Astra ofereceu Pasadena à Petrobras um mês depois de comprar
refinaria
Belgas propuseram a Nestor Cerveró parceria na unidade em
2005
DANIELLE NOGUEIRA, NICE DE PAULA, HENRIQUE GOMES BATISTA,
RAMONA ORDOÑEZ E BRUNO ROSA )
Centro da polêmica: a refinaria Pasadena, da Petrobras,
nos EUA Agência Petrobras
RIO E BRASÍLIA - Um mês após comprar a refinaria de
Pasadena, no Texas (EUA), da americana Crown Central Petroleum Corporation, a
empresa belga Astra Oil ofereceu à Petrobras uma parceria no negócio, num
indício de que pretendia passá-lo adiante. Carta assinada pelo então
vice-presidente da Astra Oil, Alberto Feilhaber, propunha uma parceria com a
estatal na refinaria.
A carta, à qual o GLOBO teve acesso – de 23 de fevereiro de
2005 – é endereçada a Nestor Cerveró, então diretor da Área Internacional da
Petrobras. A Astra Oil comprou a refinaria de Pasadena em janeiro de 2005 por
US$ 42,5 milhões. Ela investiu outros US$ 84 milhões no empreendimento.
Na carta, Feilhaber diz que, “após cuidadosa análise do
Plano Estratégico da Petrobras para 2015 e considerando a forte e longa
presença da Astra nos mercados americanos de petróleo, acrescida da compra de
Pasadena (...), identificamos oportunidades de negócios que nossas companhias
poderiam explorar e desenvolver em base conjunta”.
O executivo sugere que a parceria poderia ajudar a Petrobras
a atingir metas definidas no plano estratégico, como expandir e diversificar a
presença da estatal no refino; adicionar valor ao petróleo pesado de Marlim
(campo da Bacia de Campos) e introduzir a Petrobras no mercado internacional de
derivados. No fim, pede para que uma reunião seja marcada com Cerveró.
Feilhaber tinha livre trânsito na Petrobras, onde trabalhou
por 12 anos (de 1983 a 1995), chegando a ocupar o cargo de chefe do
Departamento Comercial. Engenheiro pela PUC-Rio, ainda trabalha na sede da
Astra Transcor Energy nos EUA, em Huntington Beach, na Califórnia. Ontem, O
GLOBO deixou recado na caixa postal de seu telefone na sede da empresa, mas não
obteve resposta até o fechamento desta edição.
A carta de Feilhaber foi o pontapé das negociações. Segundo
documento interno da Petrobras anexado a um processo da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) que investigou a compra da Pasadena, a intenção inicial da
Petrobras era comprar 100% da refinaria. A oferta foi feita em agosto de 2005.
Mas a Astra fez uma contraproposta em setembro daquele ano, oferecendo a venda
de apenas 70% da refinaria.
“Face à dificuldade de conciliar a participação minoritária
da Astra com sua exigência de participação igualitária na governança das empresas,
ficou acordado que reduziríamos a participação da Petrobras para 50%”, diz o
documento. As empresas em questão eram a PSRI, detentora dos ativos de
Pasadena, e a PRSI Trading Company, que ainda seria criada e que deteria os
direitos de comercialização dos produtos processados na refinaria.
Em novembro de 2005, a Petrobras e a Astra assinaram o
memorando de entendimentos para a compra de Pasadena, que culminou com a
aquisição de 50% da empresa em fevereiro de 2006 por US$ 190 milhões. A
Petrobras ainda pagou outros US$ 170 milhões por parte do estoque da refinaria.
Comissão vai apurar envolvimento de executivo
Em 2008, após o desentendimento entre os sócios, a Petrobras
teve de comprar os 50% restantes, elevando o preço da aquisição a US$ 1,2
bilhão, depois de levar a discussão a uma câmara de arbitragem. Documentos
internos da Petrobras, elaborados pela área jurídica em 2008, mostram forte
descontentamento com a Astra.
O texto diz que a empresa visava “basicamente a alavancar
suas atividades comerciais, sempre voltadas para os objetivos de curto prazo”,
e que estaria distante dos valores e diretrizes da Petrobras. “Os problemas da
sociedade também ficaram evidentes no âmbito da governança corporativa, devido
aos constantes atrasos pela Astra na transferência de gestão financeira”, diz a
nota.
“No lado operacional, o foco da Astra em confiabilidade das
instalações revelou-se voltado à manutenção reativa a problemas observados,
minimizando custos de curto prazo e sem plano organizado de otimização de
resultados das instalações a médio e longo prazos”, diz o documento, lembrando
que Pasadena exibia baixo fator operacional e resultados de segurança piores
que os das refinarias da Petrobras e da média do setor nos EUA.
O envolvimento de Feilhaber é um dos assuntos que serão
avaliados pela comissão interna, criada na segunda-feira pela Petrobras. Em
entrevista ao GLOBO, Graça Foster disse não conhecer o executivo.
Analistas lembram que o projeto de internacionalização da
estatal começou nos anos 2000. David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência
Nacional do Petróleo (ANP), lembra que foi nessa época que a companhia começou
a comprar ativos no exterior, como na América Latina e África.
Cerveró é apontado como o autor do resumo executivo
apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras em 2006, que embasou a
aprovação do negócio. Ele foi exonerado do cargo que ocupava da diretoria da BR
Distribuidora na semana passada, após a presidente Dilma Rousseff, que presidia
o Conselho da Petrobras à época, ter dito que desconhecia cláusulas polêmicas
do contrato.
O relacionamento da Astra com o Brasil não se limita ao
negócio com a Petrobras. O bilionário dono da empresa, o barão Albert Frére, é
vice-presidente do conselho da francesa GDF Suez, que em 2011 se associou à
Tractebel Energia – com atuação em vários ativos do setor elétrico no país. A
GDF Suez também controla a usina de Jirau, em construção no Rio Madeira.
Em 2010, a empresa apoiou a candidatura da presidente Dilma
Rousseff com R$ 1 milhão e ofereceu R$ 550 mil ao PT. A Tractebel também apoiou
a campanha de José Serra pelo PSDB com R$ 500 mil.
* Colaborou Danilo Fariello
Tomado de o glo de br
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