Alta na
taxa de analfabetismo coloca em xeque programas do governo
Criado em
2003, o Brasil Alfabetizado já consumiu bilhões com a meta de erradicar o
problema no país
BRASÍLIA —
O programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC) — criado em
2003 com a meta de erradicar o analfabetismo — consumiu investimentos
bilionários e foi reformulado, mas continua longe de resolver o problema. Dez
anos depois de lançado, o programa já atendeu um número de alunos equivalente
ao total de jovens e adultos iletrados de uma década atrás. Afora os problemas
de aprendizagem e evasão, o Brasil Alfabetizado tropeça na falta de dados sobre
o que efetivamente foi feito. Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE apontam que a
taxa de analfabetismo ficou praticamente estável em 2012 — variou de 8,6%
em 2011 para 8,7% no ano passado —, colocando em xeque as ações do governo.
Um balanço
divulgado pelo MEC em janeiro de 2012 dizia que 13 milhões de pessoas já teriam
sido atendidas. Depois disso, mais cerca de dois milhões teriam sido
matriculadas, totalizando 15 milhões. Esse número corresponde ao total de
jovens e adultos analfabetos em 2004. Nesta sexta-feira, o MEC não informou o
total de alunos atendidos desde a criação do programa.
Em nota, o
ministério divulgou apenas o dado referente ao período de 2008 a 2012, quando
6,7 milhões de pessoas teriam frequentado o curso, ao custo de R$ 1,4 bilhão.
Ao ser lançado, o programa repassava dinheiro a organizações
não-governamentais, o que foi suspenso após a constatação de desvios de
recursos. Hoje, o MEC só fecha parcerias com governos municipais e estaduais.
Outra
dificuldade é a falta de uma avaliação nacional que mostre quem efetivamente
aprendeu a ler e escrever no programa. A avaliação fica a cargo das prefeituras
e dos governos estaduais, que informam quantos alunos frequentaram as aulas e
quantos teriam sido alfabetizados.
A
secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Macaé
Maria Evaristo dos Santos, afirmou que a taxa de analfabetismo, conforme a
Pnad, cresceu apenas na faixa da população de 40 a 59 anos, tendo caído entre
os jovens de 15 a 39 e entre os idosos com mais de 60. Ela admitiu rever pontos
do programa, embora tenha ressalvado que, primeiro, será preciso analisar a
Pnad minuciosamente:
— Com
certeza, temos que repensar. Mas a gente tem que aprofundar a análise. Quando a
gente olha esses dados, é um pouco estranho que tenha redução em todas as
faixas de idade, menos no corte de 40 a 59 anos. Precisamos entender isso —
disse Macaé.
Falta
motivação
Segundo
ela, um dos caminhos poderá ser a focalização de ações, com esforços dirigidos
à população de 40 a 59 anos. Os cursos do Brasil Alfabetizado duram de seis a
oito meses. Para o MEC, o desafio é garantir que o público atendido continue
estudando em turmas de educação de jovens e adultos, o antigo supletivo. Do
contrário, correm o risco de esquecer o que aprenderam.
O
presidente da ONG Instituto Alfa e Beto, João Batista de Oliveira, diz que o
maior obstáculo é a falta de motivação dos adultos analfabetos. Segundo ele,
essas pessoas desenvolveram estratégias para sobreviver sem saber ler:
— Não vai
fazer diferença nenhuma para elas no mercado de trabalho — disse João Batista.
O
coordenador da unidade de educação de jovens e adultos da ONG Ação Educativa,
Roberto Catelli, disse que os números da Pnad reforçam a necessidade de o
governo reavaliar o programa. Ele destacou que, além de não ter uma avaliação
efetiva dos resultados, a política pública precisa de uma integração maior com
as redes públicas de ensino:
— Só 3% dos
alunos que saem do programa de alfabetização vão para a escola. Isso é tão ruim
quanto não alfabetizar — disse o coordenador.
TOMADO DE O
GLOBO DE BRASIL
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