viernes, 27 de septiembre de 2013

4,8 °C DE AUMENTO PARA EL 2100

Gelo no Ártico pode diminuir 94% e o nível do mar subiria 82 cm até 2100
Relatório do Painel da ONU reúne previsões do aquecimento global até o fim do século, apontando aumento de temperatura de até 4,8 graus
Cláudio Motta 
Fábrica na China lança poluentes na atmosfera contribuindo para o aquecimento globalScience Photo Library
RIO - A previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) é que o aquecimento global até o final do século 21 seja “provavelmente superior” a 2 graus (com pelo menos 66% de chances disto acontecer), superando o limite considerado seguro pelos especialistas. Até 2100, o nível do mar deve aumentar perigosamente de 45 a 82 centímetros, considerando o pior cenário (ou de 26 a 55 centímetros, no melhor), e o gelo do Ártico pode diminuir até 94% durante o verão local.
Além disso, o relatório do IPCC -- publicado na manhã desta sexta-feira em Estocolmo, na Suécia, com as bases científicas mais atualizadas sobre as mudanças climáticas -- considera que há mais de 95% de certeza para afirmar que o homem causou mais da metade da elevação média da temperatura entre 1951 e 2010. Neste período, o nível dos oceanos aumentou 19 centímetros.
O documento, com o trabalho de 259 cientistas e representantes dos governos de 195 países, inclusive o Brasil, ressalta que parte das emissões de CO2 provocadas pelo homem continuará a ser absorvida pelos oceanos. Por isso, é praticamente certo (99% de probabilidade) que a acidificação dos mares vai aumentar, afetando profundamente a vida marinha.
— A mudança de temperatura da superfície do planeta deve exceder 1,5 grau, e, provavelmente, será superior a 2 graus — disse o copresidente do trabalho Thomas Stocker. — É muito provável que as ondas de calor ocorram com mais frequência e durem mais tempo. Com o aquecimento da Terra, esperamos ver regiões atualmente úmidas recebendo mais chuvas, e as áridas, menos, apesar de haver exceções.
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Os especialistas fizeram quatro projeções considerando situações diferentes de emissões de gases-estufa. Em todas, há aumento de temperatura. As mais brandas ficam entre 0,3 ºC e 1,7 ºC. Nestes casos, seria necessário diminuir muito as emissões. Já no cenário mais pessimista, o aquecimento ficaria entre 2,6 ºC e 4,8 ºC.
- Na minha opinião, o relatório é muito bom, repleto de informações e todas muito bem fundamentadas – comentou a especialista brasileira Suzana Kahn, que faz parte do grupo de pesquisadores do IPCC em Estocolmo. - No fundo, o grande ganho é a comprovação do que tem sido dito há mais tempo, com muito mais informação sobre o papel dos oceanos, das nuvens e aerossóis. Isto é muito importante para o mundo científico, pois aponta para áreas que precisam ser mais investigadas.
Suzana conta que a dificuldade de fazer projeções e análises para o Hemisfério Sul causou muita polêmica. O grande problema é a falta de dados:
- Acho que isto foi interessante para comprovar que estávamos certos ao criar o Painel Brasileiro de Mudança Climática para suprir esta lacuna.
De acordo com Carlos Rittl, Coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energias do WWF-Brasil, o relatório do IPCC deixa uma mensagem clara: o aquecimento global é incontestável. E é preciso começar agora contra os piores efeitos.
- O relatório do IPCC reafirma algumas certezas e vai além. Aponta a perda de massa de gelo, o aumento do nível dos oceanos, o incremento de chuvas onde já se chove muito, além da diminuição da umidade nas regiões mais áridas. No Brasil, o semiárido pode se tornar mais árido. Por outro lado, o Sul e Sudeste podem ter mais chuvas do que hoje - enumerou Rittl. - É importante ressaltar que o relatório fala de médias. Ou seja, em algumas regiões do país pode haver aumento de seis graus, com picos de mais de oito graus. A gente não está preparado para isso. E nossas emissões nos colocam numa trajetória de altíssimo risco, mais próxima dos piores cenários.
Para Rittl, a ciência está dando uma mensagem clara: é preciso diminuir as emissões. Isso significa levar os temas relacionados às mudanças climáticas para as decisões políticas:
- Hoje o aquecimento global ainda é um tema marginal. Os investimentos em infraestrutura, energia, o plano Safra, todos os grandes investimentos da escala de trilhões de reais não têm praticamente nenhuma vinculação com a lógica de baixo carbono. Estamos sendo pouco responsáveis.
Combustíveis fósseis
Já o Greenpeace critica os investimentos do Brasil em combustíveis fósseis, que emitem gases-estufa:
- Diante desse cenário, vemos um descompasso entre o que o Brasil precisa fazer para reduzir suas emissões e o que, de fato, está fazendo. Apesar de todas as evidências, insiste em investir altos recursos na exploração de combustíveis fósseis - reclamou Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil. - O Brasil terá o primeiro leilão para o pré-sal em menos de um mês, evidenciando sua escolha por uma atividade arriscada, insegura e suja, que pode colocar o país entre os maiores emissores do mundo.
Deixar de queimar combustível é um enorme desafio, explica o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio Luis Fernando Figueira da Silva. Citando números da Agência Internacional de Energia, ele diz que 85% da energia no planeta vêm de processos de combustão, gerando CO2.
- Quando a gente queima uma coisa, tiramos a energia do combustível de uma maneira fácil. Sabemos fazer isso há milênios. Este é um impasse de civilização - ponderou Silva. - Temos que aproveitar as fontes solar e eólica, sem dúvida, mas não podemos prescindir da combustão, sem a qual não dá para transformar metal ou fazer vidro, por exemplo. A primeira coisa é apostar em eficiência. Diminuir o consumo de combustível e das emissões. Um ganho de 28% de eficiência na indústria brasileira representaria uma economia de 13 Itaipus de energia.
Diplomacia e ciência
John Kerry, secretário de Estado dos EUA, ressalta que o relatório do IPCC não deve ser esquecido num armário, nem interpretado como uma peça política feita por políticos: “é ciência”, resume. De acordo com ele, os Estados Unidos estão "profundamente comprometidos em combater as mudanças climáticas", reduzindo emissões de gases-estufa e investindo em formas eficientes de energia.
Este é mais um chamado de atenção: aqueles que negam a ciência ou procuram desculpas para evitar a ação estão brincando com fogo – afirmou Kerry. - O resumo do relatório do IPCC é este: a mudança climática é real, está acontecendo agora, os seres humanos são a causa dessa transformação, e somente a ação dos seres humanos pode salvar o mundo de seus piores impactos.
Lançado a cada seis anos, os relatórios do IPCC estão sob críticas de especialistas. O processo de análise dos documentos por representantes do governo acaba chegando a uma situação intermediária entre diplomacia e ciência, explica Emilio La Rovere, pesquisador da Coppe/UFRJ.
— O resultado é um meio termo entre diplomacia e ciência — afirmou Rovere.
Um dos pontos mais polêmicos são os chamados hiatos, períodos de cerca de 15 anos em que a temperatura média do planeta não aumenta. Por exemplo, a Agência Estatal de Meteorologia da Espanha anunciou, nesta semana, que o último trimestre na Península Ibérica foi o menos quente desde 2008. Entretanto, o relatório de 2007 do IPCC não citou estas pausas do aquecimento, dando argumento aos céticos.
Limite do aquecimento global
As informações do IPCC são importantes para a criação de estratégias de combate às mudanças climáticas. Na Convenção do Clima da Dinamarca (COP-15, realizada em 2009), foi criada a meta de limitar o aquecimento global em 2 graus. Para isso acontecer em 2050, explica Emilio La Rovere, da Coppe/UFRJ, seria necessário cortar 80% das emissões em comparação com 1990:
— Os modelos matemáticos simulando evolução demográfica, economia mundial, demanda e oferta de energia mostram que fica realmente quase impossível atingir este objetivo.
Este é o Quinto Relatório do IPCC, que será lançado em quatro partes, entre setembro de 2013 e novembro de 2014. Nesta sexta-feira, foi publicado o documento do Grupo de Trabalho I (sobre os aspectos científicos das mudanças climáticas). Entre os dias 25 e 29 de março de 2014, será a vez do Grupo de Trabalho II (analisando os impactos, a adaptação e a vulnerabilidade), que se reunirá em Yokohama, no Japão. O Grupo de Trabalho III (especializado na mitigação dos impactos das mudanças climáticas) está previsto para os dias 7 e 11 de abril em Berlim, na Alemanha. Por fim, será criado um relatório síntese, cujos trabalhos ocorrerão entre os dias 27 e 31 de outubro, em Copenhague, na Dinamarca.
Tomado de o globo de brasil

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