Socorro financeiro ao Rio de Janeiro aumenta pressão sobre a
União
Decreto de calamidade publicado pelo governo fluminense para
forçar ajuda federal – estimada em R$ 2,9 bilhões – pode resultar em efeito
dominó entre os Estados que também enfrentam crise, como o RS Por: Juliana
Bublitz
A decisão do governo do Rio de Janeiro de decretar
calamidade pública para forçar a liberação de socorro financeiro da União
causou constrangimento no Palácio do Planalto e provocou expectativa nos demais
Estados — entre os quais Rio Grande do Sul e Minas Gerais, onde o rombo nas
contas é igualmente grave.
Se o repasse de R$ 2,9 bilhões à administração fluminense se
confirmar, o secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes, disse que o
Piratini reivindicará "igualdade de tratamento" à equipe do
presidente interino, Michel Temer (leia a entrevista abaixo).
Leia mais:
Governo do Rio decreta estado de calamidade pública devido à crise
Governo Federal deve oferecer moratória de 10 meses aos Estados
Após RJ decretar calamidade, governo do RS descarta seguir mesmo caminho
A notícia veio à tona na última sexta-feira, quando o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, tornou pública a manobra para garantir os recursos federais, sob o pretexto de evitar problemas na Olimpíada. Parte do dinheiro seria usada para finalizar a linha 4 do metrô e o restante, para quitar vencimentos atrasados de servidores públicos, reduzindo o risco de manifestações durante o evento. A crise vem se agravando desde 2015 no Rio, com parcelamentos salariais, corte de verbas para a saúde e calote em credores internacionais.
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A notícia veio à tona na última sexta-feira, quando o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, tornou pública a manobra para garantir os recursos federais, sob o pretexto de evitar problemas na Olimpíada. Parte do dinheiro seria usada para finalizar a linha 4 do metrô e o restante, para quitar vencimentos atrasados de servidores públicos, reduzindo o risco de manifestações durante o evento. A crise vem se agravando desde 2015 no Rio, com parcelamentos salariais, corte de verbas para a saúde e calote em credores internacionais.
Secretário-executivo do Programa de Parcerias de
Investimentos, Moreira Franco garantiu que o presidente interino assinará nesta
segunda-feira medida provisória liberando a verba. Detalhe: Moreira Franco é
ex-governador do Rio e tem grande influência sobre Temer. Ele só não confirmou
o valor que deve ser repassado.
Foto: Arte ZH
A publicidade dada ao ato repercutiu mal entre integrantes
da cúpula do Planalto. Há o temor de que outros governadores também decidam
decretar calamidade, desencadeando efeito dominó no país, ou que utilizem o
caso do Rio para exigir outros tipos de auxílio. Para piorar, o uso do
expediente para enfrentar a crise financeira não é unânime nem entre
especialistas.
— Esse decreto foi uma tentativa clara de constranger o
governo. Criou-se um fato para pressionar o Planalto a arcar com os gastos da
Olimpíada, e todos nós sabemos que existem muitos Estados em situação difícil —
criticou um interlocutor de Temer.
Tanto o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori,
quanto o secretário de Planejamento de Minas, Helvécio Magalhães, descartaram a
hipótese de repetir a tática de Dornelles, mas estarão nesta segunda-feira em
Brasília para discutir a renegociação da dívida com a União, junto de outros
governadores e secretários. Agora, eles terão novo argumento a seu favor.
Preocupação com a imagem internacional
Também há quem entenda, na Esplanada dos Ministérios, que o
ato extremo adotado pelo governador do Rio prejudicou a imagem dos Jogos
Olímpicos, chamando a atenção do mundo para um problema que a maioria gostaria
de esconder.
Ao jornal O Globo, Moreira Franco rebateu as críticas,
argumentando que a decisão foi necessária para evitar "um mico
internacional":
— É a imagem do Brasil que está em jogo. Seria extremamente
catastrófico se não conseguíssemos realizar a Olimpíada depois dos compromissos
assumidos.
Foto: Arte ZH * Colaborou Fábio Schaffner
ENTREVISTA
"Esperamos tratamento igual do governo
federal", diz
Giovani Feltes, secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul
Giovani Feltes, secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul
Giovani Feltes, secretário da Fazenda do Rio Grande do SulFoto:
Tadeu Vilani / Agencia RBS
A possibilidade de repetir a estratégia adotada pelo
Estado do Rio para forçar a liberação de recursos da União foi descartada no
último domingo pelo secretário da Fazenda do governo de José Ivo Sartori,
Giovani Feltes. Apesar de reconhecer que a situação gaúcha é pior do que a
fluminense, ele limitou-se a dizer que, mesmo sem decreto de calamidade, espera
¿tratamento igual¿.
O governo do RS estuda seguir o mesmo caminho do Rio para
conseguir ajuda financeira da União?
Não. Até aqui não conjecturamos a possibilidade de decretar estado de calamidade.
Não. Até aqui não conjecturamos a possibilidade de decretar estado de calamidade.
Por que não?
Não se chegou a aventar isso, embora a situação financeira do Rio Grande do Sul, do ponto de vista estrutural, seja sabidamente pior do que a dos outros Estados.
Não se chegou a aventar isso, embora a situação financeira do Rio Grande do Sul, do ponto de vista estrutural, seja sabidamente pior do que a dos outros Estados.
Se a situação é pior, por que não tirar proveito do
precedente aberto pelo Rio?
A gente acredita que os benefícios concedidos ao Rio, um dos três Estados em maior dificuldade, serão estendidos aos outros dois, que somos nós e Minas Gerais. Isso seria o mais adequado e o mais ponderado. Esperamos tratamento igual do governo federal. Se cobrir o que perdemos com a recessão desde 2015, por exemplo, já seriam mais de R$ 2 bilhões. Além disso, tem a discussão sobre a renegociação da dívida, que nos interessa muito. Esperamos avançar.
A gente acredita que os benefícios concedidos ao Rio, um dos três Estados em maior dificuldade, serão estendidos aos outros dois, que somos nós e Minas Gerais. Isso seria o mais adequado e o mais ponderado. Esperamos tratamento igual do governo federal. Se cobrir o que perdemos com a recessão desde 2015, por exemplo, já seriam mais de R$ 2 bilhões. Além disso, tem a discussão sobre a renegociação da dívida, que nos interessa muito. Esperamos avançar.
Mas se pretende pressionar a União?
Não é questão de pressionar. Vamos pedir, sim, para que isso seja observado. Queremos acreditar no equilíbrio dessas soluções, até porque ninguém desconhece a situação do Rio Grande do Sul. Assim como o Rio vai receber esse recurso, espero que alguma coisa semelhante possa acontecer aqui.
Não é questão de pressionar. Vamos pedir, sim, para que isso seja observado. Queremos acreditar no equilíbrio dessas soluções, até porque ninguém desconhece a situação do Rio Grande do Sul. Assim como o Rio vai receber esse recurso, espero que alguma coisa semelhante possa acontecer aqui.
O governo do RS estuda se juntar a Minas para exigir mais
atenção?
Viemos conversando muito. Todos sabem da nossa realidade. Vamos esperar a reunião de amanhã (nesta segunda-feira), em Brasília, para ver como as coisas vão se desenrolar.
Viemos conversando muito. Todos sabem da nossa realidade. Vamos esperar a reunião de amanhã (nesta segunda-feira), em Brasília, para ver como as coisas vão se desenrolar.
O governador José Ivo Sartori é do mesmo partido, o PMDB,
do presidente interino, Michel Temer, que ainda tenta se firmar. É por isso que
o Estado não quer aumentar a pressão?
Não, e também não me cabe fazer juízo de valor sobre o governador. Pedir, nós vamos, mas não vamos usar o fato do Rio para isso. Não é assim que trabalhamos.
Leia mais:
Finanças do RS seguem sob pressão e com mais gastos à frente
Crise financeira amplia divergência entre Palácio Piratini e Judiciário
Juízes já receberam mais R$ 500 milhões em auxílio-moradia retroativo
Não, e também não me cabe fazer juízo de valor sobre o governador. Pedir, nós vamos, mas não vamos usar o fato do Rio para isso. Não é assim que trabalhamos.
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Governadores vão se reunir antes de encontro com Temer
Em meio ao cenário de crise econômica, chefes de Executivos
estaduais devem se reunir nesta segunda-feira à tarde com o presidente interino
Michel Temer para tentar um acordo quanto à renegociação da dívida dos Estados
com a União.
Antes, pela manhã, os governadores irão tratar da pauta em
encontro na residência oficial de Águas Claras, com o governador do Distrito
Federal, Rodrigo Rollemberg.
— A renegociação é um passo importante para melhorar a
condição econômica dos Estados e contribuir para a retomada do desenvolvimento
e a criação de empregos — disse Rollemberg, em entrevista à Rádio Nacional.
O Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminares a 11
Estados — entre os quais o Rio Grande do Sul — alterando a correção do estoque
da dívida por juros simples, em vez de juros compostos.
A União alega que a mudança geraria perda de R$ 402,3
bilhões. Em abril, o STF suspendeu por 60 dias o julgamento sobre o modelo de
correção e determinou negociação entre os dois lados.
A NEGOCIAÇÃO
O que querem os Estados: além da correção por
juro simples, os governadores defendem o alongamento da dívida por 20 anos, com
a possibilidade de os Estados pedirem carência de 100% das parcelas por dois
anos, retomando o pagamento das prestações após esse prazo.
O que oferece a União: o governo federal, que
defende correção por juro composto, fez contraproposta que muda o período de
carência do pagamento das parcelas da dívida dos Estados de dois anos para um e
meio, com descontos escalonados.
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Brasil do ano olímpico é pior do que o prometido na candidatura
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COI silencia sobre declaração de calamidade
Foto: André Motta / Divulgação
Principal interessado nos Jogos de 2016, o Comitê Olímpico
Internacional (COI) silenciou diante da declaração de calamidade pública no
Estado do Rio de Janeiro. Questionada, a entidade com sede em Lausanne, na
Suíça, não deu resposta direta quanto ao que pensa sobre a situação e nem qual
a posição de seu presidente, o alemão Thomas Bach, que acaba de encerrar viagem
pelo Brasil.
Na prática, a manobra do Rio permitirá acesso rápido a
recursos federais, o que soa bem aos interesses do COI. Bach havia chegado a um
acordo para antecipar remessas de valores aos organizadores do Rio-2016 e,
assim, resgatar o evento. Mas havia colocado condição de que esse dinheiro
teria de ser acompanhado por verbas da União para as áreas estratégicas como
abastecimento de energia. Nos bastidores, sabe-se que a questão do
financiamento foi debatida desde o primeiro contato telefônico entre Bach e o
presidente interino, Michel Temer, há um mês. Oficialmente, o COI evita o
assunto.
"O prefeito do Rio (Eduardo Paes) já
disse que isso não terá efeitos sobre os Jogos", afirmou, em nota, a
direção de comunicação da entidade. Em lugar de dar posicionamento próprio, o
COI preferiu citar comentários do Comitê Rio-2016, presidido por Carlos Arthur
Nuzman e, oficialmente, independente da organização internacional: "O
Rio-2016 confirmou: isso não tem impacto na preparação e operação dos Jogos, já
que o Comitê Organizador não depende de dinheiro público".
Eduardo Paes nega relação com os jogos
Na manhã do último domingo, Paes reafirmou que os jogos não serão afetados pela calamidade
financeira. O prefeito fluminense voltou a falar no assunto na
inauguração do Túnel Prefeito Marcello Alencar, entre a zona portuária da
cidade e o início da pista sentido zona sul do Aterro do Flamengo.
— A gente vive uma situação fiscal absolutamente
confortável. As dificuldades que o Estado passa não têm nada a ver com a
Olimpíada, que permitiu fazer muita coisa no Rio. Isso aqui (túnel) não
tem um tostão de dinheiro público nem de qualquer repasse federal para o
município. Foi tudo com dinheiro privado — disse Paes, contrariando uma das
justificativas usadas pelo governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles,
para declarar calamidade.
Segundo o decreto publicado na sexta-feira, a crise nas
finanças impediria o Estado de honrar compromissos firmados na candidatura à
Olimpíada, como à conclusão da linha 4 do metrô, entre Barra da Tijuca, na Zona
Oeste, e Ipanema, na Zona Sul. A obra é um dos destinos para parte dos 2,9
bilhões que a União irá enviar ao Estado — a verba ainda será usado para pagar
salários atrasados do funcionalismo municipal.
Há duas semanas, o vice-presidente do COI, Craig Reedie,
admitiu que as obras no metrô eram "fundamentais".
— Quero saber é se o transporte vai funcionar ou não — disse
Craig, acrescentando que os brasileiros teriam dado essa garantia nas reuniões
mantidas em Lausanne no início do mês. Tomado de zero hora de rgs br
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