Na semana em que se comemora o Dia da Água, celebrado na
sexta-feira, o trabalho da ONU detalha as múltiplas faces da disparidade ao
acesso aos recursos hídricos
PO Paloma Oliveto
(foto: Nehil
Hamilton/CB/D.A Press 2002)
Considerado um direito humano pela Organização das Nações
Unidas (ONU), o acesso à água potável e ao saneamento básico está longe de ser
uma realidade para mais da metade da população mundial. Segundo o Relatório
Mundial da ONU sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2019, lançado hoje
em Genebra, falta água limpa e segura para 2,1 bilhões de pessoas, enquanto 4,5
bilhões carecem de serviços sanitários. Com o alerta de que a expectativa é de
que a situação se agrave, devido às mudanças climáticas, o documento,
intitulado Não deixar ninguém para trás, destaca a necessidade de políticas
públicas comprometidas a mudar essa situação.
“Os números falam por
eles mesmos. Como o relatório mostra, se a degradação do ambiente natural e a
pressão insustentável sobre os recursos hídricos globais continuarem nas taxas
atuais, 45% do Produto Interno Bruto global e 40% da produção global de grãos
estarão em risco em 2050”, disse, em comunicado de imprensa, Gilbert F.
Houngbo, presidente da ONU Água e do Fundo Internacional de Desenvolvimento
Agrícola (Fida). “Os pobres e as populações marginalizadas serão afetados
desproporcionalmente, exacerbando mais as desigualdades já crescentes. O
relatório de 2019 fornece evidências da necessidade de adaptar abordagens,
tanto nas políticas quanto na prática, e de adereçar às causas da exclusão e da
desigualdade.”
Na semana em que se comemora o Dia da Água, celebrado na
sexta-feira, o trabalho da ONU detalha as múltiplas faces da disparidade ao
acesso aos recursos hídricos. Por exemplo, em países mais pobres, as mulheres
estão em desvantagem dentro do grupo dos mais desfavorecidos — nesses locais,
geralmente cabe a elas andar quilômetros para coletar água. O relatório mostra
que, em uma escala global, metade das pessoas que toma água de fontes não
seguras vive na África. Na região subsaariana do continente, somente 24% da
população têm água potável e apenas 28% contam com saneamento não compartilhado
com outras pessoas.
Dentro das cidades, a desigualdade também está presente. “Na
África subsaariana, a maioria da população tem acesso nas cidades, mas, na
periferia urbana, não acessam nem água nem saneamento”, exemplifica Massimo
Lombardo, oficial de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil. Ele esclarece que o
relatório não traz informações destacadas por países, mas diz que alguns dos
problemas descritos, como desigualdades regionais, territoriais e
socioeconômicas associadas ao acesso à água de qualidade, também são realidade
brasileira.
Contra o tempo
Os países-membros da ONU — mais de 190 — têm relativamente
pouco tempo para ampliar a cobertura de água potável e saneamento básico. Em
2015, eles se comprometeram com a Agenda de Desenvolvimento Sustentável,
que tem como metas, entre outras, acabar com a pobreza e a fome em todos os
lugares, combater a desigualdade e proteger os recursos naturais até 2030. O
objetivo 6 diz que os signatários devem “Garantir a disponibilidade e o manejo
sustentável da água e do saneamento para todos”.
Massimo Lombardo afirma que, nos últimos quatro anos, foram
feitos alguns avanços, mas insuficientes ante o desafio que o mundo tem pela
frente. Perguntados pela ONU sobre políticas voltadas ao acesso à água e ao
saneamento, 74% dos 74 países que responderam disseram ter algum plano com
ações para levar os recursos hídricos aos mais pobres. Porém, somente 47%
monitoram o progresso (33%, no caso dos de baixa renda) e apenas 19% aplicam os
recursos previstos. De acordo com o relatório, os níveis atuais de
financiamento dos serviços estão abaixo do necessário para se alcançar as metas
de 2030. Para tanto, a ONU destaca a necessidade de se chegar, globalmente, a
US$ 114 bilhões, três vezes mais do que o investido hoje.
Mesmo os países mais ricos não lidam com os recursos
hídricos como deveriam. Por exemplo, 80% das águas residuais não são tratadas,
poluindo rios e colocando em risco a vida das pessoas. Enquanto nas zonas
industrializadas a água costuma ser contaminada por poluentes, nas áreas rurais
a maior parte da sujeira advém da atividade agrícola. “Precisamos de atitudes
responsáveis, de perceber que a água não é ilimitada”, diz Massimo Lombardo.
Embora o recado seja para governos, o oficial da Unesco ressalta que, individualmente,
também é preciso respeitar a finitude desse recurso natural. Além de adotar
medidas de economia da água, ele diz que os cidadãos devem cobrar, sempre,
ações que garantam o acesso universal aos serviços hídricos. // TOMADO DE
CORREIO BRAZILIENSE
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