Estudo da Uerj começou em março e já ouviu 1.186 brasileiros
Agência Brasil
Uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros durante o
isolamento social mostra que as pessoas que deixaram o isolamento para se
entreter, apresentaram piores níveis de adoecimento mental do que aquelas que
continuaram em quarentena. O isolamento social foi uma das medidas adotadas por
governos estaduais e municipais para conter o avanço da pandemia do novo
coronavírus.
“A pessoa que permaneceu em quarentena parece ter mais
recursos emocionais, cognitivos, para ficar confinada, em comparação com
aquelas pessoas que flexibilizaram para o entretenimento”, disse o coordenador
da pesquisa, professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O estudo começou em março e está agora na terceira fase, de
análise de dados. Os resultados da terceira fase, realizada entre os dias 20 e
25 de junho, deverão ser divulgados até o final deste mês, prevê Filgueiras.
Outro dado interessante é que pessoas que precisam sair para
trabalhar costumam adoecer mais, do ponto de vista mental, do que aquelas que
permanecem trabalhando de casa. “O advento do home office é protetivo do ponto
de vista de saúde mental, comparado com pessoas que precisam sair para
trabalhar”, apontou Filgueiras. Motoristas de ônibus, entregadores,
profissionais de saúde que estão na linha de frente, todos apresentam quadros
piores de sintomas de doenças mentais, completou.
Etapas
Participaram das duas fases anteriores do estudo, realizadas de 20 a 25 de
março e de 15 a 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 cidades de nove estados
brasileiros, que responderam a um questionário 'online' com mais de 200
perguntas. A pesquisa é coordenada pelo professor Filgueiras, do Laboratório de
Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva (LaNCE), em parceria com doutor Matthew
Stults-Kolehmainen, do Yale New Haven Hospital, dos Estados Unidos.
Nessa terceira fase, foram entrevistados 1.896 brasileiros
de 16 estados, dos quais apenas 120 participaram das etapas anteriores. Segundo
Filgueiras, não houve queda do nível de adoecimento mental em relação a abril.
Nas duas etapas anteriores, as ocorrências de ansiedade e estresse apresentaram
aumento de 80%.
Embora ainda não possa afirmar com precisão, Filgueiras
disse que “se a gente pensar que os dados de março são dados parecidos com a
prevalência na população brasileira, além de ter dobrado desse momento para
abril, provavelmente ainda teve um aumento para junho. Isso significa que nós
estamos com duas vezes, pelo menos, mais pessoas doentes mentalmente do que
comparado fora da pandemia. Isso é uma situação bem grave”.
Depressão
Alberto Filgueiras analisou que os casos de depressão, por
exemplo, podem ter consequências graves. A mais básica delas é o suicídio. “É a
ocorrência mais comum nos casos de depressão agudizada, quando ela está bem
evoluída, além de dificuldades de trabalhar, de lidar com situações da vida. A
pessoa perde a capacidade de fazer coisas básicas, como tomar banho, ela perde
energia para trabalhar, para fazer as coisas, como se a vida fosse insossa para
o deprimido”.
Os casos de ansiedade e estresse, por sua vez, podem resultar
em doenças cardíacas, coronarianas, possíveis enfartes, gastrites, problemas
estomacais, obesidade, anemia. “A alimentação fica desbalanceada. Muita coisa
pode ser causada por esses quadros de ansiedade e estresse que a gente está
observando”. Filgueiras afirmou que, muitas vezes, isso é tratado como se fosse
um problema físico quando, na verdade, se trata de um problema de ordem mental
que não está sendo detectado. “Isso é comum de acontecer”.
Os dados de março e abril revelaram que as mulheres são mais
propensas do que os homens a sofrer com estresse e ansiedade durante a
quarentena. Mas quem recorreu à psicoterapia pela internet apresentou índices
menores desses dois problemas.
Tomado de correio brasiliense
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