Brasil ataca 'hiato' do aquecimento global
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A
ESTOCOLMO
Nos últimos 15 anos, a temperatura média da Terra parou de
subir tão rápido quanto antes, mas isso não
significa que a mudança climática
esteja freando. Essa é a posição do governo brasileiro, que defenderá retirar
do mais importante documento internacional sobre clima a menção ao chamado
"hiato" do aquecimento global.
O encontro que define
o conteúdo final do quinto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudança Climática) começa hoje em Estocolmo, na Suécia, quando se reúne o Grupo
de Trabalho 1 da instituição --aquele encarregado de avaliar a ciência física
do clima.
Análise: Com IPCC na
defensiva, novo relatório ainda tem combustível para polêmica
O relatório técnico
do painel já está pronto, mas só será publicado após a edição final do "Sumário
para Formuladores de Políticas", único anexo do relatório sobre o qual
governos podem opinar antes da divulgação, marcada para a próxima sexta (27).
Em junho, um esboço final dessa parte do relatório foi enviado
a delegações para comentários. O texto, que vazou para a imprensa, incluía uma
frase com referência ao hiato: "A taxa de aquecimento ao longo dos últimos
15 anos (1998-2012; 0,05°C por década) é menor do que a tendência desde 1951
(1951-2012; 0,12°C por década)".
Explorada por
negacionistas da mudança climática, essa flexão no gráfico de temperatura é
descrita por alguns como mero ruído estatístico numa tendência clara de
aquecimento no longo prazo.
Autores do sumário
não deveriam ter incluído um recorte arbitrário de 15 anos num documento que
avalia um trajeto só visível em escala maior, defende um dos representantes do
governo brasileiro perante o IPCC.
"Alguém escolheu
para isso um determinado ano [1998] que foi um ano de El Niño e era mais quente
que o padrão", diz Gustavo Luedemann, coordenador de mudanças globais de
clima do Ministério da Ciência. "Isso é obviamente um erro metodológico e
deixa o documento um menos contundente."
Luedeman, porém,
considera a menção ao hiato apenas um equívoco pontual e diz crer que o
relatório é incisivo ao culpar a humanidade pela mudança climática.
Ainda assim,
cientistas tentam entender por que o gráfico de temperaturas se achatou.
Segundo Ed Hawkins, climatólogo da Universidade de Reading (Inglaterra) que tem
estudado o fenômeno, há vários motivos, incluindo queda de atividade solar e
erupções vulcânicas recentes, que tem efeito resfriador sobre a Terra.
"O terceiro
fator é a variabilidade natural do clima, com mudanças importantes no Pacífico
tropical", diz. "A energia extra entrando no sistema climático
provavelmente está sendo armazenada no oceano profundo."
TOMADO FOLHIA DE SAN PABLO DE BR
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