativo metastático, sem resistência cruzada com outros tratamentos, além de seguro. Isso representa um novo paradigma terapêutico em potencial”, diz Aditya Bardia. “Acho que essa droga tem potencial de mudar a prática médica (em relação a esse câncer), porque os dados são muito convincentes, mesmo com o tamanho relativamente pequeno de pacientes”, completa Kevin Kalinsky.
O Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório do setor de medicamentos nos Estados Unidos, porém, ainda não está tão convencido. Em 2016, o sacituzumab govitecan recebeu, do FDA, a designação de terapia inovadora, uma classificação criada em 2012 para agilizar o desenvolvimento de uma droga que se destina a tratar, isoladamente ou em conjunto com outras, uma doença potencialmente fatal. Na época, os estudos preliminares apresentados pelo laboratório Immunomedics, dono da patente da droga, indicaram à agência que o tratamento era substancialmente mais eficaz que o que há disponível atualmente.
No mês passado, contudo, o FDA negou a aprovação acelerada do sacituzumab govitecan. Em nota, Michael Pehl, presidente e chefe executivo da Immunomedics, afirmou que a decisão teve como foco “exclusivamente questões sobre química, fabricação e controle (do medicamento)” e  que não seria preciso “apresentar novos dados clínicos ou pré-clínicos”. Pehl também destacou que um novo encontro com o FDA deverá ocorrer “o mais rápido possível, para compreendermos completamente os requisitos e cronogramas para aprovação. Vamos trabalhar em estreita colaboração com o FDA, com o objetivo de trazer esse importante medicamento para os pacientes o mais rapidamente possível”.
Melhora dos sintomas
Kevin Kalinsky, da Universidade de Columbia, está esperançoso de que isso ocorra em breve. “Vimos redução significativa do tumor com a droga, e demorou muito mais para o câncer progredir, comparado a outras substâncias comumente usadas para tratar o câncer de mama triplo-negativo metastático. Ter tumores menores é algo incrivelmente importante para a qualidade de vida da paciente. Quando o tumor diminui, os pacientes têm uma melhora grande nos sintomas, como a dor.”
Atualmente, está em curso mais um estudo de fase III do sacituzumab govitecan, com 400 pacientes sendo recrutadas nos Estados Unidos e na Europa. Além do câncer de mama triplo-negativo metastático, o sacituzumab govitecan está sendo testado para outros tumores de mama, câncer de bexiga e de próstata.  Tomado de correio braziliense

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