Equipe
consegue produzir substâncias derivadas da Cannabis sativa a partir da
levedura. De acordo com cientistas, a solução, que dispensa o cultivo da
maconha, é uma forma barata e ambientalmente correta de fornecer insumos para
medicamentos diversos
PO Paloma
Oliveto
Cultivo da
maconha para uso medicinal demanda muita água e energia elétrica. Há ainda os
cuidados quanto ao uso de pesticidas (foto: Jack Guez/AFP - 9/3/16 )
Do alívio da
dor em pacientes oncológicos à prevenção de convulsões e ao tratamento de
psoríase, substâncias extraídas da Cannabis sativa são cotadas como promissoras
para diversas condições. Com a liberação do uso medicinal e recreativo em 33
países, há interesse crescente da indústria farmacêutica em investigar os
potenciais de uma planta cultivada há milênios. Porém, o estudo e a utilização
dos canabinoides ainda esbarram em questões legais, na baixa quantidade das dezenas
de compostos da cannabis e na complexidade estrutural, fatores que limitam a
síntese dos produtos químicos em larga escala. Da levedura de cerveja, contudo,
poderá vir a solução.
Em um artigo
publicado na revista Nature, pesquisadores da Universidade da Califórnia em
Bekerley, nos Estados Unidos, relatam que, com bioengenharia genética,
conseguiram sintetizar cinco canabinoides. A produção inclui um dos mais
visados devido à variedade de aplicações medicinais, o THC. Para tanto, não foi
necessária nem uma folha de cannabis. As substâncias foram produzidas a partir
do Saccharomyces cerevisiae, um fungo usado na fabricação de pão, cerveja e
biocombustível. Segundo os autores, a levedura, que só precisa de açúcar para
ser cultivada, é uma forma barata e fácil de se conseguir canabinoides, hoje
extraídos diretamente da folha da Cannabis sativa.
“É uma forma mais segura e ambientalmente
correta de se produzir canabinoides”, diz Jay Keasling, professor de
bioengenharia e líder da pesquisa. Ele explica que, enquanto alguns extratos da
maconha são bem estudados — caso do próprio THC —, a planta tem centenas de
substâncias com potencial para a indústria farmacêutica basicamente
desconhecidos. Isso porque ocorrem em pequenas quantidades, dificultando sua
obtenção. “Meios de cultivo como a levedura, que é uma fonte pura, permitem
obter vários canabinoides raros que podem resultar em novas terapias ou mesmo
sintéticos, que não existem na planta naturalmente.”
Indústrias
verdes
Devido à
abundância e à simplicidade de cultivo, as leveduras têm sido usadas como meio
de cultivo de substâncias e fármacos como o hormônio de crescimento humano, a
insulina, fatores de coagulação e, de forma ainda experimental, de morfina e
outros opioides. Há muitos anos trabalhando com a biologia sintética, Keasling
diz que leveduras e bactérias são como indústrias farmacêuticas “verdes”, que
dispensam processos da indústria química conhecidos por deixar subprodutos
tóxicos e, muitas vezes, poluentes no meio ambiente.
“O cultivo de cannabis é um exemplo de indústria que gasta muita energia e é destrutiva ambientalmente”, diz o biólogo. Ele afirma que fazendas da Califórnia que plantam maconha contaminaram riachos com escoamento de pesticidas e fertilizantes, além de drenar as bacias hidrográficas, porque a cannabis exige muita água. Além disso, para cultivá-la, usa-se estufas equipadas com luzes e ventiladores. Em consequência, um estudo estimou que a indústria de cannabis da Califórnia responde por 3% do uso de eletricidade do estado. O crescimento interno do plantio causou apagões em algumas cidades, e o consumo de energia pode adicionar mais de US$ 1 mil ao preço de um quilo de erva.
Keasling conta que, em seu laboratório, já produziu, com a levedura, a droga antimalárica artemisinina, transformou resíduos vegetais em biocombustível, sintetizou sabores e aromas para a indústria de alimentos e cosméticos e produtos químicos usados na fabricação de novos materiais. Porém, ele admite que utilizar a técnica que domina para obter canabinoides foi um desafio científico mais interessante. “Quando você lê sobre casos de pacientes que têm convulsões e são ajudados pelo CBD (canabidiol), especialmente crianças, percebe que há algum valor nessas moléculas e que produzir canabinoides em leveduras pode realmente ser ótimo”, diz. // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
“O cultivo de cannabis é um exemplo de indústria que gasta muita energia e é destrutiva ambientalmente”, diz o biólogo. Ele afirma que fazendas da Califórnia que plantam maconha contaminaram riachos com escoamento de pesticidas e fertilizantes, além de drenar as bacias hidrográficas, porque a cannabis exige muita água. Além disso, para cultivá-la, usa-se estufas equipadas com luzes e ventiladores. Em consequência, um estudo estimou que a indústria de cannabis da Califórnia responde por 3% do uso de eletricidade do estado. O crescimento interno do plantio causou apagões em algumas cidades, e o consumo de energia pode adicionar mais de US$ 1 mil ao preço de um quilo de erva.
Keasling conta que, em seu laboratório, já produziu, com a levedura, a droga antimalárica artemisinina, transformou resíduos vegetais em biocombustível, sintetizou sabores e aromas para a indústria de alimentos e cosméticos e produtos químicos usados na fabricação de novos materiais. Porém, ele admite que utilizar a técnica que domina para obter canabinoides foi um desafio científico mais interessante. “Quando você lê sobre casos de pacientes que têm convulsões e são ajudados pelo CBD (canabidiol), especialmente crianças, percebe que há algum valor nessas moléculas e que produzir canabinoides em leveduras pode realmente ser ótimo”, diz. // TOMADO DE CORREIO BRAZILIENSE
No hay comentarios:
Publicar un comentario